Ofensiva

Lula e centrais pressionam Campos Neto contra altos juros

Presidente afirmou que Campos Neto tem “lado político” e “trabalha para prejudicar o país”, enquanto as centrais sindicais saíram às ruas em protesto contra os altos juros no país

Roberto Parizotti/CUT/Ricardo Stuckert/PR
Roberto Parizotti/CUT/Ricardo Stuckert/PR
Para Lula, “não tem explicação” para a atual taxa de juros

São Paulo – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar nesta terça-feira (18) o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto. Para Lula, o comportamento do BC é a única coisa “desajustada” no país atualmente. Disse que “não tem explicação” para a atual taxa de juros, fixada em 10,5% ao ano. Além disso, afirmou que Campos Neto tem “lado político” e “trabalha para prejudicar o país”.

As críticas de Lula ocorreram na véspera da decisão do Comitê de Política Monetária do BC (Copom) sobre a taxa Selic. Enquanto o mercado pressiona pela fim do ciclo de cortes na taxa básica de juros, as centrais sindicais protestaram pela redução.

“Nós só temos uma coisa desajustada no Brasil neste instante: é o comportamento do Banco Central. Essa é uma coisa desajustada. Um presidente do Banco Central que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político e que, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar o país do que para ajudar o país. Não tem explicação a taxa de juros do jeito que está”, declarou Lula em entrevista à Rádio CBN.

De acordo com o presidente, o Brasil não pode continuar com a atual taxa de juros, que é “proibitiva” para os investimentos. Ele afirmou que os juros têm que ser compatíveis com a inflação, que está “totalmente controlada”.

O Copom iniciou o atual ciclo de queda dos juros em agosto de 2023, quando a taxa passou de 13,75%. De lá para cá, foram seis cortes consecutivos de meio ponto percentual. No mês passado, o colegiado reduziu o ritmo, com corte de 0,25 pp. Contudo, a redução da Selic acompanhou a queda da inflação, mantendo praticamente inalterada a taxa de juro real no país.

“Vamos repetir o Moro?”

Lula condenou ainda a aproximação de Campos Neto com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que promoveu um jantar em homenagem ao presidente do BC. Conforme a coluna Painel, do jornal Folha de S. Paulo, Campos Neto teria sinalizado que aceita ser ministro da Fazenda no caso de Tarcísio disputar, e vencer, as próximas eleições presidenciais, em 2026.

Questionado sobre uma eventual impressão de que Tarcísio teria influência nas decisões de Campos Neto no BC, Lula respondeu: “olha, sinceramente, (Tarcísio) tem mais do que eu”.

“A festa foi do Tarcísio pra ele (Campos Neto). Homenagem do governo de São Paulo para ele, certamente porque governador de São Paulo acha maravilhoso taxa de juros de 10,5%. Quando ele se ‘autolança’ a um cargo. Vamos repetir o Moro? Presidente do BC está disposto a fazer o mesmo papel que Moro fez? Paladino da justiça com rabo preso”, questionou.

Nesse sentido, Lula aproveitou para criticar a suposta autonomia do BC. “Eu duvido que esse Roberto Campos tenha mais autonomia do que eu tinha com o [Henrique] Meirelles. O que é importante saber é a que esse rapaz está submetido. Como é que ele vai a uma festa em São Paulo quase assumindo a candidatura a um cargo do governo? Cadê a autonomia dele?”

Como sucessor de Campos Neto, Lula declarou que escolherá alguém que tenha compromisso com o desenvolvimento do Brasil, com o controle da inflação, mas que também pense em uma meta de crescimento. O mandato de do atual presidente do BC expira no final deste ano.

“Vai ser uma pessoa madura, calejada, responsável, alguém que tenha respeito pelo cargo que exerce, que tenha respeito e alguém que não se submeta a pressões de mercado. Alguém que faça aquilo que for de interesse dos 203 milhões de brasileiros”, afirmou.

Centrais protestam

Durante a manhã, as centrais sindicais protestaram em frente à sede do BC em São Paulo, na Avenida Paulista. A vice-presidenta nacional da CUT, Juvandia Moreira, criticou o “boicote” de Campos Neto à economia real, prejudicando, com os juros altos, o crescimento e a geração de emprego.

“O BC alega que a Selic precisa ser alta para conter a inflação, mas esta segue sob controle e existem outros métodos para conter a inflação que não é esse, que causa prejuízos para todo o país”, destacou a dirigente.

“Outra coisa, quando Campos Neto alega também que essa queda no ritmo de redução da Selic se dá por causa do aumento do emprego [porque o mercado aquecido, supostamente é responsável pela inflação], acaba também entrando em contradição, porque vai justamente na contramão de uma das missões do BC, que é colaborar para que o Brasil alcance o pleno emprego”, completou.

Com informações da CUT