Para Mantega, não há justificativa para juros cobrados por bancos privados

Ministro da Fazenda afirma que é injusto jogar “nas costas do governo”; para Sindicato dos Bancários de São Paulo, caso expõe necessidade de discutir regulamentação do setor financeiro

“Os bancos podem ter lucros, mas a partir de crédito, a partir de atividade de econômica de empréstimo e sem afligir o consumidor”, disse Mantega. (Foto:Antonio Cruz/Arquivo Agência Brasil)

São Paulo – O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou hoje (12) que a taxa de juros praticada pelos bancos privados no Brasil é descabida e criticou a tentativa de “jogar a conta nas costas do governo”. “A taxa de captação é no máximo 9,75% e emprestando a 30%, 40%, 50%, 80% ao ano, dependendo das linhas de crédito. Essa situação não se justifica. Esse spread é o maior do mundo”, reclamou Mantega.

Spread é a diferença entre a taxa de captação do recurso e aquela cobrada dos clientes na concessão de um empréstimo. Esta semana, dirigentes das maiores instituições privadas se reuniram com representantes da equipe econômica do governo para apresentar uma série de pedidos que, segundo informaram, poderiam resultar na redução da taxa de juros. A reunião foi feita após a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil, os dois bancos públicos nacionais de varejo, baixarem as taxas praticadas.

Ao abordar o assunto, Mantega lembrou que a economia brasileira tem condições sólidas neste momento, com estabilidade jurídica e leis que garantem a devolução dos recursos aos investidores. O ministro apontou ainda a baixa inflação e a boa situação fiscal, com queda na dívida pública, como condições favoráveis para a redução dos juros. “No passado, tínhamos alguma insegurança jurídica, com leis que não garantiam a devolução dos recursos. Mas hoje avançamos muito porque temos a Lei de Falências e a de Alienação Fiduciária, que garante os bens quando se faz um empréstimo”, completou.

Para a presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Juvandia Moreira, o debate sobre o spread devolve ao cenário a necessidade de realizar uma conferência nacional sobre a regulamentação do sistema financeiro. “É preciso entender que reduzir a margem dos bancos não significa reduzir necessariamente o lucro. Porque eles vão continuar ganhando, mas ao invés de ganhar somente na margem, vão ganhar em escala, com o aumento do empréstimo a taxas menores”, disse a presidenta em entrevista divulgada na página do sindicato. “O que defendemos não é o fim dos lucros das instituições bancárias, mas a permanência de margem mais razoável. Que ganhem não só as instituições, mas clientes e o Brasil com maior desenvolvimento econômico.”

Em Brasília, Mantega lamentou durante conversa com jornalistas que os bancos imponham condições à redução de taxas no momento em que acumulam recordes nos balanços financeiros. “A lucratividade dos bancos continua elevada. No ano, passado os bancos [no Brasil] ficaram entre os mais lucrativos do mundo. Acho bom isso, os bancos podem ter lucros, mas a partir de crédito, a partir de atividade de econômica de empréstimo e sem afligir o consumidor.”

O ministro criticou a posição do presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Murilo Portugal, de fazer cobranças de novas medidas do governo, como desonerações. “Se os bancos são tão lucrativos, eles têm margem sim para reduzir as taxas e aumentar o volume de crédito”, disse, acrescentando que o governo tem uma “agenda positiva” permanente para a melhoria das condições do mercado financeiro.