Vexame

Weintraub no Banco Mundial reforçaria imagem do Brasil de ‘pária internacional’

Associação de empregados contesta indicação de Weitraub. “Pessoal do Banco Mundial está assustado, e não sem razão”, diz o economista Jorge Mattoso

Marcelo Camargo/Agência Brasil
Marcelo Camargo/Agência Brasil
"O Banco Mundial acaba de assumir uma posição moral clara para eliminar o racismo em nossa instituição", diz entidade

São Paulo – A carta de profissionais do Banco Mundial enviada para a comissão de ética da instituição é mais um fato que sustenta a imagem do Brasil de “país pária” na comunidade internacional, sob o governo Jair Bolsonaro. A associação de funcionários pediu a suspensão da indicação do ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, a uma diretoria do banco. Ele foi indicado pelo presidente após a saída do cargo. Segundo o documento da associação, citando “várias fontes”, Weintraub publicou posts “de acusação racial que zomba do sotaque chinês” e culpou a China pela pandemia de coronavírus, o que torna sua presença no órgão constrangedora.

A entidade lembra ainda que o ex-ministro “sugeriu que os juízes da Suprema Corte (Supremo Tribunal Federal) fossem presos, deu declarações públicas contra a proteção dos direitos das minorias e a promoção da igualdade racial” e também afirmou odiar o termo “povos indígenas”.

Na carta, os funcionários do Banco Mundial solicitam formalmente ao Comitê de Ética a suspensão da indicação, “até que essas alegações possam ser revisadas”, para garantir que Weintraub “seja avisado de que o tipo de comportamento pelo qual ele é acusado é totalmente inaceitável nesta instituição”.

Os signatários alertam: “O Banco Mundial acaba de assumir uma posição moral clara para eliminar o racismo em nossa instituição. Isso significa um compromisso de todos os funcionários e membros do Conselho de expor o racismo onde quer que o vejamos”.

Nada justifica Weintraub no Banco Mundial

De acordo com o deputado federal Enio Verri (PT-PR), mesmo assim a indicação pode ser aceita pela instituição, já que é indicação do presidente da República brasileira. Porém, a manifestação dos servidores pode ser “um passo” para a possibilidade de a direção do banco pedir a Bolsonaro que indique outro nome. Isso seria um fato inédito para um país da magnitude do Brasil, uma das 10 maiores economias do mundo. “Não seria surpresa se acontecesse”, diz.

“O pessoal do Banco Mundial está assustado, e não sem razão”, afirma o economista Jorge Mattoso, ex-presidente da Caixa Econômica Federal. “Supõe-se que estar no colegiado de 25 diretores exija alguma habilidade política e diplomática que permita o diálogo com os demais diretores. Esta figura não tem nada disso.”

A concepção que ele tem de economia pode se encaixar em um banco privado dos que ganham milhões à custa da crise e da quebradeira das micro e pequenas empresas”, aponta Verri.

Carta ao embaixador

Os movimentos contra o vexame de o Brasil ser representado no Banco Mundial pelo ex-ministro são vários. Deputados da oposição enviaram na noite de ontem (23) uma carta ao embaixador americano no país, Todd Chapman, questionando a entrada de Weintraub nos Estados Unidos. A correspondência dos parlamentares chegou também à bancada do Partido Democrata norte-americano.

Bolsonaro publicou na manhã de sábado (20) uma edição extra do Diário Oficial da União (DOU) oficializando a exoneração do ex-ministro, demitido dois dias antes. A oficialização da exoneração de Weintraub saiu minutos após a confirmação de que ele foi para os Estados Unidos irregularmente.

Sem estar oficialmente no cargo, ele não teria mais passaporte diplomático e não conseguiria entrar no país, porque os Estado Unidos têm uma série de restrições para brasileiros, por conta da pandemia de coronavírus.

Entre mais de 70 parlamentares de oposição, além de Verri, assinam o documento enviado ao embaixador Chapman os líderes do Psol (Ivan Valente, SP), do PCdoB (Perpétua Almeida, AC), do PSB (Alessandro Molon, RJ), da Rede (Joenia Wapichana, RR) e do PDT (Wolney Queiroz, PE).

Na sexta-feira (19), organizações da sociedade civil, intelectuais, artistas, empresários e ex-ministros também enviaram ao Banco Mundial uma carta contra a nomeação. O cantor e compositor Chico Buarque, a economista Laura Carvalho, o ex-ministro do Meio Ambiente e Fazenda Rubens Ricupero e a ex-ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira assinam a carta, que teve cerca de 270 signatários.