Pandemia e trabalho

Com impacto da covid-19, população ativa cai quase 9% no ano

Massa real de rendimentos também é reduzida, com estimativa de R$ 23 bilhões a menos em maio do que o verificado no início do ano

José Cruz / ABr
José Cruz / ABr
Em maio, 55,7% da população de 14 anos e mais fizeram parte da força de trabalho, ao passo que no primeiro trimestre do ano foram 61%

A pandemia de covid-19 tem impactado direta e indiretamente o mundo do trabalho no Brasil. Sob o choque provocado pela parada econômica e outras medidas governamentais adotadas a partir da primeira quinzena de março, aprofundaram-se algumas das principais trajetórias negativas já verificadas nos últimos cinco anos.

Pela análise do conjunto das informações sistematicamente produzidas pelo IBGE, como a tradicional Pnadc (amostra móvel trimestral) e a inovação experimental da Pnad Covid (amostra mensal), pode-se destacar algumas tendências nacionais em curso no interior do mundo do trabalho brasileiro. Entre o último trimestre de 2014 e o primeiro trimestre de 2020, por exemplo, a quantidade de desempregados cresceu 99,2%, saltando de 6,4 milhões para 12,8 milhões.

Ademais, a estagnação da taxa de inatividade da população, com a presença da população em idade de trabalho que participava da força de trabalho manteve-se relativamente constante, em 61%. Ao mesmo tempo, assistiu-se a leve crescimento da massa de rendimento em termos reais, entre o último trimestre de 2014 e o primeiro trimestre de 2020.

Mas em função da pandemia de covid-19, percebe-se como o mundo do trabalho tem sido afetado ainda mais negativamente no período atual. Em maio de 2020, por exemplo, a quantidade de ocupados no país foi 8,5% inferior à verificada no primeiro trimestre do ano, enquanto o rendimento médio dos trabalhadores foi 3,2% menor.

Com isso, nota-se que os efeitos negativos da pandemia no mundo do trabalho têm sido mais quantitativos, em termos ocupacionais, que qualitativos, em se tratando do nível real dos rendimentos dos ocupados. Isso porque em função das medidas de isolamento social, os trabalhadores que ficaram sem ocupação terminaram encontrando maiores restrições para manter a busca por uma nova vaga.

Assim, parcela dos brasileiros deixou de fazer parte da força de trabalho. No mês de maio de 2020, por exemplo, 55,7% da população de 14 anos e mais fizeram parte da força de trabalho, ao passo que no primeiro trimestre do ano foram 61%, o que representou a diminuição de quase 9% na taxa de participação da População Economicamente Ativa em relação à População em Idade Ativa.

Sem a elevação na taxa de inatividade dos brasileiros em 13,6%, o desemprego no mês de maio poderia alcançar 20,7 milhões de trabalhadores. O que poderia corresponder à reestimação da taxa de desemprego nacional para 20% da força de trabalho no mesmo mês. 

O impacto negativo no comportamento real na massa de rendimentos parece ser inegável. Em maio, por exemplo, a massa real de rendimentos foi quase 11% menor que a verificada no primeiro trimestre do ano, significando quantidade estimada de mais de R$23 bilhões mensais a menos do verificado no primeiro trimestre de 2020. 

Nessa perspectiva, a queda estimada na massa de rendimentos dos ocupados expressaria mais a redução na quantidade de ocupados que a diminuição real do rendimento médio motivada pela parada econômica na pandemia de covid-19. Possivelmente, com a situação pós-pandemia, diante do ambiente recessivo incrustado na economia brasileira, a recomposição no estoque dos ocupados poderá ocorrer ainda, a depender das medidas governamentais e da reação patronal, o que pode impactar negativamente o nível dos rendimentos.