Economia na pandemia

Dieese: não há possibilidade de saída da crise sem investimento do Estado

Projeção de crescimento do FMI para o Brasil, em 2021, corre risco de ser ainda menor que 3,6% com a insistência da linha liberal de extrema restrição fiscal

Tomaz Silva/EBC
Tomaz Silva/EBC
Depois de recuo no PIB de 5,3%, em abril, FMI aumenta projeção de contratação da economia brasileira, e PIB cai para 9,1%

São Paulo – As previsões sobre o desempenho da economia brasileira em 2020 são “bem ruins” e vêm piorando desde o começo da crise sanitária, ocasionada pela pandemia do novo coronavírus. Essa é a avaliação do diretor técnico do Dieese, Fausto Augusto Júnior. No última quarta-feira (24), o Fundo Monetário Internacional (FMI) projetou queda de 9,1% no Produto Interno Bruto (PIB) do país para 2020. Se confirmado, este será a maior recuo em 120 anos. 

Em entrevista ao jornalista Glauco Faria, da Rádio Brasil Atual, o diretor técnico do Dieese avalia que o Brasil vem mostrando ao longo da crise uma “piora bem considerável” na economia. Até abril, o recuo projetado pelo FMI era de 5,3%, já calculado o impacto das medidas adotadas contra o coronavírus. Mas, de acordo com Fausto, o país chegou à crise sanitária com “problemas históricos”, confirmados por dados do IBGE

No primeiro trimestre deste ano, mesmo sem todos os efeitos da pandemia, o instituto mostrou 0recuo de 1,5% na economia. “Do ponto de vista da capacidade do seu crescimento, a gente vem de uma recessão já importante. Mas, com a pandemia, o que estamos vendo é uma aceleração dessa queda”, destaca Fausto.

Investimentos do Estado

O cenário é de contração também nos demais países. A entidade internacional, contudo, aponta também para uma recuperação mundial, ainda que gradual. A projeção é que, em 2021, as atividades econômicas brasileiras tenham um aumento de 3,6%. Mas o relatório do FMI apresenta previsão de elevação da dívida bruta, que deve chegar a 102,3% do PIB neste ano. 

Fausto argumenta que o crescimento do déficit público se dá em resposta à pandemia, como todos os demais países estão fazendo para contê-la. E contesta os chamados “defensores da austeridade fiscal”, que usam do tamanho da dívida para evitar aumento de gastos públicos

“O enfrentamento da pandemia tem mostrado que algumas matrizes, em especial vinculadas ao pensamento liberal, ou seja, da extrema restrição fiscal como uma forma de construir o processo de crescimento e de melhoria da renda das pessoas, não tem se mostrado eficiente. Uma das grandes discussões que nós temos que fazer a partir de agora é sobre como vamos começar uma retomada de crescimento no país e no mundo e quais serão as bases desse crescimento”, explica. 

“Há diferentes visões de escolas econômicas. Mas a gente sabe que a que predomina aqui no Brasil é uma visão fiscal. Muito provavelmente vão querer vender boa parte do patrimônio do Estado e reduzir gastos, o que pode jogar essa previsão de crescimento do FMI para o Brasil a números muito menores. Não há possibilidade da gente sair de uma crise tão grande sem de fato um investimento muito forte do Estado”, finaliza o diretor técnico do Dieese.

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