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Governo Bolsonaro é alvo de ação para salvar Cinemateca Brasileira do desmonte

Abandonada pelo governo Bolsonaro, com riscos até de incêndios, trabalhadores da Cinemateca pediram socorro. Agora, o MPF e a a cidade de São Paulo se mobilizam

reprodução/twitter/mesaemcena
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Trabalhadores realizaram greves e atos em defesa da instituição

São Paulo – A Cinemateca Brasileira, na zona sul de São Paulo, tem o maior acervo documental em audiovisual da América Latina. Nas mãos do governo Bolsonaro, a instituição passa pela maior crise de seu período recente: trabalhadores sem salários há três meses e cortes em setores como segurança e brigada contra incêndio. Nas últimas horas, o drama ganhou novos capítulos.

O acervo, que reúne 120 anos de história e identidade brasileiras, é frágil. Muito do material em rolos de filmagem contém nitrato, substância que pode entrar em combustão espontânea. Por isso, ficar sem ar-condicionado e sem brigada de incêndio pode ser fatal. A crise começou no fim do ano passado, quando o governo parou de encaminhar recursos para manutenção da entidade.

Após a mobilização dos trabalhadores, o Ministério Público Federal (MPF) e a prefeitura de São Paulo resolveram entrar na luta para recuperar e manter o espaço. O MPF entrou com uma ação contra a União pelo abandono da Cinemateca, exigindo cuidados emergenciais.

Contas em atraso

Enquanto isso, a prefeitura, por meio da Spcine, autarquia paulistana de desenvolvimento do setor audiovisual, interveio para pagar contas atrasadas. Mesmo vereadores, sensibilizados com a situação da Cinemateca, destinaram emendas parlamentares para a instituição.

As medidas incomodaram a Secretaria Especial de Cultura, agora sob comando do ex-ator Mário Frias. No governo Bolsonaro, a pasta foi transformada num anexo do Ministério do Turismo, por sua vez, comandado Marcelo Álvaro Antônio. Eles chegaram a pedir as chaves da Cinemateca, ao negar, novamente, o repasse das verbas que devem para a Fundação Roquette Pinto, mantenedora da Cinemateca.

A intenção do governo é transformar a Cinemateca em um centro difusor de ideias de extrema direita, em especial do “guru” da família Bolsonaro, Olavo de Carvalho. A ideia começou ainda em 2019, quando o então ministro da Educação, Abraham Weintraub, justificou ataques contra a instituição baseado em um suposto “esquerdismo” na cultura nacional.

MPF e Cinemateca

O MPF ajuizou hoje (16) uma ação contra o governo, buscando uma solução para o imbróglio da Cinemateca. “Desde o fim do ano passado, a instituição, localizada na capital paulista, está abandonada pelo governo federal, sem receber nenhuma ajuda financeira, depois que o contrato de gestão com a Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp) se encerrou e não foi renovado. O impasse, fruto de decisão arbitrária do Ministério da Educação, tem colocado em risco obras audiovisuais de valor incalculável”, afirma a entidade.

Na ação, o MPF pede que o contrato com a Acerp seja renovado emergencialmente por mais um ano e contando os valores retroativos desde o início de 2020. “Às vésperas de se encerrar o contrato de gestão, o MEC decidiu, de forma unilateral e sem motivo juridicamente admissível, não renovar o documento. A pasta, então ocupada por Abraham Weintraub, era à época a responsável pela contratação, uma vez que a outorga da administração da Cinemateca à Acerp, em 2018, se deu na forma de um termo aditivo de um contrato já existente entre o MEC e a associação”, completa a entidade, sobre a ação de Weintraub.

O órgão ainda reafirma os perigos do abandono a uma instituição de “valor incalculável”. “A instituição já possui quatro faturas de energia elétrica em atraso e também não tem dinheiro para arcar com os pagamentos devidos a diversas empresas terceirizadas. Por conta disso, os serviços de segurança, de brigada de incêndio e de manutenção do sistema de refrigeração já estão suspensos. A situação é preocupante já que a Cinemateca pode perder ou ver danificado todo o seu acervo caso ocorra um corte de energia ou uma falha no ar condicionado.”