Insanidade e escárnio

Bolsonaro tem uma capacidade única de ‘conspurcar’ o governo

Antes que os seguidores do presidente achem que é elogio: ‘conspurcar’ significa ‘manchar, sujar, deixar cair sujeira sobre…’

Marcos Corrêa/PR
Marcos Corrêa/PR
O presidente, parece, conseguiu conspurcar o conceito do termo condecoração. O que pode pôr sob suspeita todos os condecorados por ele

‘Ara, ara, ara…’ Assim, minha mãe, mineira, do sul de Minas, se expressava quando não conseguia conceber um comportamento ao seu redor. Algo que lhe parecesse inesperado nas circunstâncias, ou inexplicável.

Me pego repetindo a expressão de minha saudosa mãe, a cada dia, quase o dia todo, diante do que protagoniza o governo brasileiro, que transita entre a insanidade e o escárnio. Admira-me, por exemplo, a capacidade de conspurcar, que parece ter o presidente.

Deixe-me explicar, antes que os seguidores dele achem que é elogio: Conspurcar = “Deixar cair sujeira sobre; por nódoas em, sujar, manchar.” Essa é a primeira definição da palavra no dicionário que consultei. Há mais, mas esta basta.

No dia 28 de maio o presidente prometeu, ao vivo, vaga no STF ao senhor Augusto Aras, Procurador Geral da República (G1 28/05/2020), se aparecer uma terceira vaga; no dia 29 de maio o presidente publicou condecorações ao senhor Aras e a Abraham Weintraub, ministro da Educação, entre outros, no Diário Oficial: a Ordem do Mérito Naval.

Uma outra concessão aos seguidores do presidente… Vejamos o que significa condecorar: “Distinguir (-se) alguém com condecoração (tipo, medalha, taoquei?) pelos seus méritos ou serviços prestados”. Outra menção de dicionário — exceto o entre parêntesis.

Uma vista d’olhos nos condecorados que mencionei: sobre a escolha do Sr. Augusto Aras para a Procuradoria Geral do Estado: “O presidente Jair Bolsonaro (PSL) decidiu indicar nesta quinta-feira (5) o subprocurador geral Augusto Aras, 60, para o cargo de procurador-geral da República. (…) Após meses de negociações, Bolsonaro deixou de lado a lista tríplice divulgada em junho por eleição interna da ANPR (Associação Nacional de Procuradores da República) e escolheu um nome que correu por fora, de perfil conservador e que buscou mostrar afinidade com ideias do presidente.”(FSP 05/09/2019)

“O procurador-geral da República, Augusto Aras, se manifestou no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a apreensão do celular do presidente Jair Bolsonaro. (…) “Tratando-se de investigação em face de autoridades titulares de foro por prerrogativa de função perante o Supremo Tribunal Federal, como corolário da titularidade da ação penal pública, cabe ao Procurador-Geral da República o pedido de abertura de inquérito, bem como a indicação das diligências investigativas, sem prejuízo do acompanhamento de todo o seu trâmite por todos os cidadãos”, escreveu o PGR. (G1 – 28/05/2020)

Eis os méritos!

E os méritos do Sr. Weintraub? Sei lá… Na educação, só demérito! Talvez a opinião que ele expressou sobre os funcionários públicos que alcança os senhores e senhoras de toga… Quem sabe?

O presidente, parece, conseguiu conspurcar o conceito do termo condecoração. O que pode pôr sob suspeita todos os condecorados por ele.

Por falar em conspurcar… tem, também, a forma como o presidente, aparentemente, fala das vagas ao STF, as possíveis e as possibilitáveis… Seja lá o que isso signifique.

‘Ara, ara, ara!’