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Lula: alta do dólar é ‘jogo especulativo contra o Real’ e governo vai tratar a questão

Em entrevista a uma rádio de Salvador nesta terça (2), presidente rebateu que suas falas contra o Banco Central e os juros altos estejam levando à disparada do dólar

Reprodução/Youtube
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Lula: O mercado não pode ser vítima de mentiras. A gente não pode inventar as crises, não pode pagar as culpas”

São Paulo – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse na manhã desta terça-feira (2) que a alta do dólar nos últimos dias é “um jogo especulativo contra o Real”. Ontem (1º), a moeda fechou em R$ 5,65. E às 11h30 de hoje o dólar estava cotado a R$ 5,6784. Em entrevista à Rádio Sociedade, de Salvador, Lula rebateu a narrativa do mercado de que a desvalorização da moeda brasileira, que está completando 30 anos, seja causada principalmente pelo seu discurso contra a política de juros altos do Banco Central.

“O mercado não pode ser vítima de mentiras. A gente não pode inventar as crises, não pode pagar as culpas”, disse Lula, referindo-se a boatos de que o dólar dispara toda vez que ele critica o presidente do BC, Roberto Campos Neto. “No caso da entrevista ao Uol, fomos ver e percebemos que o dólar havia subido 15 minutos antes de começar a entrevista”, disse.

O presidente concedeu entrevista ao portal Uol na última quarta-feira (26). Na ocasião, voltou a defender a prioridade, em seu governo, dos investimentos em políticas sociais, como na valorização do salário mínimo. E foi enfático nas críticas à alta dos juros.

“Claro que me preocupa (a alta do dólar), mas essa subida é uma especulação, um jogo especulativo contra o Real. Eu tenho me reunido com o pessoal (da área econômica) para saber o que a gente vai fazer. Na quarta (3) teremos uma reunião. Mas não é normal o que está acontecendo”, disse.

“Não dá pra ter um presidente do BC com viés político”, disse Lula

O presidente voltou a criticar o que chamou de falta de independência da atual gestão do BC em relação ao mercado. E lembrou que durante seus dois primeiros mandatos (2003-2006 e 2007-2010), o então presidente do banco, Henrique Meirelles, tinha autonomia.

“O BC tem função. E não dá pra ter um presidente do BC com viés político. O presidente não pode ficar vulnerável às pressões políticas. Agora, quando você é autoritário, faz com que o mercado se apodere de uma instituição que deveria ser do estado, para cuidar de uma política e não estar a serviço do sistema financeiro, do mercado”, disse Lula.

O deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) saiu em defesa de Lula. Em postagem em suas redes sociais, o parlamentar escreveu que “Lula botou o dedo na ferida”. “E que a omissão do Banco Central sobre a escalada do dólar mostra que não existe e independência do BC” e “que Campos Neto trabalha pra outros interesses além do Brasil”.

A presidenta do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), também reforçou as críticas à gestão do Banco Central pelo atual presidente, indicado na gestão Jair Bolsonaro (PL). “Nós precisamos que o Banco Central aja no mercado, sim, para não deixar o dólar estourar”.

“O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta terça-feira que o governo estuda medidas para conter a alta do dólar, mas negou a possibilidade de baixar o imposto sobre operações financeiras (IOF). “Aqui na Fazenda, nós estamos trabalhando uma agenda eminentemente fiscal [relacionada com as contas públicas] com o presidente [Lula] para apresentar para ele propostas para cumprimento do arcabouço em 2024, 2025 e 2026”, disse o ministro, ao ser questionado sobre possível mudança.

A alíquota do IOF, que incide sobre câmbio, atualmente é de 6,38%. Para aquisição de moeda estrangeira em espécie, a taxação é menor, de 1,1%, e deve ser zerada em 2028. Em 2011, o Ministério da Fazenda usou o IOF para tentar frear a queda do dólar.

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Redação: Cida de Oliveira – Edição: Helder Lima