Cresce em queda

FMI revisa para baixo crescimento da economia brasileira e aponta pessimismo

Ascensão econômica esperada sobre o PIB era de 2,5%, mas foi reduzida a menos da metade. "Brasil está com dificuldade estrutural e governo não toma medidas adequadas", avalia Dieese

Arquivo EBC
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Clemente Ganz Lúcio aponta que governo deveria promover políticas para criação de emprego e promoção de consumo. Cortes nos gastos públicos aprofunda recessão, avalia diretor técnico do Dieese

São Paulo – A previsão de crescimento da economia brasileira foi cortada a menos da metade pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Em relatório divulgado nesta terça-feira (23), o fundo rebaixou, pela terceira vez consecutiva, a estimativa sobre a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) em 2019. Em janeiro, o FMI previa um crescimento de 2,5%, que caiu para 2,1% em abril, e agora foi a 0,8%.

“Uma queda bastante acentuada”, avalia o diretor-técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, na Rádio Brasil Atual. Em nível global, o cenário econômico também não é positivo: a previsão de crescimento também foi rebaixa pelo fundo, mas em um patamar bem menor que o Brasil – de 3,3% para 3,2%. As projeções mais pessimistas sobre a economia brasileira se alinham às estimativas feitas por outras instituições como o Banco Central, que, em seu relatório semanal Focus, prevê a expansão de 0,82% para o PIB.

“Isso ocorre porque nós temos um travamento estrutural para o nosso crescimento, desemprego extremamente elevado, uma queda nos salários e na massa salarial, uma diminuição no poder de consumo das famílias. Há uma queda nos investimentos tanto públicos como privados, como uma diminuição nos cortes dos gastos do governo”, aponta Clemente à jornalista Marilu Cabañas.

O FMI diz, no entanto, que a expectativa se enfraqueceu diante das incertezas que pairam sobre a aprovação da “reforma” da Previdência e de outras “reformas” estruturais. “Acentuar todas essas causas em cima dessa dimensão é na verdade nos enganar”, rebate o diretor-técnico do Dieese.

De acordo com Clemente, “é evidente que a confiança é elemento fundamental”, mas o que garante uma economia pujante para recepcionar os investimentos é a capacidade de consumo. Nesse sentido, o analista diz que as medidas do governo Bolsonaro como contingenciamento de orçamentos públicos, para fazer frente à receita do país, “não são adequadas”.”O essencial é efetivamente em termos de emprego, salário, consumo, capacidade de investimento e capacidade de consumo do governo, dimensões todas essas que nós não estamos vendo operar e funcionar de forma adequada para o país sair dessa crise econômica”, afirma Clemente. Para a economia de 2020, já há também um recuo anunciado: a expectativa de crescimento passou de 2,5% para 2,4%.

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