Semente

Morre aos 99 anos Ana Maria Primavesi, pioneira da agroecologia no Brasil

"Sem a natureza não existimos mais, ela é a base da nossa vida. Lutar pela terra, lutar pelas plantas, lutar pela agricultura, porque se não vivermos dentro da agricultora, vamos acabar. Não tem vida que continue sem terra, sem agricultura"

https://anamariaprimavesi.com.br/
https://anamariaprimavesi.com.br/
Primavesi foi professora da Universidade Federal de Santa Maria (RS), onde contribuiu para a organização do primeiro curso de pós-graduação em agricultura orgânica

Brasil de Fato – A engenheira agrônoma Ana Maria Primavesi, referência mundial em agroecologia e pioneira no Brasil, morreu neste domingo (5) em decorrência de problemas cardíacos. O centenário da pesquisadora, nascida em 3 de outubro, seria celebrado em 2020. Ela defende a compreensão do solo como um organismo vivo e foi responsável por avanços nos estudos sobre o manejo ecológico do solo.

O velório e o enterro ocorrem a partir das 10h no Cemitério de Congonhas, no Jardim Marajoara, em São Paulo. O sepultamento será às 16h30.

Ao participar da segunda edição da Feira Nacional da Reforma Agrária, em 2017, na capital paulista, a autora defendeu a relação entre homem e meio ambiente. “Sem a natureza não existimos mais, ela é a base da nossa vida. Lutar pela terra, lutar pelas plantas, lutar pela agricultura, porque se não vivermos dentro da agricultora, vamos acabar. Não tem vida que continue sem terra, sem agricultura”, declarou enquanto autografava livros.

Trajetória

Primavesi nasceu e cresceu na Áustria, onde adquiriu os primeiros conhecimentos no tema com os pais agricultores. Perseguida pelo nazismo, ela foi presa em um campo de concentração durante a Segunda Guerra Mundial.

Nos anos 50, veio para o Brasil, onde iniciou a carreira acadêmica e a atuação militante. Nessa época, a chamada ‘Revolução Verde’ disseminava novas práticas agrícolas que levaram ao crescimento desenfreado do agronegócio nos Estados Unidos e na Europa.

No Brasil, Primavesi foi professora da Universidade Federal de Santa Maria (RS), onde contribuiu para a organização do primeiro curso de pós-graduação em agricultura orgânica.

Foi também fundadora da Associação da Agricultora Orgânica (AOO) e ao longo de sua carreira recebeu uma série de prêmios, como o One World Award, da Federação Internacional dos Movimentos da Agricultura Orgânica (Ifoam).

Em entrevista ao Brasil de Fato em 2017, Carin Primavesi Silveira, filha da escritora, falou sobre a resistência da mãe ao longo da história ao desafiar a lógica do capital na agricultura.

“Teve muita resistência. Ela foi muito atacada. Agora, o que acontece? A evidência é o que a natureza está mostrando, porque a gente não pode ser contra a natureza, nós dependemos dela. Temos que trabalhar em comunhão com a natureza”, disse à reportagem.

Obras

Entre as obras de Primavesi estão A Convenção dos Ventos – Agroecologia em contos, Manual do Solo Vivo e Manual Ecológico de Pragas e Doenças, as quais fazem parte de coleção da editora Expressão Popular.

A biografia da agrônoma, Ana Maria Primavesi – Histórias de Vida e Agroecologia, escrito pela também agrônoma Virgínia Mendonça Knabben, também foi publicado pela editora.

Em 2018, a Knabben lançou, no dia 3 de outubro, um site dedicado à autora: www.anamariaprimavesi.com.br.

Homenagens

Nas redes sociais, o deputado federal João Daniel (PT-SE) declarou: “Uma grande estudiosa, amou a natureza, cuidou da vida, estará presente sempre e merece todas as homenagens. Sempre estará presente”.

João Paulo Rodrigues, dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), lamentou a morte da escritora. “É com muita tristeza que nós, do MST, recebemos a notícia do falecimento de nossa querida Ana Maria Primavesi, nossa maior estudiosa em solos e agroecologia, a maior especialista em solos do mundo. Vai em paz e o MST continuará a defender o seu legado, cuidando da nossa terra.”


Stedile

João Pedro Stedile (Gerardo Lazzari/RBA)

Tivemos a sorte de ter aqui no Brasil a maior cientista da agroecologia de solos, que é a professora Ana Maria Primavesi, que tem 92 anos e produziu o conhecimento científico que embasa isso. Estudou profundamente a natureza do solo. Depois, tivemos de levar esse conhecimento para os agricultores e provar para eles que era possível produzir sem veneno. O terceiro campo é convencer o governo, que também é ignorante. Reflete a sociedade. Pela primeira vez, no ano passado – e teve de ser em nível da Secretaria-Geral da Presidência, porque nem o ministério da Agricultura nem o do Desenvolvimento Agrário quiseram se envolver – criamos o primeiro plano nacional de agroecologia, para fomentar o conhecimento
João Pedro Stedile, Revista do Brasil, março de 2015 (foto: Gerado Lazzari/RBA)

Leia também

Últimas notícias