Pós, inglês e alemão

Metalúrgico chegou em São Bernardo em 1977 e conta as transformações pelas quais viu a cidade passar

Ronaldo mora em São Bernardo desde 1977 e acompanhou muitas transformações pelas quais a cidade passou. Foto: Roberto Parizotti

Vindo de Blumenau (SC) Ronaldo Souza quase dormiu na rua em sua primeira noite em São Bernardo, em 1977. “Só fui encontrar pensão à noite”, lembra. Não tinha amigos nem parentes, mas veio em busca de um estágio, após concluir um curso técnico. Conseguiu vaga na Volkswagen. Recebia em torno de 1.100 cruzeiros e pagava 800 de pensão. “Não sobrava dinheiro para nada. Comia só durante a semana, na fábrica.”

A situação melhorou quando, seis meses depois, ele conseguiu uma vaga na Engenharia e foi efetivado. Casou em 1981 e teve duas filhas, que já trabalham. Passou por vários momentos difíceis na fábrica. “Lembro de várias fases, vários facões. Na época da inflação alta, tinha crianças pequenas em casa e não achava leite”, lembra. Agora, mora em um bairro nobre de São Bernardo e tem um padrão de vida que considera confortável.

E, claro, Ronaldo viu a cidade se transformar. “Mudou bastante. Antes, São Bernardo era uma cidade voltada para a indústria. Hoje, tem comércio, shoppings, restaurantes…” Lazer, antigamente, era ir à praça ou no máximo pegar um ônibus e ir ao cinema ou alguma quermesse.

Na fábrica que já teve 40 mil funcionários e hoje tem 13 mil, muita coisa mudou, a começar do perfil do operário. “Na época, eu entrei com curso técnico. Depois fiz faculdade, pós, falo inglês, alemão. Hoje, para entrar, precisa ter pelo menos mais um idioma”, observa Ronaldo, 52 anos de idade, 33 de fábrica.