A América é dos gringos

“América”… Quantos brasileiros falam dos Estados Unidos como se só lá fosse “América”. Acham que o nome é privativo dos Estados Unidos. Para começar, América, do México para o sul, […]

“América”… Quantos brasileiros falam dos Estados Unidos como se só lá fosse “América”. Acham que o nome é privativo dos Estados Unidos. Para começar, América, do México para o sul, era “América” antes dos Estados Unidos. Enquanto o Caribe já tinha muitas cidades habitadas por europeus, o México já estava cheio (e com o saco cheio) de espanhóis. O Peru também, e o Brasil tinha núcleos de portugueses. A atual gringolândia era um mundo desconhecido pelos europeus.
Os espanhóis tentaram fazer um assentamento onde é hoje a Carolina do Sul, em 1526, mas não deu certo. Depois, em 1565, fizeram outro na Flórida. O primeiro assentamento inglês foi na Carolina do Norte, em 1586, e não durou nem três anos. Só em 1607 os ingleses fizeram um assentamento permanente chamado Jamestown. Então por que eles se julgam donos do nome América, dado pelos europeus ao continente inteiro?

Sempre achei que, se queriam um nome exclusivo, que se autodenominassem Gringolândia ou Gringóvia. Depois de pensar bastante, parti para uma conclusão radicalmente diferente: agora acho que eles devem ser América mesmo, e nós é que devemos procurar um nome mais apropriado para o nosso continente, excluindo aquela parte.

Américo Vespúcio era um marqueteiro mentiroso. Já no início do século 16, ele inventou que tinha feito uma viagem em 1497 em que teria chegado à costa da América do Sul, inclusive do Brasil. Portanto, teria sido antes da chegada de Colombo ao norte da América do Sul, em 1498 (em 1492 ele parou nas Antilhas), e de Cabral ao Brasil, em 1500. Assim, enganou o cartógrafo alemão Martin Waldeemüller, que estava fazendo uma cosmografia e pôs no novo continente o nome do “seu descobridor”. Foi o que se chama apropriação indébita. E nisso os gringos são bons. Bastaria citar o exemplo da invenção do avião. Depois que Santos Dumont voou pela primeira vez em Paris, os gringos vieram com a história de que os irmãos Wright levantaram voo antes dele, sem ninguém ver, e assim mesmo com o uso de uma catapulta para mandar o avião para cima.Outro exemplo: a laranja foi introduzida no Recôncavo Baiano logo no governo de Tomé de Souza. No início do século 19, ocorreu uma mutação num laranjal, em que essas laranjas começaram a ter uma espécie de umbigo, e assim surgiu a laranja Bahia. Em 1873, técnicos em citricultura levaram três mudas dessa laranja para os Estados Unidos, e de lá a espalharam pelo mundo com o nome de washington navel, como se eles tivessem “inventado” a tal laranja. Enfim, são dignos do nome do trambiqueiro Vespúcio.
Então, se a gente quiser dar um nome de gente para o nosso continente, que seja, por exemplo, o do índio Hatuey, do Haiti, que em 1512 já percebeu o caráter do colonizador europeu, liderou uma revolta contra a escravização dos índios pelos espanhóis cristãos, foi preso em Cuba e queimado vivo. Antes da execução, um padre quis convertê-lo ao cristianismo para que ele entrasse no céu. Hatuey perguntou se no céu tinha cristãos, o padre respondeu que sim, muitos, e ele disse que preferia ir para o inferno.

Poderíamos também pensar num nome como Pindorama, terra das palmeiras em tupi, mas aí não contempla o continente inteiro. Pachamama, nome da principal deusa indígena dos Andes, a mãe terra, ou mãe do universo, também seria restrita à parte sul do continente. Quem sabe juntar as iniciais de alguns dos maiores povos daqui, maia, asteca, tupi, inca, aruaque… Ou uma mistura de sílabas de quatro palavras importantes de diferentes línguas indígenas, como Pachamama, México, Pindorama e Caribe. É questão de pensar e achar um nome legal.

Que a gringolândia fique com o do colonizador e cascateiro Américo Vespúcio.