São Paulo

Doria ignora servidores da saúde e prioriza testes de covid-19 em policiais

Programas piloto de teste de covid-19 em São Paulo incluíram 229 mil servidores da segurança pública, mas não há dados sobre os profissionais de saúde

Secom/GovSP
Secom/GovSP
Doria anunciou a segunda fase dos testes em massa de covid-19 em São Paulo, mas quase ignorando os profissionais de saúde

São Paulo – Os programas piloto de teste em massa para detectar a covid-19 em São Paulo, lançados pelo governo de João Doria (PSDB), priorizaram servidores da segurança pública e praticamente ignoraram os profissionais de saúde. O Instituto Butantan, responsável pela realização dos programas de testagem, incluiu 229.843 agentes de segurança pública, entre policiais militares (PMs) e guardas civis metropolitanos (GCMs) nos dois programas lançados, mas não soube informar quantos profissionais de saúde foram testados.

A primeira fase do programa de teste para detectar a covid-19 em São Paulo foi iniciada em 15 de maio, com a previsão de aplicar 1 milhão de exames, utilizando os testes rápidos – que detectam a presença de anticorpos contra o coronavírus no organismo, indicando se a pessoa já teve a doença e foi assintomática, por exemplo. Nesse processo foram incluídos 35 mil policiais militares que atuam na capital paulista e seus familiares, totalizando 145 mil pessoas. No entanto, não há informações de quantos profissionais de saúde foram testados.

Já na fase atual, lançada no último dia 19, o governo Doria pretende testar 233.785 pessoas. Destas, 25 mil serão direcionados ao município de São Bernardo do Campo, no ABC, 22 mil são servidores das GCMs municipais, 172.843 são policiais militares que atuam no interior e policiais civis, 2 mil são profissionais do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) da capital paulista e 12 mil são profissionais de saúde do Hospital de Clínicas de Ribeirão Preto – totalizando 14 mil testes na saúde (cerca de 6%). Os exames restantes serão aplicados no sistema prisional, na Fundação Casa, e em asilos.

A RBA questionou o Instituto Butantan sobre a disparidade nos testes entre profissionais da segurança pública e da saúde, mas não teve resposta.

Públicos-alvo da segunda fase de testagem em massa lançada pelo governo Doria

Testar todos

Para a presidenta do Sindicato dos Trabalhadores Públicos da Saúde no Estado de São Paulo (SindSaúde), Cleonice Ribeiro, Doria não respeita os profissionais do setor. “Na mídia é uma coisa, por trás das câmeras é outra. Até agora só tem prometido que vai testar, mas a grande maioria dos profissionais de saúde não foi testada. Só quem teve sintomas está sendo testado. O correto seria testar a todos. É correto testar os profissionais de segurança, eles estão na rua diariamente, mas não se pode excluir os profissionais de saúde dessa forma. É muito ruim a forma como o governador vem tratando os trabalhadores da saúde”, afirmou.

A infectologista Juliana Salles, diretora do Sindicato dos Médicos de São Paulo, avalia que há uma tentativa de omitir os casos na saúde para evitar um grave déficit de profissionais. “Os testes são insuficientes e temos denúncias das unidades de que não estão sendo aplicados os testes rápidos para não ter de afastar funcionário. Isso é muito grave. Devia ter teste para todo mundo. Se não tem para todos, para aqueles que estão trabalhando, como saúde, Samu, cemitérios e segurança pública. A saúde devia estar sendo testada periodicamente. E isso não está acontecendo.”

O governo Doria informou que, até a última segunda-feira (22), 10.718 profissionais de hospitais estaduais chegaram a ser afastados por suspeita ou confirmação de covid-19, desde o início da pandemia. Destes, 7.258 profissionais se recuperaram e já tiveram alta e 3.460 ainda estão afastados. Além disso, houve confirmação da morte de 40 profissionais da rede estadual por coronavírus. Mas também não respondeu sobre a disparidade no teste em massa para detectar a covid-19 em São Paulo.


Edição: Paulo Donizetti de Souza


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