Fé abalada

Bispos da Igreja Universal em Angola rompem com Edir Macedo

Angolanos acusam líderes brasileiros de racismo e privilégios, além de evasão de divisas, expatriação ilícita de capital e abuso de autoridade

Alan Santos/PR
Alan Santos/PR
No Brasil, veículos de comunicação de Edir Macedo receberam pelo menos R$ 28 milhões do governo federal

São Paulo – Bispos e pastores da Igreja Universal do Reino de Deus em Angola anunciaram o rompimento com a gestão brasileira, controlada pelo autoproclamado bispo Edir Macedo. Eles acusam a Universal de racismo contra religiosos angolanos para privilegiar os brasileiros. As divergências com a cúpula da igreja começaram novembro de 2019, quando 320 bispos e pastores pediam a saída dos brasileiros. No entanto, as reivindicações não foram atendidas.

Segundo reportagem da BBC Brasil, publicada nesta terça-feira (23), os dissidentes angolanos afirmam ter o controle de 42% dos templos – 35 na capital do país, Luanda, incluindo a Catedral do Morro Bento e do Cenáculo do Patriota, e outros 50 em cidades do interior.

Para marcar a ruptura, o grupo passou a adotar a denominação Igreja Universal de Angola.

Os desgarrados acusam a direção brasileira de evasão de divisas, expatriação ilícita de capital e abuso de autoridade. Eles também reclamam da imposição da prática de vasectomia aos pastores angolanos e intromissão na vida conjugal.

Segundo Dinis Bundo, identificado como obreiro da Universal e porta-voz do grupo rebelado, as “melhores” igrejas sempre foram designadas aos pastores brasileiros. Ademais, eles também são beneficiados com melhores salários e carros modernos.

A reportagem é do jornalista Gilberto Nascimento, autor do livro O Reino (Companhia das Letras, 384 páginas), em que traça uma “radiografia” da Universal, fundada em 1977, além de contar a história de seu criador.

Bolsonaro “de fé”

Em outra reportagem, a Agência Pública mostra que, no Brasil, a secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) já gastou mais de R$ 300 milhões em campanhas veiculadas em rádios e TVs de propriedade ou ligadas a líderes religiosos evangélicos que o apoiam. O valor equivale a quase 10% de tudo o que foi gasto pelo órgão desde o início do governo Bolsonaro.

Pelo menos R$ 28 milhões foram destinados ao grupo Record, controlado por Edir Macedo. A Secom passou a fazer parte do ministério das Comunicações, ressuscitado, que ficou sob comando do deputado Fábio Faria (PSD-RN). O novo ministro é casado com uma das filhas do apresentador Silvio Santos, dono do SBT.

A Pública também destaca manobras entre Bolsonaro e Edir Macedo para tentar emplacar o também bispo evangélico e deputado federal Marcos Pereira como substituto de Rodrigo Maia na presidência da Câmara. Pereira preside o Republicanos (ex-PRB), braço político da Igreja Universal.

As eleições para o comando da Casa ocorrerão em fevereiro do ano que vem. O presidente da Câmara dos Deputados é quem controla a pauta de votação da Casa. Além disso, por exemplo, é dele a decisão sobre a abertura ou não de processos de impeachment contra o Presidente da República.