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Barroso deve ‘autocrítica’ por abusos da Lava Jato que resultaram em Bolsonaro

Para o criminalista José Carlos Portella Junior, a “República de Curitiba” foi o ovo da serpente que chocou Bolsonaro

Carolina Antunes/PR
Carolina Antunes/PR
Bolsonaro participou remotamente da posse de Barroso como presidente do TSE

São Paulo – Para o criminalista José Carlos Portella Junior, do coletivo Advogadas e Advogados pela Democracia, figuras como o ministro Luís Roberto Barroso devem uma mea culpa à sociedade brasileira por terem se acumpliciado com os abusos cometidos pela Operação Lava Jato, que abriram caminho para a ascensão de Jair Bolsonaro e de seu projeto autoritário.

“Barroso colaborou para esse estado de coisas, quando deixou passar uma série de medidas autoritárias que vinham dos seus colegas de toga e juízes de primeiro grau. Um exemplo é Sergio Moro, que virou ministro de Bolsonaro. Barroso precisa fazer essa mea culpa“, disse a Marilu Cabañas e Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual, nesta terça-feira (26).

A proximidade entre Barroso e o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato, foram expostas pelo The Intercept Brasil, no escândalo conhecido como Vaza Jato. Segundo Portella, a operação de Curitiba foi “o ovo da serpente que chocou Bolsonaro”.

Nesta segunda-feira (25), Barroso assumiu o cargo de presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com críticas veladas a Bolsonaro. Defendeu o diálogo com os demais poderes, em vez do confronto. Também lembrou que o ataque destrutivo a instituições da República, “a pretexto de salvá-las”, conduziu o Brasil a “duas longas ditaduras”.

Segundo Portella, que também é professor de Processo Penal no Centro Universitário Curitiba (UniCuritiba), aqueles que levaram o país para o “abismo” em nome do suposto combate à corrupção agora se dizem preocupados com o destino do país. O advogado comparou Barroso a figuras históricas como o jornalista e líder da UDN Carlos Lacerda e o renomado criminalista Sobral Pinto, que apoiaram o golpe de 1964, mas depois se arrependeram, quando se deram conta da “burrada”.

Freios

As constantes ameaças e ataques de Bolsonaro e seus apoiadores contra os ministros do STF talvez tenha o resultado oposto ao pretendido, segundo Portella. Ele diz, por exemplo, que é “momento propício” para dar andamento às cinco ações que correm no TSE contestando a eleição da chapa Bolsonaro/Mourão por crimes cometidos durante a campanha de 2018.

“Bolsonaro, desde quando era deputado federal, cometeu muitos crimes. E as instituições se calaram. Não fizeram nada, nem o MP, nem o Judiciário. Depois, na corrida presidencial, cometeu mais crimes, e nada foi feito. Agora, como presidente, continua cometendo crimes. Até quando a sociedade vai tolerar um cidadão como esse que quer impor um regime ditatorial?”, questionou.