Planeta doente

Ainda longe do pico, coronavírus já infectou quase 2 milhões de pessoas no mundo

Enquanto Estados Unidos concentram o maior número de infectados e óbitos e países europeus têm queda nas mortes, OMS alerta que crise ainda “vai levar tempo”

Fernando Frazão/EBC
Fernando Frazão/EBC
OMS destaca que, mesmo nos países onde a doença apresenta queda, medidas diferentes do isolamento precisam ser adotadas com cautela e plano

São Paulo – O número de infectados pelo novo coronavírus no mundo chegou a quase 2 milhões nesta segunda-feira (13), com 119 mil mortos, de acordo com a Universidade Johns Hopkins, referência mundial para o acompanhamento da doença em escala global. Divulgado ontem, os dados compilados apontam que a situação é mais grave nos Estados Unidos, responsável por mais de um quarto das notificações, com 682 mil casos e 23 mil óbitos, confirmando tendência apontada pela instituição já no início do mês, de que o país seria o de maior concentração da covid-19. 

Após a constatação, o presidente Donald Trump chegou a reconhecer que as semanas seguintes seriam “mais difíceis”, o que vem sendo acompanhado por medidas de distanciamento social principalmente nos estados de Nova York e Nova Jersey – que registram as taxas mais altas de infecção com 195 mil e 68 mil casos, respectivamente. 

Nos países da Europa, o estudo aponta para um movimento de queda no registro de óbitos. Ao todo, são cerca de 20 mil mortes na Itália, 17 mil na Espanha, 14 mil na França e 11 mil no Reino Unido. Mas o que em tese poderia sugerir um panorama mais próximo do “pico da doença”, com moderados sinais de redução, na verdade revela que a crise “vai levar tempo”, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). 

De acordo com informações do colunista e correspondente na Europa para o portal UOL, Jamil Chade, a agência alertou nesta terça (14) que “não estamos no pico ainda” da pandemia mesmo com sinais dos países europeus e a queda no número de casos na China. A OMS ainda destacou que qualquer medida divergente do isolamento e da quarentena deve ser adotada pelos governos com cautela e planejamento. 

Cumprimento do isolamento

A recomendação vale também para o governo chinês, cuja preocupação atualmente é com o risco de aumento nos casos “importados”. Foram 108 registrados nesta segunda, o maior número em quase seis semanas, indica reportagem do O Globo

O alerta de prudência do órgão internacional para a flexibilização das medidas de distanciamento não é à toa. No domingo (12), por exemplo, o governo iraniano suspendeu a proibição de viajar entre cidades dentro da mesma província, que em princípio deveria valer até o dia 20 de abril. Nas 24 horas seguintes até esta segunda, o país registrou um aumento de 111 mortos pela covid-10, totalizando 4.585 óbitos.  

Com mais de 70 mil casos confirmados, o Irã é o país do Oriente Médio mais atingido pela disseminação do coronavírus. 

A subnotificação no Brasil

O receio da OMS também está nos locais onde o número de casos registra ascensão, como o Brasil, que no balanço do Ministério da Saúde desta segunda marcava 23.430 casos confirmados e 1.328 mortes. É a 14ª nação mais afetada, segundo atualização da Johns Hopkins. Mas estudo de pesquisadores de universidades brasileiras aponta que o país pode estar atrás somente dos Estados Unidos, com o número real de casos já superando a marca de 313 mil pessoas. 

A estimativa leva em conta o baixo número de testes aplicados – são 296 por milhão de habitantes, enquanto os Estados Unidos testam 8.866 pessoas por milhão.  Os casos também crescem em outros países da América Latina, como no Equador, que desde que a presença do vírus foi declarada, em 29 de fevereiro, registrou oficialmente cerca de 7.500 casos, com 333 mortes. 

América Latina

O aumento de infectados e mortos pelo coronavírus levou o sistema de saúde e funerário equatoriano ao colapso. Sem o reconhecimento da doença e de um local para enterrá-los, centenas de corpos são encontrados em casas, quando não abandonados nas ruas. O governo equatoriano criou um força tarefa há três semanas para recolher as pessoas mortas. De acordo com o Exército do país, mais de 700 corpos foram encontrados. 

As autoridades também acompanham o panorama da doença na Venezuela, que, de acordo com as agências internacionais de notícias, registra 165 casos de infecção e três óbitos. Sob embargo dos Estados Unidos, a fome tem castigado mais a região do que a pandemia. O Grupo de Puebla – aliança progressista que reúne lideranças políticas e sociais da América Latina – tem pressionado o governo Trump pela retirada das sanções.  Enquanto isso, China e Cuba se mobilizam para ajudar o país.

Por usa vez, o governo cubano, que mantém ajuda médica a outras 19 nações, denunciou que Washington tem se empenhado em limitar a capacidade da Venezuela de enfrentamento à pandemia, impedindo a compra de medicamentos e respiradores. Ao todo, a ilha contabiliza 726 casos e 21 mortes. 

No final de março, o presidente cubano, Miguel Díaz-Canel Bermúdez, defendeu as medidas de isolamento social, que segundo ele, estão dando resultados. A Argentina, que desde o início da covid-19 adotou medidas a quarentena, tem sido vista como exemplo no combate à doença também, registrando 2.208 casos e 97 mortes.

Pedidos para sair do Brasil 

Uma pesquisa publicada pelo jornal argentino Página 12, indica que o país está mais perto de controlar a pandemia, a exemplo da China, do que o Brasil, ainda distante de conquistar o mesmo objetivo. 

A preocupação com o avanço da doença levou as embaixadas da Alemanha e Itália pedissem aos seus cidadãos que deixassem o território brasileiro. O Reino Unido atualizou suas recomendações de viagem, também indicando o retorno aos cidadãos britânicos. 

No dia 24 de março, o serviço consular dos Estados Unidos divulgou o mesmo alerta aos cidadãos, pedindo a imediata saída do Brasil em função do coronavírus. O anúncio foi feito logo após o pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro, que apesar da emergência sanitária segue desdenhando da pandemia.


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