Atritos

Milei reage com novos ataques, após Lula exigir desculpas

“Qual é o problema? É porque o chamei de corrupto? Por acaso não foi preso por corrupção?”, rebateu o argentino, após Lula afirmar ele lhe deve desculpas

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Milei em entrevista à emissora LN+, do jornal 'La Nacion': relação Brasil-Argentina é mais importante que "ego inflamado de algum esquerdinha"

São Paulo – Dois dias após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmar que Javier Milei deve desculpas a ele e ao Brasil, o presidente argentino voltou à carga nesta sexta-feira (28), com novos ataques ao líder brasileiro. Pejorativamente, disse que a relação entre os dois países é mais importante do que o “ego inflamado de algum esquerdinha” – “zurdito”, nas palavras dele. E voltou a chamar Lula de “corrupto”.

Na quarta, em entrevista ao UOL, Lula disse que ainda não se encontrou com Milei “porque eu acho que ele tem que pedir desculpas ao Brasil e a mim, ele falou muita bobagem. Só quero que ele peça desculpas”. Frisou que a Argentina é muito importante para o Brasil, e vice-versa. E que “não é um presidente da República que vai criar uma cizânia” entre os países.

Milei foi questionado em entrevista à emissora LN+, do jornal La Nacion, e disparou: “Qual é o problema? É porque o chamei de corrupto? Por acaso não foi preso por corrupção? É porque o chamei de comunista? Por acaso não é comunista? Desde quando é preciso pedir perdão por dizer a verdade? Ou a correção política está tão em falta que não podemos dizer nada à esquerda ainda que seja verdade?”, disse o ultraliberal.

Anteriormente, havia acusado Lula de “mentir” contra ele durante a campanha eleitoral no ano passado, e reiterou. “Os que mentiram exigem que o outro peça perdão porque disse a verdade? Vamos!”, se irritou. “Devemos nos colocar acima dessas ninharias, porque os interesses dos argentinos e dos brasileiros são mais importantes do que o ego inflamado de algum esquerdinha”.

Atravessando o tango

Durante a campanha brasileira, em 2022, quando Milei ainda era um mero analista econômico histriônico, chamou Lula de “comunista presidiário” e pediu votos ao então presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição. Já no ano passado, durante a disputa presidencial argentina, em entrevista a Tucker Carlson, ex-apresentador da Fox News, Milei disse que não faria negócios com “nenhum comunista”.

“Sou um defensor da liberdade, da paz e da democracia. (…) Lula não está incluso aí”, afirmou. No mesmo mês, ele disse à revista britânica The Economist que Lula tinha uma “vocação totalitária”, fazia aberrações na administração do Brasil.

Quando venceu as eleições, Milei chegou a convidar Lula para a sua posse, em dezembro. Mas diante do histórico de agressões, o presidente brasileiro acabou enviando o chanceler Mauro Vieira para representá-lo. Em março deste ano, ao citar a democracia em risco no mundo, por conta do avanço da extrema direita “raivosa” e “ignorante”, Lula chegou a citar Milei nominalmente, juntamente com Bolsonaro.

Em abril, o argentino enviou uma carta ao brasileiro, trazida pela chanceler argentina, Diana Mondino, pedindo uma reunião bilateral. A mensagem foi o primeiro gesto de aproximação. Dizia que os dois países estão “intimamente ligados” e afirmava o desejo de “seguir compartilhando áreas de complementariedade” em benefício de ambos os povos. Lula chegou a desdenhar da carta. Disse que sabia que o chanceler brasileiro havia recebido a mensagem, mas não tinha lido ainda.

Socorro e cooperação

Um mês depois, Milei acabou tendo que fazer negócios com o vizinho, mesmo a contragosto. O Brasil acabou socorrendo a Argentina, com uma venda extraordinária de 44 milhões de metros cúbicos (m³) de gás liquefeito (GNL) da Petrobras para mitigar uma súbita escassez do combustível no país.

Outro tema que está na mesa das autoridades dos dois países são os foragidos de 8 de janeiro. Na semana passada, o Itamaraty recebeu do governo da Argentina uma lista com nomes de brasileiros que cumpriam medidas cautelares por participação nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, em Brasília, e estão foragidos no país vizinho. O documento foi encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF) que foi quem solicitou ao Itamaraty que fizesse a consulta ao governo argentino.

A próxima etapa deve ser o pedido de extradição dos foragidos. Apesar dos trâmites legais alongados, as autoridades brasileiras esperam que não haja interferência política, apesar da identificação de Milei com Bolsonaro. Uma recusa desse tipo, aí sim, representaria um grave retrocesso na relação entre os países.

Milei vence a primeira no Congresso

Nesta madrugada, Milei obteve sua primeira vitória legislativa, ao aprovar no Congresso Nacional o seu pacote de reforma econômica, embora reduzido em relação à versão original – a chamada “Lei Ônibus” – após muitas mudanças durante meses de debate.

Por 148 votos a 107, a Câmara dos Deputados aprovou as mudanças que vieram do Senado na chamada “Lei Bases”, que desregulamenta o papel do estado na economia. A nova versão do projeto inclui uma reforma trabalhista, privatizações e incentivos ao investimento estrangeiro. Assim como uma polêmica delegação de poderes legislativos ao governo ultraliberal. Apesar de reduzir de 11 para quatro as áreas em que pode governar sem o Congresso por um ano, o Poder Executivo fica com o controle administrativo, econômico, financeiro e energético do país por um ano.

Ao mesmo tempo, o Produto Interno Bruto (PIB) da Argentina recuou 5,1% no 1º trimestre em comparação com o mesmo período de 2023. Com isso, o país entrou em recessão técnica, caracterizada por dois trimestres consecutivos de retração econômica. No último trimestre do ano passado, o PIB argentino havia registrado uma queda de 1,4%.

Enquanto isso, Milei vem comemorando seguidos superávits primários e uma redução da inflação. Ignorando a retração das atividades produtivas e alta da pobreza e do desemprego, o polêmico presidente chegou a afirmar que ele e sua equipe estavam “reescrevendo grande parte da teoria econômica” e que provavelmente serão agraciados com o prêmio Nobel de economia.