REDES SOCIAIS

‘História no Paint’ mostra que memes podem ser ferramenta na aprendizagem

Com linguagem simples, página aborda temas históricos que vão desde a Era Vargas até a Guerra Fria

REPRODUÇÃO
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Criada em 2016, conteúdo da página chegou às salas de aula e tornou-se referência para professores e até pesquisadores sobre comunicação e metodologia didática

São Paulo – A internet e os memes possibilitaram novas maneiras de comunicação e linguagem. Diante desse cenário, a página História no Paint, possibilita uma maior compreensão sobre períodos e acontecimentos históricos como a Revolução Constitucionalista de 1932, passando pela Era Vergas ou mesmo a Guerra Fria.

O trabalho é realizado pelo estudante de Licenciatura em História Leandro Marin. Ele explica que, ao se deparar com uma prática de ensino mais informal durante o pré-vestibular, encontrou um tipo de abordagem que poderia ser melhor explorado nas redes sociais.

Atualmente, o História no Paint conta 1,3 milhão de seguidores, somando Facebook, Twitter e Instagram. Criada em 2016, a página se tornou referência para professores e até pesquisadores sobre comunicação e metodologia didática.

“Os memes são consumidos por jovens, então misturar essa linguagem com as matérias escolares mostra que o ensino não precisa ser todo formal. Tenho relatos de professores que usaram meu material nas salas de aula e se aproximaram da turma, criando uma interação melhor com o aluno”, relata Marin à RBA.

Ensino ‘descomplicado’

Por meio de memes com linguagens simples, o História no Paint busca explicar, por exemplo, a relação entre o “milagre econômico” e a inflação, durante a ditadura civil-militar no Brasil. Em outra imagem, mostra como o ex-ministro do Reino Unido Winston Churchill foi um dos responsáveis pela Grande Fome de 1943, em Bengala, região administrada pelo Império Britânico, que resultou na morte de aproximadamente 3,5 milhões de pessoas.

O criador da página acredita que, apesar da linguagem mais simples do meme, é possível expandir o conteúdo que ele carrega, despertando o interesse sobre os mais diversos temas.

“Numa sociedade em que se disputa a atenção dos jovens, contra YouTube e jogos, é uma forma de fisgá-lo. Esse material pode fazer o estudante se inteirar melhor com a matéria porque quebra a barreira entre a sociedade e o conhecimento acadêmico, o que sempre pareceu algo difícil. Facilitar a linguagem da academia possibilita que todos absorvam melhor as ideias”, defende Leandro Marin.

Essa interação da página com os seguidores, que buscam tirar dúvidas e ter mais informações sobre o assunto, motivou o estudante a criar um podcast, recebendo especialistas nas áreas das ciências humanas. A ideia é complementar as mensagens dos memes.

“Se faço uma imagem sobre Getúlio Vargas e as pessoas se interessam mais sobre, o podcast virou um meio para entenderem melhor o assunto. Não dá para falar sobre o tema todo em um meme, então o podcast virou um complemento”, explica. Hoje, o História no Cast é o mais ouvido na plataforma de streaming Spotify.

História no Paint explica momentos da história do Brasil, desde a ditadura até a Era Vargas (Crédito: Reprodução)

Memes didáticos

Nas redes sociais, o meme se tornou popular no século 21, com imagens ou vídeos humorados que alcançam grande repercussão. No entanto, o termo foi concebido pelo etólogo Richard Dawkins, em 1976, na obra O gene egoísta, que, ao teorizar sobre evoluções culturais e genéticas, criou o vocábulo para designar a unidade de cultura que se propagava de uma mente para outra.

Um artigo publicado pela professora Maria Alice de Souza, mestre em Educação e Formação Humana, defende o uso de memes como uma experiência interdisciplinar, capaz de considerar e incorporar as vivências juvenis.

Ao fazer um trabalho em conjunto com seus alunos, a docente afirma foi possível constatar na prática as teorias que compreendem o meme de internet como um artefato cultural.

“Hoje se reconhece que é necessário repensar o ensino, uma vez que ele não tem atendido os anseios das novas gerações. Nesse contexto, não se pode pensar que um gênero seja inferior a outro: uma conferência é tão importante quanto um meme, uma vez que atribuem sentidos distintos a situações diferentes”, explicou Maria Alice, no artigo.

Potência instigadora

Assim como a professora, Leandro também acredita que os memes podem ser uma forma de conexão entre professor e aluno. Na avaliação do estudante, é um prejuízo pedagógico ignorar a potência instigadora que uma comunicação mais informal pode levar à sala de aula.

“Existe uma limitação na linguagem do meme, mas é um recurso que precisa ser aproveitado, porque é possível fazer um trabalho coerente. Ele pode ser um suporte pedagógico para explicar matéria, como sempre fizeram com charges ou filmes”, defende.

Ao conseguir “fisgar” por meio do humor, ele também tenta ajudar na preparação de alunos para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), marcado para janeiro de 2021. Recentemente, a página colocou no ar outro podcast, o História No Enem, com o objetivo de revisar algumas disciplinas. “A gente fala sobre algum assunto, por meia hora, de maneira resumida mesmo, com uma linguagem até para quem não gosta de história”, acrescenta.


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