Em fase final

Justiça suspende privatização da Sabesp em Guarulhos

Governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, está fazendo um tour na Europa e nos EUA para atrair investidores e quer finalizar a venda da Sabesp em 22 de julho, enquanto sofre revés na segunda maior cidade do estado

Após cinco décadas, governo de São Paulo vai abrir mão do controle da Sabesp

São Paulo – O Tribunal de Justiça de São Paulo suspendeu a lei municipal que autorizava a privatização da Sabesp em Guarulhos. A liminar é do desembargador Roberto Solimene. E atende a uma ação protocolada pelo PCdoB, em parceria com o Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente de São Paulo (Sintaema). A decisão é de sexta-feira (21), mas foi divulgada nesta segunda (24).

Na ação, o PCdoB alega que não houve participação popular no processo de aprovação da Lei nº 8.275. Isso porque o legislativo municipal aprovou, e a prefeitura de Guarulhos sancionou o projeto, sem a realização de audiências públicas. Outro fator apontado é a falta de estudo de impacto orçamentário e financeiro. Além disso, o dispositivo legal também seria omisso em relação às obrigações da Sabesp no contexto das mudanças climáticas.

“Uma importante vitória da luta do Sintaema e do PCdoB em defesa da Sabesp pública. O Sindicato segue mobilizado e em luta permanente para reverter o crime que Tarcísio de Freitas comete contra São Paulo ao fazer saldão do patrimônio público do nosso estado”, afirmou o presidente do Sintaema, José Antonio Faggian.

 A liminar não impede o leilão de privatização da Sabesp, previsto para julho. Mas, se mantida até lá, a segunda maior cidade do estado estaria fora da venda dos serviços de saneamento.

“A principal controvérsia levantada pelo PCdoB, e ponto central da ADI, envolve alegações de que a lei foi aprovada sem a devida participação popular, desconsiderando os requisitos de estudos de impacto orçamentário e financeiro conforme manda a legislação brasileira. Isso torna a lei inconstitucional por violar princípios de transparência e participação democrática na gestão pública e na administração de serviços essenciais como o saneamento básico”, ressalta a assessoria jurídica do Sintaema.

A decisão

Conforme a decisão, a Prefeitura de Guarulhos, os vereadores do município e o governo estadual precisam responder ao Judiciário sobre a ausência do estudo de impacto, apontada pelo PcdoB. E também sobre a falta de participação popular na elaboração da medida.

“A ausência de estudo de impacto orçamentário criou-se uma situação de incerteza e insegurança para os cofres do Poder Executivo Municipal, pois ao final do contrato com a SABESP, que estará sob controle da iniciativa privada, é possível que a Prefeitura se torne devedora dos investimentos realizados e eventualmente não amortizados no curso do contrato”, afirmou o desembargador. Assim, em último caso, a prefeitura de Guarulhos teria de indenizar a Sabesp privada pelos investimentos que não foram amortizados.

De acordo com a assessoria jurídica do sindicato, a decisão deixa claro que “as omissões (identificadas na lei) violam não apenas os princípios constitucionais de transparência e participação democrática, mas também comprometem a eficácia e a legalidade da gestão dos serviços essenciais de saneamento básico”.

Privatização em fase final

O governo de São Paulo divulgou na última sexta-feira (21) um prospecto com informações sobre a privatização da Sabesp. A intenção é concluir a venda da estatal de saneamento até o dia 22 de julho. O texto traz as definições sobre a oferta de ações para a distribuição de 32% das ações da Sabesp, que estão sob controle do estado.

Até a próxima sexta-feira (28), os investidores de referência apresentarão suas propostas. Os dois finalistas serão conhecidos imediatamente, após o fechamento do mercado. Nesse caso, o investidor de referência vai ficar com 15% das ações da companhia. Em 15 de julho, sairá o nome do vencedor.

Assim o prospecto cita três empresas como as principais. As empresas Aegea Saneamento e Participações S.A, Iguá Rio de Janeiro S.A e BRK Ambiental Participações S.A. disputam a posição de investidor de referência. Entre os dias 1° e 15 de julho, investidores pessoa física e fundos de investimento fazem ofertas pelas ações da Sabesp no varejo, escolhendo um dos candidatos a acionista de referência.

De acordo com a secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, a precificação da oferta ocorrerá em 18 de julho, e no dia 22 acontecerá a liquidação da operação. Desse modo, o governo de São Paulo que conta hoje com 50,3% das ações, ao final do processo, terá apenas 8,3%.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, começou nesta segunda (24) um giro pelos Estados Unidos e Europa, com o objetivo de atrair investidores estrangeiros para a privatização da Sabesp. Ele deve se encontrar com representantes de fundos de investimento globais e grupos privados. O governo espera arrecadar cerca de R$ 15 bilhões, ao abrir mão de grande parte das ações da companhia.

Demissões já começaram

Assim, as vésperas da privatização, o Sintaema também denunciou nesta segunda (24) a demissão de quadros experientes da Sabesp. Em Carta Aberta, assinada em conjunto com o Fórum das Entidades, denunciam “a forma açodada imposta pela direção da Sabesp no processo de reestruturação da empresa”. E relatam que a empresa só não paralisou suas atividades “graças à garra e à vontade” dos trabalhadores.

Segundo o sindicato, nos últimos dias foram demitidos profissionais de carreira com excelente avaliação de desempenho. Trata-se de uma prática recorrente em processos de privatização, como forma de reduzir custos e melhorar o caixa para o investidor privado. “Se a nova regra for demitir pessoas com alto desempenho, como seremos avaliados daqui por diante? Qual será o novo modelo de avaliação e progressão na carreira?”, questiona o documento.

Ainda no ano passado, os trabalhadores da Sabesp se uniram aos metroviários e ferroviários e realizaram duas greves gerais contra as privatizações de Tarcísio – que também atingem os transportes sobre trilhos. Eles também realizaram um plebiscito popular para ouvir a população, que manifestou amplo repúdio às privatizações. Pesquisas de opinião também apontam que a maioria da população é contrária à venda dos serviços públicos.

No caso da Sabesp, os trabalhadores destacam que a empresa é superavitária. Somente no ano passado, registrou lucro líquido de R$ 3,5 bilhões. Assim, eles temem a precarização dos serviços a partir da terceirização, combinado com o provável aumento das tarifas. O modelo de venda inclui a constituição de um fundo com o valor pago pelos acionistas para subsidiar a conta de luz. Para o Sintaema, no entanto, trata-se de um modelo que não é sustentável. Além disso, a universalização dos serviços é outra propaganda para justificar a venda da companhia. No entanto, a Sabesp já se aproxima da universalização e ostenta um dos melhores índices de cobertura do país.