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Fim do El Niño não dará trégua às mudanças climáticas, aponta agência da ONU

Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), embora nos próximos meses ocorra o fenômeno oposto, o La Niña, com o resfriamento das temperaturas do oceano, há previsão de chuvas acima do normal em diversas partes do mundo devido a alterações induzidas pelo aquecimento global

Marcelo Camargo/ABr
Marcelo Camargo/ABr
O evento El Niño de 2023 a 2024, ajudou a intensificar o aumento das temperaturas globais

São Paulo – A previsão de término da temporada do fenômeno El Niño, que intensificou o aumento das temperaturas no planeta, não significa uma pausa nas mudanças climáticas. É o que alertam os centros globais de produção e previsões de longo prazo da Organização Meteorológica Mundial (OMM), ligada à ONU. A agência divulgou comunicado nesta segunda-feira (3) apontando para um retorno do La Niña, com resfriamento das temperaturas, aumento das chuvas e impactos climáticos opostos à passagem do “menino”, principalmente nos trópicos.

Isso porque, de acordo com a OMM, esses eventos climáticos estão acontecendo no contexto das alterações climáticas induzidas pelo homem. São elas que aumentam as temperaturas globais, exacerbam condições meteorológicas e climáticas extremas e a afetam os padrões sazonais de precipitação e temperatura.

Com o El Niño, todos os meses depois de junho de 2023 foram acompanhados por recordes de aumento da temperatura. Conforme reportou a RBA, o ano passado foi o mais quente desde o início das análises meteorológicas, que datam de 1850. As ondas de calor também ocorreram mesmo com a influência “refrescante” do El Niña, em menor grau. Além disso, cientistas suspeitam que tenha sido o ano mais quente de toda história da humanidade. O que pode sugerir um marco que remonta a mais de 4 mil anos antes de Cristo, conforme dados do Serviço Copernicus de Mudanças Climáticas, agência ligada à União Europeia.

Do El Niño para La Niña

Por isso o fim do fenômeno “não significa uma pausa nas alterações climáticas a longo prazo”, adverte o secretário-geral adjunto da OMM, Ko Barrett. “O nosso planeta continuará a aquecer devido aos gases de efeito estufa que retêm o calor”, afirmou.

As previsões da agência da ONU dão 50% de chance de condições neutras ou de uma transição para La Niña durante junho e agosto de 2024. A chance de condições do fenômeno aumenta para 60% de julho a setembro e 70% durante agosto e novembro. Enquanto a ocorrência de uma nova passagem do El Niño é insignificante durante este período. La Niña, segundo a OMM, refere-se ao arrefecimento em grande escala das temperaturas da superfície oceânica no Oceano Pacífico equatorial central e oriental, juntamente com alterações na circulação atmosférica tropical, nomeadamente ventos, pressão e precipitação.

O representante da entidade adverte, porém, que as “temperaturas excepcionalmente altas da superfície do mar continuarão a desempenhar um papel importante nos próximos meses”. “Nosso clima continuará mais extremo por causa do calor e da umidade extras em nossa atmosfera. (…) As condições de La Niña geralmente seguem fortes eventos de El Niño. E isso está em linha com as previsões recentes do modelo, embora permaneça uma grande incerteza em relação à sua força ou duração”, explicou Barrett.

Aumento das chuvas no Brasil

As previsões iniciais da OMM para o La Niña indicam chuvas acima do normal no extremo Norte da América do Sul, América Central e Caribe. Além do Norte do Grande Chifre da África e Sahel, partes do Sudoeste da Ásia e Centro do Continente Marítimo. A agência da ONU destaca que as atualizações estão disponíveis para apoiar os governos, as Nações Unidas, os decisores e as partes interessadas em setores sensíveis ao clima, a mobilizar os preparativos e a proteger vidas e meios de subsistência.

Uma nota técnica do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden), vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, antecipou, em março, a possiblidade de chuvas acima da média mais ao Norte do Brasil. Apesar dos impactos desse resfriamento ser em média muito fraco por causa das consequências das emissões de gases de efeito estufa, é provável um aumento das precipitações no Amapá e entre Minas Gerais e a Bahia.

Já na região Sul, a chuva na primavera poderá ficar abaixo da média histórica. Mas ao longo do período, ainda incerto, de ocorrência do La Niña, é esperado também temperaturas inferiores aos valores médios na região Sul e em parte da região Sudeste, assim como no Amapá, em razão da maior precipitação. No próximo verão, a situação deve ser de chuvas acima da média no extremo Norte do Brasil. E queda abaixo do normal dos termômetros em partes do Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Já o leste do Nordeste pode ter temperaturas acima do habitual. O Cemaden ressalta que as previsões ainda são iniciais.

Redação: Clara Assunção com informações do jornal Folha de S. Paulo