Mirando 2022

Obcecado pela reeleição, planos de Bolsonaro descartam Paulo Guedes do governo

O presidente foi eleito com a lógica do desmonte do Estado. Mas, para se reeleger, precisa de politicas públicas, tarefa para a qual o ministro não serve

Wilson Dias/Agência Brasil
Wilson Dias/Agência Brasil
A lógica de Guedes é a da demolição e do desmonte do Estado e das instituições

São Paulo – O ministro Paulo Guedes parece estar com os dias contados no governo de Jair Bolsonaro.  Na terça-feira (25), no lançamento do programa Casa Verde e Amarela, considerado “fake” pela ex-ministra do Planejamento Miriam Belchior, o chefe da Economia nem sequer apareceu. No dia seguinte, levou um puxão de orelha do presidente, que recusou discutir o texto da equipe econômica sobre o “Renda Brasil”, com que o Executivo pretende substituir o Bolsa Família.

Já nesta quinta (27), Guedes saiu-se com uma frase em tom de brincadeira.  “Há um complô para me derrubar em Brasília”, disse. O cenário mostra que o “superministro” incensado pelo mercado aparentemente já não serve aos propósitos do presidente diante de uma realidade imprevista: a pandemia de coronavírus.

“Bolsonaro foi eleito com a lógica da demolição e do desmonte do Estado  e das instituições. A pandemia obrigou a que ele tivesse de ter uma postura propositiva, diante da crise econômica e social. Houve uma mudança de paradigma nesse processo”, diz Antônio Augusto de Queiroz, o Toninho, analista político do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).

Nesse contexto, o presidente necessariamente precisa apresentar políticas públicas, tarefa para a qual o “Chicago boy” Guedes, visceralmente ligado ao mercado financeiro, não está preparado para fazer. E, para se reeleger, Bolsonaro precisa do Estado.

Lógica da destruição

“Para o ministro, entregar tudo ao mercado resolve. Ele não demonstra sensibilidade para atender as demandas novas. Por isso, a continuidade dele parece incompatível com o novo cenário. A lógica dele é destruir”, observa Queiroz.

Bolsonaro também parece ter tomado gosto pela popularidade que, ironicamente, o auxílio emergencial lhe rendeu. Guedes e Bolsonaro – que atravessa a pandemia zombando da ciência e dos mortos –  eram contra o benefício num primeiro momento. Depois, aceitaram 200 reais e, por fim, com a pressão da oposição e mesmo de deputados do Centrão, acabou cedendo aos 600 reais.

Mas o presidente capitalizou o benefício e sua popularidade aumentou graças a ele. Ao negar a proposta de Guedes para o Renda Brasil, Bolsonaro deixou claro que, a partir de agora, o governo deve caminhar para um caminho que não é o do ministro da Economia, entusiasta do teto de gastos e demonizador do Estado.

Para Toninho, a oposição parece estar subestimando a capacidade de o mandatário se reeleger. “A pandemia trouxe uma agenda a ele, a aí é um governo que vai competir nas mesmas bases que os governos anteriores competiam”, diz. Agora, para seguir nesse caminho, tem de incorporar o investimento e maior participação do Estado. Não se sabe que consequências terá para Bolsonaro a reação do mercado diante desse quadro.

Centralização absoluta

O “excesso estrutural” do Ministério da Economia, em torno do qual tudo é articulado – das políticas educacionais às decisões do Banco Central – também não é mais útil ao governo. “Parece inevitável que Guedes caia e, após a queda, haja um desmembramento dessa superestrutura. Qualquer governo, como os de Lula ou Fernando Henrique, tem vetores internos que disputam entre si, e o presidente arbitra as várias visões. Neste governo, só tem a visão do Guedes, está tudo centralizado na figura dele.”

Para a deputada federal Erika Kokay (PT-DF), o que protege Bolsonaro de um processo de impeachment é o apoio que ele ainda tem – entre setores empresarias, o que inclui a mídia tradicional – graças à sua agenda voltada ao mercado, representada por Paulo Guedes.

“O governo vive uma contradição interna, já que o mercado o apoia porque o vê como serviçal de uma agenda contra o povo, e essa agenda tem em Paulo Guedes seu grande articulador”, observa a deputada.

Edição: Fábio M. Michel


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