Aceno à paz

Em dia tenso, Maia defende isolamento social, democracia e papel da imprensa

“A quarentena, o isolamento social, não são culpados por derrubar a economia. O distanciamento momentâneo entre as pessoas salva vidas”, disse Maia

Maryanna Oliveira/Câmara dos Deputados
Maryanna Oliveira/Câmara dos Deputados
No pronunciamento, o parlamentar destacou os profissionais da saúde, que têm sido atacados por bolsonaristas

São Paulo – Em mais um dia tenso institucionalmente, com ação da Polícia Federal no Rio de Janeiro, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), abriu a sessão da Casa na tarde desta terça-feira (26) com um discurso em que ressaltou a defesa da democracia, das instituições, do isolamento social no combate ao coronavírus e explicitou discordância da ideologia das armas defendida pelo presidente Jair Bolsonaro. Maia defendeu  os profissionais da saúde, que têm sido atacados por bolsonaristas.

“É preciso ter claro: a quarentena, o isolamento social, não são culpados por derrubar a economia. Quem derruba a economia é o vírus. O distanciamento momentâneo entre as pessoas salva vidas”, disse.

Bolsonaro e seu governo são repudiados mundialmente por sua política contrária ao isolamento, assim como aos protocolos e recomendações médicas e científicas para o combate à pandemia de covid-19.

Embora com o estilo conciliador, Maia deu outros recados a Bolsonaro, como a sua estratégia de confronto com as instituições, adversários políticos e jornalistas.

“A coragem muitas vezes está em saber construir a paz”, disse. Segundo ele, “as únicas armas que nós, brasileiros, devemos portar são a fé na capacidade de trabalho, na força de vontade para enfrentar e vencer obstáculos e na crença na justiça de nosso regramento institucional”, afirmou.

Para a cientista política Maria do Socorro Sousa Braga, da Universidade Federal de São Carlos, o país chegou a um tal nível de tensão que o discurso de Maia foi no sentido de “dar um abafa nesse clima difícil, porque a população está sofrendo e não dá para ficar nesse clima de tensão o tempo todo”. Para ela, Maia “se colocou como um político de diálogo, conciliador, de conversa, sem querer estressar mais as instituições ou ultrapassar limites”.

Embora a prática de confronto de Bolsonaro não seja apoiada pela maioria da classe política e mesmo da sociedade, “o Executivo está indo para cima justamente porque eles são minoritários, mas têm o apoio do braço armado do Estado, das polícias e das milícias que apoiam o governo”, avalia Maria do Socorro. “Não vão ceder fácil.”

Na opinião da professora, a “ação da Polícia Federal sobre governadores é interferência do Executivo na instituição, para fazer o que Bolsonaro quer para ameaçar”. A PF foi um dos pivôs da demissão do ex-ministro da Justiça Sergio Moro. Nesta terça, o órgão anunciou a troca de comando regional em seis estados.

A Polícia Federal também cumpriu hoje mandados de busca e apreensão em endereços no Rio de Janeiro, como no Palácio das Laranjeiras, residência oficial do governador do estado, Wilson Witzel (PSC).

Defesa da democracia

Em sua coluna desta terça no portal Uol, o jornalista Rocardo Kotscho diz que “está explicado por que Bolsonaro queria tanto fazer uma intervenção na Polícia Federal do Rio”. Segundo ele, “como toda polícia política, a Gestapo de Bolsonaro deveria também atacar seus inimigos, como deixou claro na reunião pró-armamentismo do dia 22 de abril”.

Na Câmara, lideranças da oposição saudaram o discurso de Maia no atual contexto, como o deputado José Guimarães (PT-CE), líder da Minoria. “O que nos une nesse momento é a defesa intransigente da democracia. Não podemos aceitar os ataques ao parlamento brasileiro”, disse.

Na opinião do deputado Orlando Silva (PCdoB), o pronunciamento de Maia “mostrou que o parlamento está disposto ao diálogo republicano, mas jamais se acovardará na defesa da democracia e da liberdade de imprensa”.

Em sua fala, Maia destacou a “relação construtiva” com a imprensa, que tem “importantíssimo papel na consolidação da democracia”.

Hoje, o Grupo Globo e a Folha de S. Paulo anunciaram que, por questões de segurança, seus jornalistas deixam de cobrir a rotina de Bolsonaro no Palácio da Alvorada. Profissionais de imprensa têm sido hostilizados e xingados sistematicamente pelo presidente e bolsonaristas.

No pronunciamento, Maia também destacou os profissionais da saúde, que têm sido atacados por bolsonaristas desde o início da pandemia, que, de acordo com ele, que “atuam sob condições de risco, muitas vezes inadequadas, e que merecem sobretudo o nosso apoio”.


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