Morais estuda livro sobre era Lula e tem biografias de Zé Dirceu e ACM na manga

Escritor lança reportagem sobre missão secreta cubana e já faz planos para o futuro

O escritor e jornalista Fernando Morais começa nesta semana uma maratona de lançamentos de Os Últimos Soldados da Guerra Fria (Companhia das Letras). O livro-reportagem investiga a missão secreta dos agentes da inteligência cubana que deixaram seu país no papel de desertores, entre 1990 e 1992, para se infiltrar em organizações direitistas da Flórida, Estados Unidos, patrocinadoras de ações de sabotagem e terrorismo contra a ilha governada por Fidel Castro. A missão foi descoberta pelo FBI e cinco dos agentes permanecem presos nos EUA, condenados em 2001 como espiões a penas de 15 anos a prisão perpétua.

O autor trabalhou durante três anos na investigação, reuniu documentos oficiais tanto de Cuba quanto da Justiça americana e entrevistou personagens dos dois países, inclusive mercenários confessos de praticar ações de terrorismo por US$ 1.500 a cada bomba instalada num ponto turístico de Havana.

Embora denunciadas por Fidel a Bill Clinton na ocasião da prisão dos agentes, o governo americano desprezou as provas contra as organizações anticastristas. Até o escritor Gabriel García Márquez atuou de “mensageiro”, a pedido de Fidel, para fazer denúncias chegarem a Clinton, o presidente na ocasião das prisões, em 1998.

Morais não acredita que o atual governo americano tome medidas como abrandamento de pena dos cinco cubanos, nem muito menos do bloqueio econômico imposto pelos EUA à ilha há 50 anos. Qualque medida favorável a Cuba que eventualmente Barack Obama venha a adotar pode pôr em risco sua reeleição, uma vez que os votos dos conservadores anticastristas pesam muito no estado na Flórida e na eleição como um todo. “Se fizer algo de positivo, deixará para o segundo mandato”, afirmou em entrevista exclusiva a este editor para a Revista do Brasil.

Para Morais, o bloqueio a Cuba, que afeta o comércio exterior da ilha com o mundo todo, é algo como a ditadura de uma minoria, uma vez que mais de 90% dos países integrantes das Nações Unidas já defenderam o fim do embargo.

Lula, Zé Dirceu e ACM

O primeiro de uma série de eventos de lançamento do livro será na noite de terça-feira (23), na livraria Saraiva do shopping Pátio Higienópolis. Para depois da maratona, Fernando Morais estuda escrever sobre os oito anos de governo Lula. “Estou conversando com o ex-presidente e com seus assessores para discutir o formato. Por enquanto só existe a idéia de fazer, mas ainda sem definição de como será e que cara terá”, afirmou.

O jornalista disse ainda que o projeto de produzir uma reportagem biográfica sobre a história de José Dirceu não foi arquivado, apenas suspenso temporariamente. “O trabalho foi interrompido com a cassação do mandato dele. Na minha opinião continua sendo uma grande história, que dá uma bela biografia.”

O ex-governador baiano Antônio Carlos Magalhães, uma das principais lideranças do conservadorismo político do país, até sua morte em 2007, é outro biografado por Morais. “Para o projeto ACM, estou dando um tempo. Não me preocupo com esse projeto, porque só eu tenho nove anos de gravações com ele – os últimos nove anos da vida dele – e seus célebres (e temidos) arquivos pessoais, que copiei, digitalizei e guardei”, revela.

Veja a seguir algumas imagens do arquivo pessoal organizadas pelo autor e presentes no livro Os Últimos Soldados da Guerra Fria.

Livro Morais Bush Mccain (Foto: Arquivo Pessoal/reprodução)

Livro Morais Padre Bryan (Foto: Arquivo Pessoal/reprodução)Na foto acima, os republicanos George W. Bush e John McCain são recebidos aos sorrisos por eleitores do bairro de Little Havana, reduto de cubanos anticastritas em Miami, durante o processo eleitoral de 2008, em que seriam derrotados por Obama. Votos da Flórida e dessa legião de imigrantes têm bastante apelo na eleição americana.
Ao lado, imagem do padre Bryan Walsh, um dos líderes da Operação Peter Pan, planejada pela CIA e pela Igreja Católica, e que elevou para os EUA mais de 14 mil crianças e adolescentes cubanos.
Abaixo, mercenários integrantes do grupo terrorista Alpha 66, que faziam treinamentos militares nos arredores de Miami. O grupo foi um dos observados pelos agentes cubanos, que conseguiram com suas informações impedir dezenas de ações de sabotagem contra a indústria do turismo de Cuba, a mais importante atividade do país desde o fim da União Soviética.

Livro Morais Alpha 66 (Foto: Arquivo Pessoal/reprodução)

Livro Morais Jose Basulto (Foto: Arquivo Pessoal/reprodução)

Livro Morais major Roque (Foto: Arquivo Pessoal/reprodução)O empresário da construção José Basulto, acima, liderava a organização anticastrista Hermanos al Rescate. Basulto contrataria pilotos infiltrados pela Rede Vespa.
Um deles, o major Juan Pablo Roque, na foto ao lado, com os filhos em Havana, antes da “fuga” a nado via Baía de Guantánamo. Roque se casaria em Miami e arrumaria bicos como de personal trainer.
Outro experiente piloto, René González, foi o primeiro “desertor” a dar início à Rede Vespa. Abaixo, René em dois momentos: em missão em Angola; e ao lado da mulher, Olga, e da filha, Irmita, antes de “roubar” um avião cubano e “fugir” para Miami.

Livro Morais René (Foto: Arquivo Pessoal/reprodução)