Dilma reafirma compromisso com o combate à violência contra a mulher

Ao participar da abertura do 1º Encontro de Mulheres Camponesas, presidenta conclama ministras a 'ficarem atentas' e diz 'querer honrar as mulheres do país'

A presidenta foi muito aplaudida por cerca de três mil mulheres camponesas (foto: Fábio Rodrigues Pozzebom / ABr)

Rio de Janeiro – A presidenta Dilma Rousseff reafirmou o compromisso de seu governo com o combate a todo tipo de violência sofrida pelas mulheres no Brasil ao participar hoje (19) em Brasília da cerimônia de abertura do 1º Encontro Nacional de Mulheres Camponesas. Aclamada por cerca de três mil pessoas presentes ao encontro, Dilma falou da importância do papel feminino para a construção do sucesso de programas sociais do governo como o Bolsa-Família, o Brasil Sem Miséria e o Minha Casa Minha Vida e presenciou a assinatura de um acordo entre a Conab e o BNDES para o lançamento de um edital de incentivo à cooperativas de mulheres camponesas.

“Quero reafirmar aqui meu compromisso de continuar fortalecendo os instrumentos de combate à violência contra a mulher brasileira”, disse a presidenta, que, em seguida, orientou as ministras Maria do Rosário (Direitos Humanos), Tereza Campello (Desenvolvimento Social) e Eleonora Menicucci (Mulheres) a ficarem “atentas para que as mulheres tenham suporte e respaldo e que tenham uma forma mais fácil de acessar a proteção que o Estado brasileiro lhes deve”.

Repetindo o slogan do encontro, Dilma disse que “na sociedade que a gente quer, basta de violência contra a mulher” e pediu a colaboração de todas: “Sabemos que acabar com a violência contra a mulher exige permanentemente que nós estejamos todas atentas para reprimir de forma dura e incansável a violência física. Exige também combater a violência da exclusão, da desigualdade, da restrição e da perda de autonomia das mulheres. E, sobretudo, exige que tanto da parte do Estado quanto da parte da sociedade nós sejamos atentas, presentes e atuantes para garantir suporte à mulher que sofre violência”.

A presidenta, que ouviu música e poesia, além de receber uma cesta com produtos agroecológicos das mãos da agricultora Tânia Freire, disse que não estaria na presidência da República se não fosse a força das mulheres: “Um dos meus compromissos é honrar as mulheres do meu país. É a forma que tenho de expressar o que eu devo a todas as mulheres do país. Estou aqui [na Presidência] não por um milagre, mas porque milhões de brasileiras, milhões de lideranças e mulheres que lutaram nesse país e se reuniram em movimentos, construíram a possibilidade de eu estar aqui. Eu estou aqui porque vocês estão aí”, disse.

Dilma também convidou as mulheres camponesas a aderirem ao edital lançado pela Conab e o BNDES: “Com este acordo nós vamos financiá-las, vamos dar dinheiro para vocês, porque com isso estaremos incentivando uma maior autonomia. Acredito que a ação associativa de uma cooperativa tem também o poder imenso de organizar a participação da mulher”, disse a presidenta. Dilma exaltou a mulher do campo: “O Brasil precisa da mulher camponesa na sua condição de cidadã e não somente na condição de produtora. Precisa da sua inteligência, força, experiência e coragem para continuar avançando na construção de uma sociedade em que a igualdade entre homens e mulheres seja regra e não exceção”.

Durante a cerimônia, que contou também com as presenças dos ministros Pepe Vargas (Desenvolvimento Agrário), Gilberto Carvalho (Secretaria Geral da Presidência) e Ideli Salvatti (Relações Institucionais), além do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, a questão da violência contra a mulher também foi tratada por Rosângela Piovesani Cordeiro, integrante da coordenação do Movimento Nacional de Mulheres Camponesas.

“Nós ajudamos a construir a Lei Maria da Penha, ajudamos em sua elaboração e a discutimos em nossos grupos de base. Agora, precisamos da implantação da Lei Maria da Penha de fato. Pela distância, pelo isolamento dos rios e das florestas, no campo é muito difícil chegar a uma delegacia. Além disso, as delegacias comuns são muito mal preparadas, não existem equipes multidisciplinares para cuidar das mulheres”, disse Rosângela.

A dirigente apontou os pontos centrais da luta das mulheres camponesas: “Somos um movimento feminista que luta pela libertação de todas as mulheres da classe trabalhadora. Defendemos o acesso à terra e um projeto de agricultura camponesa baseada nos princípios da agroecologia, para a produção de alimentos saudáveis. Nossos desafios são o machismo, o sistema patriarcal e o capitalismo, além de um modelo agrícola pautado para a agroexportação e o uso abusivo de agrotóxicos e produtos químicos que atingem a natureza”, disse, antes de acrescentar que “o uso de sementes transgênicas é um atentado à vida, à soberania do país e à sobrevivência do planeta”.

A ministra Eleonora Menicucci citou a “convergência entre o que propõe o movimento e as políticas de superação da violência que o governo vem aplicando” e citou a “autonomia econômica” e a “multiplicação das organizações econômicas de mulheres” como “compromissos” da Secretaria de Políticas para as Mulheres, que em 2013 completa dez anos de atuação, com a luta das mulheres camponesas.

Após receber de Rosângela uma carta com as principais resoluções que deverão ser ratificadas no encontro, Dilma afirmou que existem atualmente quase mil serviços de atendimento a mulheres vítimas de violência espalhadas em todo o Brasil. A presidenta disse ainda que o serviço Ligue 180, feito para receber denúncias das vítimas de agressão, já ultrapassou a marca dos três milhões de ligações recebidas: “Além disso, o INSS está acionando a Justiça para exigir que os agressores sejam responsabilizados financeiramente por seus atos de violência contra a mulher”.