Tragédia no Líbano

Mortos por explosão em Beirute já chegam a 137

Ainda não existem informações concretas sobre as causas da tragédia, mas indícios apontam para estoque de nitrato de amônio. Presidente do Instituto de Cultura Árabe avalia que não é possível descartar que explosões tenham ocorrido por ato ilícito

Reprodução/TT/Al Jazeera
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O cenário é tão complexo que é difícil dizer se foi um acidente um incidente natural. Ou um ato cometido de uma forma ilícita e criminosa", avalia Habib

São Paulo – O nitrato de amônio, material utilizado em explosivos e fertilizantes empregados na agricultura, pode ser o responsável pelas explosões que devastaram nesta terça-feira (4) a região portuária de Beirute, no Líbano. Já são 137 mortos, de acordo com balanço desta quinta-feira(6) do porta-voz do Ministério da Saúde do país. Outras dezenas de pessoas continuam desaparecidas, e mais de 5 mil estão feridas.

Ainda não existem informações concretas sobre a causa das duas explosões. De acordo com o governador de Beirute, Marwan Abboud, elas teriam ocorrido logo após um incêndio em um depósito no porto que armazenava uma grande quantidade de nitrato de amônio. Uma equipe de bombeiros foi chamada até o local para controlar o fogo. E logo depois houve uma primeira explosão, mais fraca, seguida de uma segunda forte.

Segundo o diretor-geral da Segurança Geral Abbas Ibrahim, a hipótese principal é de que as explosões estejam mesmo relacionadas aos materiais de potencial explosivo, que estariam guardados no armazém por seis anos e sem a segurança necessária.

Ontem, as autoridades libanesas anunciaram que funcionários responsáveis pelo porto irão cumprir prisão domiciliar até que as suspeitas sejam comprovadas. O mesmo material teria sido responsável por tragédias semelhantes na Alemanha e nos Estados Unidos. 

A geopolítica e as explosões

Presidente do Instituto de Cultura Árabe, Mohamed Habib confirma que os sais de nitrato podem ser inflamáveis dependendo das condições físicas em que são armazenados. Mas em entrevista à Marilu Cabañas, no Jornal Brasil Atual, o professor titular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) também pondera que outras hipóteses não podem ser descartadas pelas autoridades. 

Especialista na área de Ciências Ambientais e ex-coordenador de Relações Internacionais da Unicamp, Habib explica que é “difícil na realidade atual do Oriente Médio e do Líbano tentar imaginar ou estimar suspeitos. O cenário é tão complexo que é difícil dizer se foi um acidente um incidente natural. Ou um ato cometido de uma forma ilícita e criminosa”, observa. 

Pelo estrago da explosão que deixou milhares de desabrigados e foi sentida por toda a cidade expandida, o professor levanta desconfianças quanto ao risco de atentado como os cometidos contra países vizinhos, como Irã. O país vem de uma série de protestos desde o ano passado. Há uma grande insatisfação social com a classe política, com um cenário de elevado desemprego, inflação descontrolada e desvalorização da moeda.

Habid lembra também dos conflitos externos do Líbano com Israel. As autoridades israelenses rapidamente se manifestaram para declarar que não promoveram nenhum ataque, se solidarizando com o povo libanês. A rápida defesa não foi à toa. Em suas redes sociais, o professor de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Reginaldo Nasser, ressalta que, em 2006, Israel foi o responsável por cercar Beirute e lançar uma chuva de bombas que, igualmente, devastaram a capital libanesa.

Povo que se reergue

Nesta sexta também seria anunciada a sentença sobre o assassinato do primeiro-ministro libânes Rafik Hariri, morto há 15 anos em uma explosão no porto de Beirute. O julgamento foi adiado para o próximo dia 28.”Se tem alguma relação com isso ou não, nós não sabemos. O que há são vários componentes, sejam internos de distúrbio, ou externos. Até a própria reeleição de Donald Trump que também pode se beneficiar de um distúrbio dessa natureza. Tudo é possível na conjuntura atual”, afirma. 

Quaisquer que sejam as causas, o sofrimento e a dor do povo libanês continuam enormes, garante Habib. E também para a comunidade libanesa que vive no Brasil e entre os refugiados sírios e palestinos. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), 928 mil expatriados vivem no Líbano, o equivalente a 13,6% da população.

“O mundo me parece que ficou menor e o sofrimento me parece que é sentido cada vez mais rápido. Uma pandemia é uma dor global, como uma guerra é uma dor global. O mundo inteiro está sofrendo”, lamenta o presidente Instituto de Cultura Árabe no Brasil.  

Confira a entrevista

Redação: Clara Assunção. Edição: Glauco Faria