Em meio à tragédia

Pré-candidatos de quatro cidades do RS são acusados de desviar doações de vítimas das enchentes

Ministério Público realizou nesta terça (4) mais uma operação, dessa vez em Palmares do Sul, contra um secretário municipal, um vereador e sua companheira. Eles são acusados de aproveitar os donativos em troca de votos. Nomes não foram revelados

MPRS/Divulgação
MPRS/Divulgação
A Promotoria já investiga desvios cometidos por pré-candidatos em outros três municípios do Rio Grande do Sul. Desde maio, há suspeitas em Barra do Ribeiro, Cachoeirinha e Eldorado do Sul

São Paulo – Um secretário municipal, um vereador e sua companheira, todos da cidade de Palmares do Sul, no litoral norte do Rio Grande do Sul, são investigados pelo Ministério Público Estadual por desviar doações enviadas às vítimas das enchentes que assolam o RS desde o final de abril. Nesta terça-feira (4), o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do MP, o Gaeco, deflagrou uma operação com a Polícia Civil, que apreendeu com os suspeitos donativos doados por entidades de todo o país.

A Promotoria não revelou os nomes. Um deles é pré-candidato das eleições municipais, que ocorrem em outubro. De acordo com o MP, o grupo se aproveitava dos cargos que ocupavam para desviar as doações e oferece-las em troca de voto. Os mandados de busca e apreensão estão sendo cumpridos na cidade do litoral norte gaúcho e também em Mostardas, na mesma região. A operação tem como objetivo apreender documentos e mídias eletrônicas para apurar as denúncias.

Se confirmadas, os suspeitos podem responder por apropriação indébita, peculato e associação criminosa. À imprensa, o promotor de justiça Mauro Rockenbach, responsável pela operação, afirmou não descartar a participação de mais envolvidos nesse desvio. “Isso porque são vários os relatos da população que mencionam diversos vereadores se aproveitando dessa tragédia para benefício próprio e eleitoral”, declarou.

Desvios de doações em cidades do RS

A Promotoria já investiga desvios cometidos por pré-candidatos em outros três municípios do Rio Grande do Sul. Desde maio, há suspeitas em Barra do Ribeiro, Cachoeirinha e Eldorado do Sul, no entorno de Porto Alegre. Esse último, conforme reportagem do jornal O Globo, é o segundo município que mais recebeu repasses da Defesa Civil estadual. Até o dia 26 de maio, a cidade já tinha recebido cerca de 340 mil itens para os moradores afetados.

As investigações apontam que criminosos, também pré-candidatos às eleições, desviavam as doações para beneficiar futuros eleitores. O MP não revelou as identidades. Eldorado do Sul é ainda o segundo município mais atingido pelas inundações no estado.

Em outra operação, realizada no dia 19 de maio, a Promotoria investiga uma ONG ligada a um político da região metropolitana de Porto Alegre. A organização seria, segundo apuração do portal Seguinte, mencionada pelo UOL, a ONG Vida Viva, ligada ao vereador Deoclécio Mello (PSDB). A entidade abrigou atingidos pelas inundações. A família do vereador negou irregularidades e alegou perseguição política, já que a investigação teria iniciado após denúncia anônima. A ONG alega ainda ser cadastrada junto à prefeitura local para receber e distribuir doações às vítimas das chuvas.

Balanço sobre o Rio Grande do Sul

O MPRS requereu às prefeituras gaúchas que apresentem um plano de trabalho para utilização dos recursos públicos já disponibilizados no atendimento às vítimas e na reconstrução das cidades.

De acordo com balanço da Defesa Civil, atualizado às 9h desta segunda, dos 497 municípios do Rio Grande do Sul, 476 permanecem afetados pelas inundações. O total de desalojados é superior a 575 mil e 35,1 mil estão em abrigos. Pelo menos 172 pessoas foram mortas e há ainda 44 desaparecidas. O número de feridos soma 806.

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Redação: Clara Assunção – Edição: Helder Lima