em meio ao caos

Descontrole da covid-19 faz professores sentirem medo de retornar às salas de aula

Estudo da UFMG, que ouviu 15.654 profissionais mostra que 69% estão inseguros com o retorno para as salas em meio ao descontrole da pandemia de covid-19

MCTIC/Divulgação
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95% das crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos de todo o país acessam a internet, o que corresponde a mais de 25,1 milhões de pessoas nessa faixa etária

São Paulo – Os professores do ensino público no Brasil estão inseguros, angustiados e com medo. Essa é a conclusão de estudo divulgado na semana passada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Entre as principais queixas dos profissionais, está o medo do retorno para as salas de aula em meio ao descontrole da pandemia de covid-19.

O estudo, intitulado Trabalho Docente em Tempos de Pandemia, recebeu relatos de 15.654 professores das redes municipais, estaduais e federal. A coordenação foi da professora Dalila Andrade Oliveira, do Grupo de Estudos sobre Política Educacional e Trabalho Docente (Gestrado), em parceria com a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE).

Entre os profissionais que responderam à pesquisa aberta pela internet em todo o país, 78% são mulheres. Do total de professores, 82% estão atualmente trabalhando em suas casas, o chamado home office. Este modelo de trabalho, sem um preparo adequado, também foi alvo de queixas da categoria, que teme, especialmente, a perda de direitos.

Os dados

O principal medo dos trabalhadores, relatado pelo estudo, é o de voltar para as salas de aula, como programam diversos governadores e prefeitos, mesmo com a pandemia fazendo mais de mil mortos por dia há mais de um mês. No total, 69% dos professores disseram estar inseguros para este retorno.

A angústia em relação ao futuro de forma geral está presente em 50% dos profissionais; o temor pela perda de direitos, por sua vez, foi citado por 44% dos entrevistados.

A ampla maioria dos profissionais (89%) entrou na quarentena e passou a trabalhar em casa sem possuir qualquer experiência de ensino à distância, revela o estudo. A falta de preparo dos gestores da educação também é marcante: 41,8% dos entrevistados alegaram não ter recebido qualquer treinamento para o trabalho remoto; 21% teve contato com tutoriais on-line para utilização de ferramentas; 5,1% tiveram treinamento nas escolas; 25,4% receberam treinamento das secretarias estaduais; e 6,8% obtiveram formação na área através de outras instituições.

Os alunos

Além dos 82%, que estão realizando atividades a partir de suas casas, 3% seguem trabalhando nas escolas, 8% tiveram todas as suas atividades suspensas e não mantêm nenhum contato com os alunos. E 7% tiveram as atividades suspensas mas seguem interagindo com suas classes.

O panorama sobre os estudantes também é preocupante. Para 38% dos professores, a participação dos alunos nas aulas virtuais diminuiu drasticamente. Já para quase metade, 46%, a participação diminuiu um pouco. Outros 12% alegam que se manteve igual. E 4% declararam aumento na participação.

Entre os motivos para a menor participação dos estudantes está, em primeiro lugar, a falta de acesso à internet e demais recursos necessários para as aulas, 80%. Em seguida, vem a falta de condições da família em apoiar as atividades: 74%. Já 53% alegaram que os estudantes não estão motivados com o modelo. E 38% disseram que os estudantes não sabem usar os recursos.

Os resultados apresentados ainda são preliminares. Mais dados serão divulgados pelos pesquisadores no próximo dia 28.