Marcio Pochamnn

O Brasil já vinha mal. Com Bolsonaro, consequências do coronavírus serão mais graves

Antes do coronavírus, o setor produtivo no Brasil já acusava problemas. E dada a decadência a que o pais estava submetido, o pior está ainda por vir

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Bolsonaro e filhos, na estratégia de comunicação criada para iludir o Brasil

O Brasil entrou em 2020 com o rendimento médio dos seus habitantes em dólares 29,2% inferior ao do ano de 2013. Acumulam-se já sete anos de economia paralisada no fundo do poço acompanhada da degradação social, tendo um a cada quatro brasileiros procurando trabalho e desemprego aberto atingindo 1/5 dos que têm título de doutor, 1/3 dos titulares de mestrado e 1/10 daqueles de baixa escolaridade.

Além disso, a devastação ambiental avançou rapidamente com a liberação das queimadas, mineração em terras indígenas e uso generalizado de agrotóxicos. Na esfera política, a situação se agravou ainda mais com a perda de identidade das instituições e o descrédito na política.   

Após o tombo sofrido entre 2015 e 2016, que expôs contusões diversas na saúde da economia nacional, a pronta ação fisioterápica neoliberal redentora da recuperação econômica se mostrou um verdadeiro embuste.

O charlatanismo presidencial passou a operar com a crença de que fazendo menos, encolhendo o Estado e retirando direitos sociais e trabalhistas, o mais e maior seria alcançado.

De fato, não estavam totalmente equivocados, pois os 10% mais ricos, aumentaram a sua participação na renda nacional, enquanto os 90% restantes perderam.

Correndo atrás do rabo

A resposta à crise atual de múltipla dimensão vinha sendo conduzida pelos ricos através do projeto neocolonial, cuja frente de expansão no agronegócio e rentismo objetivava acumular lucros regredindo a situação geral da sociedade.

Em síntese, a gestão da crise capitalista privilegia quase que exclusivamente os interesses dos ricos, cuja solução passa pela degradação das condições de vida da maioria.

A chamada teoria de encanador, ou seja, menos Estado, mais setor privado e vice-versa, não produziu resultados, pois com o atual ritmo do PIB o país somente poderia alcançar o que já existiu em 2014, em termos de renda nacional, somente no início de 2023.

Mas isso parece agora completamente descabido.

A contar com os primeiros números do comportamento imediato da economia da China em função da pandemia do coronavírus, nota-se o efeito devastador sobre o nível de produção.

Isso porque as medidas de restrição à circulação de pessoas para tentar conter a propagação do vírus impactou a produção, emprego, renda e investimento naquele país.

Somente o setor industrial reduziu em 13,5% o nível de atividade no primeiro bimestre do ano, enquanto o investimento e as vendas no varejo também diminuíram significativamente. A taxa de desemprego cresceu mais de 21% no mesmo período de tempo.

Essa situação abalou a economia mundial, cada vez mais dependente das cadeias globais de valor. Como a China se converteu numa espécie de oficina do mundo, a trava na produção industrial comprometeu a entrega de produtos finais e insumos a todos os importadores. 

Por isso, e mesmo antes da entrada do coronavírus no Brasil, o setor produtivo no país já acusava problemas frente à interrupção parcial ou plena de produtos importados da China. Esse seria um dos efeitos negativos decorrentes do exterior no setor produtivo nacional.

Mas os mais importantes impactos negativos estão ainda por se manifestar. Eles são de natureza interna, revelando o grau da decadência nacional a que o país se encontra submetido. A desorganização geral que marca o atual aprofundamento do subdesenvolvimento pelas elites da nação, há quase duzentos anos da Independência nacional, imporá regressão generalizada.

Presumidamente, o projeto de sociedade de 1/10 em curso só para os ricos do país entrará em sua fase mais extrema. Diante da nova recessão possível, se não aparecer coordenação e planificação das respostas emergenciais e, sobretudo, após baque econômico profundo do coronavírus, ascenderá mais o engajamento proativo tanto das igrejas, especialmente as neopentecostais, como das milícias e crime organizado na gestão do desespero e no comando das multidões de miseráveis nos espaços urbanos.

A queda da receita pública e a pressão nas despesas governamentais frente ao “salve-se quem puder neoliberal”, possivelmente serão sucedidas pela defesa dos porta-vozes do dinheiro através da mídia comercial em defesa da adoção do programa definido por socialismo, socialismo dos ricos, bem entendido. Ou seja, a oferta de dinheiro público para salvar empresas e bancos, assim como inúmeras concessões ao patronato, sob o argumento de proteger os vulneráveis.

Barrar a ofensiva dos ricos em curso através do governo Bolsonaro pressupõe compreender melhor que a polarização em curso requer crescente capacidade de tornar as insatisfações individuais em saídas coletivas. O tempo, contudo, apontará as consequências da crise sanitária sobre a economia, política e sociedade brasileira.