Estratégia golpista

Alinhados ao setor privado, bancos públicos abandonam concorrência e investimentos

Sob o governo de Michel Temer, Banco do Brasil e Caixa Econômica equiparam tarifas com as cobradas pelos bancos privados, fecham agências, demitem e cortam o crédito

Reprodução/Sindicato dos Bancários

Desinvestimento e equiparação de taxas com banca privada levam à destruição da imagem dos bancos públicos

São Paulo – Os bancários de São Paulo discutiram nesta quarta-feira (30) o papel dos bancos públicos e as mudanças que o governo Temer vem promovendo, com o alinhamento das suas políticas de crédito, tarifas e atendimento aos dos bancos privados. As consequências são sentidas tanto pelos trabalhadores e clientes, como pela sociedade como um todo, que perdem ferramenta essencial no estímulo ao desenvolvimento econômico. 

O tema foi tratado em seminário realizado pela Faculdade 28 de Agosto e pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, e contou com a participação da representante dos empregados da Caixa no Conselho de Administração da instituição, Rita Serrano, do Conselheiro de Administração Representante dos Funcionários (Caref) do Banco do Brasil, Fabiano Felix – em vídeo –, e da economista do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) Ione Amorim. 

A economista do Idec apresentou estudo que mostra que as tarifas cobradas pelos bancos públicos (Caixa Econômica, Banco do Brasil) subiram mais que a inflação, e esses aumentos foram superiores, inclusive, aos praticados pelos próprios bancos privados, o que mostra, segundo ela, um “desvio” do papel do setor público que deveria estimular a concorrência, “puxando para baixo os preços”, e não o contrário. 

O pacote convencional de serviços oferecidos pela Caixa, por exemplo, entre novembro de 2016 e outubro de 2017, saltou de R$ 25,10 para R$ 44,90, reajuste de 78,9%. Já o pacote Itaú Uniclass 3.0, que custava R$ 28,00, teve reajuste de 10,7%, passando para R$ 31,00, ficando assim mais atraente aos olhos do consumidor na comparação com o concorrente público. “Esses números mostram como houve um desvio do papel dos bancos públicos”, destaca Ione.

Ela também ressaltou que os bancos públicos também se tornaram mais “inflexíveis” na hora de renegociar as dívidas com os clientes. Segundo ela, as políticas de renegociação agora se resumem apenas ao “alongamento” dos prazos para pagamento das dívidas, como forma de “fidelizar o cliente”, com parcelas que não levam em conta os seus rendimento.

Destruição de valor

Fabiano Felix afirmou que o governo Temer promove uma política de “destruição de valores” dos bancos públicos, com fechamento de agências e demissão de trabalhadores, que impactam na qualidade do atendimento, com o intuito de enfraquecer a imagem da instituição perante a opinião pública.

Segundo ele, somente no ano passado, o Banco do Brasil fechou 670 agências e estimulou a saída de 10 mil funcionários, através de planos de demissão voluntária. Com isso, aumenta a sobrecarga dos trabalhadores remanescentes, comprometendo o atendimento oferecido. Ele diz que esse movimento é acobertado por uma “mudança conceitual” no atendimento aos clientes, que privilegia os meios eletrônicos. 

Deixar o cliente exposto na fila por várias horas para atendimento simples passa ideia de desrespeito”, exemplificou Felix. “Isso compromete a imagem e tira valor de uma marca que é extremamente respeitada pela população brasileira”. 

Desinvestimento

Rita Serrano, que também é coordenadora do Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas, destacou que, dos 56 mil postos de trabalho que foram extintos no setor bancário, desde 2012, Caixa e BB responderam por mais da metade, ou cerca de 30 mil. Mais recentemente, junto com a redução de funcionários, vieram também os cortes em investimentos. “Os bancos públicos não estão na lista de privatizações, mas estão sendo desmontados e sucateados da mesma forma.”

O programa Minha Casa Minha Vida, por exemplo, que é gerido pela Caixa, chegou a contar com orçamento de cerca de R$ 20 bilhões em 2015. Dois anos depois, foi “enxugado” para R$ 7,7 bi. Rita lembra que, além de menos casas, a redução dos investimentos do programa representa também menos emprego na construção civil.

 Ela afirmou também que o Conselho de Administração resolveu devolver ao governo cerca de R$ 3 bilhões que deveriam ser destinados à agricultura familiar, por acreditarem não ser “rentável” efetuar os empréstimos a baixas taxas. Segundo ela, do montante destinado ao crédito subsidiado, o banco emprestou apenas 10% do total.

Já o BNDES, “o maior investidor industrial” do país, segundo Rita, foi descapitalizado em R$ 100 bilhões pelo governo Temer, que destinou esse montante aos bancos privados, através do pagamento da dívida pública. Além disso, equiparou as taxas de juros cobradas pelo banco ao extinguir a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP)