recorde negativo

Para pesquisadora, ‘Brasil se coloca em situação degradante’ com liberação acelerada de agrotóxicos

Governo Bolsonaro liberou mais 63 agrotóxicos nesta semana. Ao todo, foram 325 novos registros em 2019

Arquivo EBC
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Único estado a proibir a pulverização aérea de agrotóxicos, o Ceará considerou graves problemas de saúde pública

São Paulo – O governo Bolsonaro segue em rimo acelerado na liberação de agrotóxicos. Na última terça-feira (17), mais 63 substâncias foram liberadas, entre as quais sete novas no mercado e duas proibidas na União Europeia. A facilidade de aprovação dos venenos é considerada um risco para a população brasileira e, principalmente, às crianças, segundo a professora do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP) Larissa Mies Bombardi, autora do Atlas Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia.

Neste ano, foram registrados 325 agrotóxicos no Brasil, de acordo com dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). “É um recorde histórico. Antes, a média era de 130 produtos aprovados ao ano. Só em 2019, foram mais de 300. Entre os recém aprovados, alguns possuem novas composições e podem ser mais tóxicos. É um quadro grave, um terço deles é considerado extremamente tóxico para a saúde humana”, afirma a especialista aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, na Rádio Brasil Atual.

Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia:
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A Organização Pan-Americana da Saúde estima que o uso de agrotóxicos e substâncias químicas nocivas esteja relacionado a cerca de 193 mil mortes por ano no mundo. O acefato  e a atrazina, dois dos componentes de agrotóxicos mais vendidos no Brasil, são alguns exemplos de substâncias que não podem ser usadas na Europa. O primeiro, por exemplo, já foi associado a casos de câncer, toxicidade reprodutiva para humanos e efeitos neurotóxicos,

“A doutora Silvia Regina Brandalise, coordenadora do Hospital Boldrini, referência no tratamento de câncer infantil,mostra que os casos de câncer em crianças são crescentes. Isso tem ligação com o aumento da exposição do ser humano a essas substâncias e o governo fecha os olhos para isso. Entre 2007 e 2014, nós tivemos 343 bebês com intoxicação identificada e, entre 2015 e 2017, novos dados mostram que o número tem piorado. É um grau de vulnerabilidade enorme”, alerta Larissa.

Aqui pode, mas em outros lugares, não

De acordo com um levantamento do jornal Folha de S.Paulo, dos 96 ingredientes ativos que compõem os agrotóxicos liberados no Brasil neste ano, 28 não são liberados ou registrados na União Europeia, 36 na Austrália, 30 na Índia e 18 no Canadá.

O dinotefuram, por exemplo, é usado no controle de insetos sugadores, como percevejos. Ele é considerado extremamente tóxico pela Anvisa e não tem registro na União Europeia. Da lista publicada, sete substâncias classificadas como extremamente tóxicas são princípio ativo de 15 produtos liberados. Entre eles, estão o sulfoxaflor e imazapir, um dos responsáveis pela mortandade de abelhas no Brasil e em todo o mundo.

Para Larissa, no entanto, a aceleração do ritmo de aprovações é uma forma de o governo colocar em prática tópicos do polêmico Projeto de Lei (PL) 6.299/02, o Pacote do Veneno, que ainda está em tramitação na Câmara dos Deputados. “Enquanto o mundo todo olha para a questão ambiental do Brasil, o governo vai aprovando, por meio do Executivo, o PL do Veneno. Mesmo sem ser votado, ele está sendo aplicado na prática com tantas aprovações”, criticou.

De acordo com a pesquisadora, esse crescimento se dá pela distribuição das atribuições nas pastas governamentais, que estão nas mãos de pessoas ligadas ao mercado. “O Ministério do Meio Ambiente subordinado à pauta econômica e da agricultura. O Brasil está sendo usado pela industrias transnacionais dos agrotóxicos e se colocando em situação degradante”, afirma.

Ouça à entrevista na Rádio Brasil Atual

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