Destruição à vista

Suspensão de recursos para Fundo Amazônia fragilizará sistema de proteção

Representante do ISA Adriana Ramos diz que saída da Noruega e Alemanha fragiliza ainda mais o combate ao desmatamento que, até agora, não foi previsto pelo Ministério do Meio Ambiente

Vinícius Mendonça/Ibama
Vinícius Mendonça/Ibama
Sem doações da Noruega e da Alemanha, ações de fiscalização do Ibama também ficam em xeque. Fundo era responsável por manutenção, logística e infraestrutura do órgão

São Paulo – A suspensão de repasses da Alemanha e Noruega e a forma com que o governo de Jair Bolsonaro trata o Fundo Amazônia e o tema do desmatamento sinalizam que, no futuro, o problema a ser enfrentado será ainda maior. A avaliação é da representante do Instituto Socioambiental (ISA) Adriana Ramos, em entrevista à jornalista Marilu Cabañas, na Rádio Brasil Atual. “Como a gente tem visto, por diferentes fontes, o desmatamento tende a crescer na região”, alerta Adriana.

Ao menos R$ 155 milhões da Alemanha e R$ 133 milhões da Noruega, que seriam destinados ao Fundo Amazônia, foram bloqueados. Os dois países já vinham, desde o anúncio pelo governo de mudanças no fundo, criticando as intenções de Bolsonaro e do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. “Todo o orçamento ambiental, que já é frágil, fica ainda mais frágil com a saída desses parceiros internacionais”, explica Adriana.

Há 11 anos em operação, apoiando mais de 100 projetos, o Fundo Amazônia corre risco agora de ter suas ações de fiscalização e combate ao desmatamento inviabilizadas, de acordo com a representante do ISA. A infraestrutura, logística e manutenção do Ibama ficam em xeque, assim como o apoio ao trabalho de bombeiros, policiais, projetos de comunidades locais e outras ações voltadas à preservação do Cerrado e da Mata Atlântica, que conta com o suporte de recursos da Alemanha e Noruega que, juntos, foram responsáveis pela doação de R$ 3,4 bilhões, sendo mais de 90% do país nórdico.

Em resposta às críticas de diversas organizações ambientais e dos dois países, o governo brasileiro procurou ironizar a situação e disse ainda que o MMA já dispõe de um planejamento de obtenção dos recursos, inclusive internacionais, para suprir eventual a falta de verba.

“É curioso que o Brasil tenha encontrado outros parceiros para seguir a sua política ambiental no momento em que os principais financiadores de ações ambientais no mundo inteiro sinalizam uma retirada”, aponta Adriana. “Até hoje o ministério não soube dizer qual é a sua política para o combate ao desmatamento”, contesta a representante do ISA sobre o desmonte do Ministério do Meio Ambiente.

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