Cabeças e corações

Todos querem uma vida melhor. Acima do obscurantismo, o eleitor vota na esperança

Em uma eleição de infâmias, uma das maiores buscou identificar no eleitor pobre e sem escolaridade a razão da vitória de Dilma Rousseff sobre José Serra. Na base do preconceito, os reféns da ignorância tentaram criar duas categorias de voto, o certo e o errado. Desprezaram a lição básica da democracia. Os 55,7 milhões de votos que elegeram Dilma Rousseff saíram de todas as regiões, de todas as classes sociais, de pessoas de escolaridades diferentes. Saíram do povo brasileiro, pelo menos a sua maioria.

Certamente, grande parte da votação da primeira presidenta brasileira pode ser explicada pela melhoria das condições de vida da população. O bolso é um fator importante em qualquer eleição. Mas não pode ser desprezado o fator esperança, também subjetivo, segundo o qual as pessoas identificam numa candidatura o caminho que consideram mais correto para que o país continue melhorando, à medida que começa a pagar não apenas a dívida com o FMI, mas a sua imensa e secular dívida social. Assim, tanto quanto a cabeça, o coração também vota.

No 1º de Maio deste ano, Lula lembrava que era a última vez que ele falava naquela data como presidente da República. E lembrava que o Brasil era um país sem limites para crescer não apenas por suas riquezas naturais, mas acima de tudo por ter um povo “generoso, forte e criativo”. É o povo que vota e decide. Os que têm hoje maior poder de compra e os que ainda esperam do Estado brasileiro um tratamento mais justo, sem cidadãos de primeira ou segunda classe. Todos querem uma vida melhor, e essa será sempre a opção do eleitor, que, acima do obscurantismo, vota na esperança.

P.S. – O dia seguinte à eleição mostrou também para algumas pessoas, como uma estudante de Direito que não merece ter o nome aqui escrito, que o fascismo difundido na internet – diferentemente do veiculado em certos veículos de comunicação – tem resposta imediata. Depois de postar em seu perfil no Twitter frases carregadas de preconceito e ódio contra nordestinos, a moça sofreu uma avalanche de reações. O ódio xenófobo associado a neurônios desocupados talvez não tenham permitido à moça, e outros que se manifestaram,  fazer operações básicas de somar e subtrair. Se não fosse computado nenhum voto da região Nordeste, Dilma ainda assim teria vencido.