Deixa com eles

Há 11 anos trabalhadores arrendaram fábrica falida e fizeram da Uniforja a experiência mais bem sucedida do Brasil

“Estamos fazendo história”, afirma João Luis Trofino, presidente da Uniforja. Foto: Mauricio Morais

Em 1998, época marcada pela fuga de empresas e falências, aquela que foi a maior forjaria da América Latina estava prestes a encerrar suas atividades e deixar na mão 600 trabalhadores. No entanto, com apoio do Sindicato dos Metalúrgicos, uma parte deles arrendou a fábrica e, no ano seguinte, lutou até o fim para que as instalações da então Conforja, em Diadema, não fossem lacradas pela Justiça. Nascia assim a Uniforja, central composta por três cooperativas que atuam no tratamento térmico com laboratório próprio para ensaios metalúrgicos, mecânicos e de impactos; outra para a fabricação de anéis forjados sem costura e uma terceira para fabricar forjados automotivos. Passados pouco mais de 11 anos, não há, no Brasil, experiência mais bem-sucedida de trabalhadores que assumiram uma fábrica às portas da falência.

Recentemente, a Uniforja honrou todos os direitos trabalhistas aos 600 empregados da então Conforja, fato raro no país em caso de empresa que faliu. “Estamos fazendo história. A legislação não consegue fazer as empresas pagarem os trabalhadores”, ressalta o engenheiro João Luis Trofino, presidente da central.

Além dessa conquista, a cooperativa é a maior produtora de anéis, flanges e conexões de aço forjado. Seus trabalhadores recebem, em média, 30% a mais que os de outras empresas na região. E dentro do segmento de metalurgia primária, é o que mais recolhe ICMS no município, segundo a prefeitura. Não é à toa que, recentemente, durante uma plenária do Conselho Nacional de Economia Solidária, a iniciativa tenha sido mencionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva como exemplo de cooperativismo. 

“Em 10 anos, o faturamento saltou de pouco mais de R$ 1 milhão para R$ 250 milhões. E desenvolvemos tecnologia que nos permite produzir peças com o mesmo tamanho, qualidade e performance usando metade da quantidade de matéria prima”, afirma Trofino, admitido em 1995 pela Conforja já em pleno declínio. “Não peguei o tempo de auge da empresa, quando empregava mais que o dobro de trabalhadores que tem hoje. Mas comparando ao que vivenciei, garanto que a Uniforja dá de 10 a 0.”

Com 300 cooperados e 170 empregados com carteira assinada, a Uniforja fornece peças para a indústria petrolífera, petroquímica, aeroespacial, naval, sucroalcooleira, mineração, siderúrgica, ferroviária, agrícola, energia e automóveis. A história recente da forjaria pode ser comparada a um carro que deu solavancos. Só não morreu graças à ação dos cooperados – que não foi fácil, como lembra João Luis. “Embora não faltassem criatividade e força de vontade, começamos com uma mão na frente e outra atrás. Tivemos que convencer a Justiça, clientes e fornecedores, mas fizemos a lição de casa direitinho.”