Em São Paulo

Periferia e trabalhadores informais são principais vozes contra racismo e Bolsonaro

Cientista político avalia que manifestação de domingo na capital paulista marcou protagonismo de setores mais impactados pelas crises sanitária e econômica

Mídia Ninja/ Reprodução
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"Essas pessoas vão começar a perceber, e já estão percebendo, o quanto lhes afetam essa situação e esse descaso do governo federal", afirma Couto

São Paulo – A falta de medidas para garantir a sobrevivência da população, submetida a uma grave crise econômica e sob perspectiva de sérias dificuldades econômicas após a passagem da atual pandemia, traz impactos negativos também sobre a ordem social e política. A prova disso é a adesão crescente das periferias aos protestos antirracistas e contra o governo Bolsonaro. A avaliação é do cientista político Cláudio Gonçalves Couto, em entrevista a Glauco Faria, da Rádio Brasil Atual.

Couto acompanhou de perto os atos deste domingo (7), que em São Paulo foi realizado no Largo da Batata, zona oeste da cidade. Ele chama atenção para a presença dos moradores das regiões periféricas na manifestação da capital paulista. No Brasil, em que muitos não puderam exercer o direito ao isolamento social, foram eles que continuaram na rua por conta da necessidade econômica – e agora passam a dar o tom da luta política no país.

“A luta política tem uma capacidade muito maior de mobilização desses setores que são os mais economicamente afetados. E também são os mais afetados do ponto de vista sanitário. A gente tem hoje os números mostrando que, por exemplo, na Grande São Paulo, as pessoas que mais morrem (pela covid-19) estão nas periferias. Isso, consequentemente, tem efeitos também de ordem política, porque essas pessoas vão começar a perceber, e já estão percebendo, o quanto lhes afetam essa situação e esse descaso do governo federal”, explica o cientista político. 

Informais

Couto também destaca a quantidade de manifestantes que reforçavam o coro contra o racismo e o governo, levando junto a bicicleta e os baús de trabalho em meio ao ato. “Era uma coisa que realmente chamava atenção. Porque não era um ou outro, era muita gente”, conta, sobre os trabalhadores informais ligados a empresas de entrega por aplicativos. 

Matéria da Agência Pública também destacou a presença desses manifestantes em entrevista sobre o grupo “entregadores antifascistas” – como se descrevem. O movimento, que já conta com 30 trabalhadores, tem como líder o motoboy Paulo Lima. Conhecido como Galo, o entregador acabou ganhando popularidade por conta de vídeos denunciando abusos das empresas de aplicativos. Galo foi banido dos aplicativos, mas passou o recado da luta dos direitos trabalhistas e agora se engaja na mobilização pela democracia e antirracista. 

Empoderamento

“Isso é realmente um sintoma importante de uma reativação da sociedade. E de uma reativação das bases que são mais típicas na sociedade brasileira, que é o trabalhador informal, o trabalhador de baixa renda. Isso era visível, a olho nu. Não era preciso investigação para notar isso tamanha a presença dessas pessoas no meio da manifestação”, afirma o cientista político. 

Na Rádio Brasil Atual, Couto ainda adverte para a importância dos partidos e canais da política institucional estarem atentos para essas mobilizações e na conexão das demandas com a realidade das periferias. “Ainda mais em tempos de uma movimentação política negadora dos partidos”, ressalta.

Confira a entrevista


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