Análise

Paulo Nogueira Batista Jr. estreia coluna na TVT com análise do declínio americano

Para o economista, que dirigiu FMI e Banco dos Brics, EUA passaram por três grandes choques em uma década. Crise de 2008, eleição de Trump e pandemia

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Paulo Nogueira Batista Jr. foi direto executivo do FMI e do vice-presidente do Banco dos Brics

São Paulo – Os Estados Unidos devem passar por um processo mais acelerado de declínio no que diz respeito a sua hegemonia na geopolítica global. Esse fenômeno já estava em andamento, com a ascensão do leste da Ásia, em especial da China. A avaliação é do economista Paulo Nogueira Batista Jr. em sua coluna de estreia no Seu Jornal. Batista Jr. foi diretor executivo no Fundo Monetário Internacional (2007-2015) e vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, o chamado Banco dos Brics (2015-2017). E terá participação semanal no telejornal da TVT toda segunda-feira.

Em sua visão, a crise do novo coronavírus é o terceiro grande choque sofrido pela economia norte-americano num intervalo de pouco mais de uma década. O primeiro foi o estouro da bolha financeira de 2008-2010, iniciado no sistema bancário dos Estados Unidos. O segundo grande choque foi a própria eleição de Donald Trump, marcando a onda de populismo de direita no país.

“Trump se elege surpreendendo a muitos. E vai caracterizar uma nova forma de atuação dos Estados Unidos, que é muito problemática para a manutenção da hegemonia americana”, diz o economista para quem os americanos foram pegos de surpresa ao ter enfrentar o atual grande choque – a pior crise econômica desde a Grande Depressão (1929) com um presidente despreparado. “É um improvisador, tendente ao negacionismo, que não preza a ciência, que vive improvisando atabalhoadamente com medo de que a forte recessão possa ameaçar seus planos de reeleição.”

Agiu rápido

Paulo Nogueira Batista Jr. observa que no primeiro momento da crise, antes de o surgimento do Sar-Covid-2 na China atingir a dimensão de uma pandemia, houve uma reação discreta de quase comemoração. Alguns setores dos Estados Unidos e do Ocidente, em sua opinião, entendiam que seria o primeiro grande choque a ser enfrentado pelo comando do presidente Xi Jinping. E que uma suposta dificuldade no enfrentamento do vírus poderia representar um freio à ascensão asiática.

“Na realidade, a China reagiu de maneira muito forte e muito organizada. E conseguiu conter o vírus com rapidez – não sem estragos para a economia e sem custos sociais importantes. Mas conseguiu agir de maneira eficaz”, constata Batista Jr. “Os chineses compõem uma sociedade planejada e uma economia planejada. Os chineses são trabalhadores muito disciplinados. Funcionam quase que como um exército em todas as áreas sociais. E a reação deles a esse desafio foi modelada nisso.”

Em contraste, quando o vírus chega à Europa e Estados Unidos o que se vê são reações confusas e atabalhoadas, bem menos convincentes do que foi a reação chinesa, compara ele. “Essa crise do coronavírus acentua o declínio do Ocidente em relação ao restante da Ásia e à China em particular. Fica cada vez mais claro para mim que essa crise acelera uma tendência que já vinha se manifestando. Teremos um mundo cava vez mais multipolar, com declínio relativo dos Estados Unidos e Europa, e o leste da Ásia, em especial a China, em ascensão.” Confira o comentário.