Faces da diversidade

Restaurante inclusivo: iniciativas pelo mundo acolhem a neurodiversidade

Confira alguns exemplos de iniciativas que empregam pessoas neurodiversas e mostram a importância da inclusão pelo trabalho

Divulgação/Alamesa
Divulgação/Alamesa
O restaurante Alamesa tem sede na cidade de Buenos Aires e conta com mais do que um menu especial. Lá, trabalham jovens neurodiversos

São Paulo – O restaurante Alamesa tem sede na cidade de Buenos Aires e conta com mais do que um menu especial. Lá, trabalham jovens neurodiversos. Trata-se de um lugar restaurante inclusivo que dá voz, dignidade e trabalho para estas pessoas. A iniciativa não é única. Crescem em diferentes países estabelecimentos semelhantes. No Brasil, por exemplo, perto de Porto Alegre, há um restaurante dedicado a esta população. Já em São Paulo, destaque para uma cafeteria comandada por uma empreendedora com síndrome de Down.

A iniciativa argentina chegou aos ouvidos do papa Francisco. Nesta semana, ele saudou a iniciativa. Ela, agora, está em uma tela, fixada na porta do restaurante para que os 40 funcionários, entre 18 e 49 anos, possam ver. “Obrigado. Esta é uma contribuição para a sociedade, uma contribuição importante, criativa de cada um de vocês. Neste trabalho, vocês também desenvolvem suas personalidades. Porque, da consistência vem a personalidade e o que dá dignidade sempre é o trabalho”, disse o sumo pontífice.

O Alamesa nasce a partir da iniciativa de Fernando Polack, médico, ex-professor da Universidade John Hopkins, nos Estados Unidos. A ideia cresceu junto de sua filha, Julia, que hoje tem 25 anos. Polack explicou ao El País Argentina que, conforme sua filha se aproximava da vida adulta, ele pensava em uma sociedade com ela. “Tem que ser um restaurante, cheio de famílias”, disse. “Pensamos em um lugar de proteção e socialização. E pensei que esse seria o ambiente de trabalho para Julia”, completou.

Socialização e solidariedade

Sensibilidade e socialização também entraram no cardápio do Espetinho do Vini, que fica na cidade de Guaíba, vizinha de Porto Alegre. Vinicius Longaray e Kelli Longaray abriram um restaurante totalmente adaptado para receber pessoas dentro do Transtorno do Espectro Autista (TEA). A inspiração também veio a partir de seu filho, Enzo Gabriel, de 5 anos.

Vinicius explica, em entrevista ao Correio Braziliense, que a ideia surgiu após um cliente pedir para ele fechar as portas do restaurante para que seu filho do TEA não fosse para a rua. “Como eu também tenho um filho autista, entendi quando ela fez esse pedido e fechei sem problema algum. No dia seguinte, a cliente fez uma publicação no Instagram elogiando a nossa atitude inclusiva. Foi nesse momento que tive a ideia de adaptar o nosso restaurante para crianças autistas”, disse.

Família e inclusão

Outro exemplo na América Latina vem da cidade de Cabo Rojo, em Porto Rico. Lá, o restaurante ‘De Mi Tierra’ também carrega o conceito de inclusão. E, mais uma vez, a inspiração vem dos filhos. Katyria Figueiroa tem um filho de 2 anos no espectro autista. “Decidi abrir um restaurante que tivesse a inclusão de autistas. Para que quando as pessoas viessem aqui, se sentissem tranquilas porque tenho empatia com elas, de que elas passam o mesmo que eu”, disse ao portal local especializado em saúde mental, Es Mental.

Existe um menu especial gratuito para que as crianças provem e decidam o que querem. Trata-se de autonomia. O local também recebe bem animais de estimação e conta com um salão amplo de jogos e um salão sensorial. “Para que todos venham, comam e se sintam tranquilas”, relata Katyria.

Empreendedorismo e inclusão

Jessica Pereira Silva tem 31 anos e um antigo sonho de abrir um restaurante. Ao alcançar seu objetivo, se tornou a primeira empreendedora formal do Brasil com síndrome de Down. “O café mudou minha vida. Ficava muito em casa, assistia muita televisão. Agora chego em casa 7h da noite, trabalho de segunda a sábado”, contou à revista Exame. Lá, além dela, trabalham outras pessoas com a mesma síndrome, como o barista Phillipe Tavares. “Ele era meu amigo e é barista aqui. E agora, meu namorado”, explica Jessica.

“É bom demais inspirar pessoas, trazer luz a assuntos que são tão importantes e permeiam nosso dia a dia – como inclusão, empoderamento feminino, diversidade, protagonismo da mulher e da pessoa com deficiência – mas que, infelizmente, ainda precisam de datas especiais para serem lembrados e debatidos. Por aqui seguimos firmes, fortes e confiantes que nosso”, comemorou o Bella Tucci Café, que ficava em Pinheiros, em São Paulo, em postagem no Instagram. Agora, inclusive, a casa está de mudança para um novo endereço no Ipiranga, também na capital paulista.

Inclusão do outro lado do mundo

Os bons exemplos também estão espalhados pelo mundo, para além da América Latina. É o caso do “Restaurante dos Pedidos Equivocados”, que fica em Tóquio. Trata-se de uma experiência gastronômica idealizada por Shiro Oguni, um diretor de televisão japonês. Lá, eles empregam pessoas com demência e buscam uma forma de conscientizar a população sobre o tema. O restaurante já ganhou diversos prêmios locais e internacionais.

“A demência é amplamente incompreendida. Pessoas acreditam que você não pode fazer nada por você mesmo e a condição geralmente significa isolamento total em relação ao restante da sociedade”, afirma Oguni em um vídeo institucional. “Ainda que o pedido venha errado, tudo no nosso menu é delicioso”, completa o empresário nipônico. Entre os prêmios, destaque para o Design Lions, do Festival Internacional de Criatividade Cannes Lions, da França.