A carne é fraca

JBS transporta gado de grande desmatador da Amazônia. Suspeita é de ‘triangulação de gado’

Há fortes indícios de que a JBS compra gado proveniente de área de desmatamento ilegal, que antes de ir para o abate, faz escala em fazenda “ficha limpa”

Greenpeace Brasil
Greenpeace Brasil
A abertura de pastos está entre as principais causas do desmatamento na Amazônia

São Paulo – Maior exportadora de carne do mundo, a JBS se comprometeu oficialmente a não ter desmatadores da Amazônia entre seus fornecedores. Isso foi há mais de 10 anos. Porém, há fortes evidências de que o compromisso não estaria sendo cumprido. As suspeitas foram relatadas em reportagem conjunta publicada hoje (27) pelo jornal britânico The Guardian, o Bureau of Investigative Journalism – organização criada por jornalistas do Reino Unido – e a Repórter Brasil.

Segundo os veículos, há fortes indícios de que, entre os fornecedores da JBS estejam familiares do fazendeiro Antônio Ronaldo Rodrigues da Cunha, que se autointitula “dono de um dos maiores rebanhos comerciais do Brasil, com 102 mil cabeças distribuídas em onze fazendas próprias e sete arrendadas no Mato Grosso”. A família lucra ainda com melhoramento genético e está entre as maiores vendedoras de touros do país. A JBS costuma ser patrocinadora de grandes leilões desse tipo.

Entre as propriedades está a Fazenda Estrela do Aripuanã, na cidade de Aripuanã (MT), que em 2012 foi multada em R$ 2,2 milhões pelo Ibama, por desmatamento ilegal de uma área de 1,5 mil hectares. A propriedade esteve também entre focos de incêndios florestais em 2018 e 2019, segundo imagens da Nasa.

“Ficha limpa”

Esta mesma fazenda transferiu gado para uma outra, a Fazenda Estrela do Sangue, em Brasnorte (MT). A propriedade – classificada como “ficha limpa” do ponto de vista ambiental –, é fornecedora da JBS. A questão é que essa transferência foi feita, pelo menos uma vez, pelo serviço de transporte da própria JBS.

Os repórteres encontraram claros indícios desse tipo de transação a partir de uma postagem de um motorista da JBS Transportadora em uma página no Facebook. Pelas fotos que o funcionário divulgou, caminhões com logotipo da JBS estavam diante da porteira da fazenda multada pelo Ibama. E em seu texto, o motorista dizia estar transportando gado entre as duas fazendas, citando-as nominalmente.

Com essa transferência entre propriedades, os animais criados em área desmatada poderiam ser vendidos aos abatedouros sem mostrar sua origem.

Confira a íntegra da reportagem clicando aqui.


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