Ciência divertida

Espaços interativos que aproximam temas científicos da realidade das pessoas quebram, brincando, o velho tabu que fez de matérias clássicas um pesadelo

(Foto: Marcos Colombo/Divulgação)

Equações, fórmulas, nomes complicados e fenômenos pouco compreensíveis, ensinados na superfície plana de uma lousa, para muita gente constituem aulas indigestas, pouco produtivas e às vezes traumáticas. Esse é o risco de limitar o conhecimento científico ao universo nem sempre participativo das aulas de química, física, biologia ou matemática. Romper barreiras é um dos objetivos das instituições voltadas para a difusão das ciências clássicas que cada vez mais se proliferam no país: explorar sua grandeza oferecendo ao público seus aspectos mais lúdicos e instigantes.

“Aprendi aqui, em uma tarde, o que nunca tinha aprendido em todos os meus anos de ensino médio e faculdade”, diz Laura Mendes Menezes, 27 anos, estudante de Arquitetura. Tão entusiasmada quanto ela ficou sua filha, de 6 anos, que passou uma tarde “muito legal”, interagindo com os instrumentos da Estação Ciência, centro criado pela Universidade de São Paulo (USP) com objetivo de popularizar e promover a educação científica de forma prazerosa. A Estação, no bairro da Lapa, na zona oeste, é pioneira no país com essa proposta. Foi criada em 1987 e atende 400 mil pessoas por ano, entre grupos organizados de escolas e público avulso.

O que atrai tanta gente é a possibilidade de passar algumas horas em exposições temáticas e interagindo com instrumentos de diversas áreas: física, biologia, astronomia, matemática, entre outras. Monitores, normalmente estudantes da USP, incumbem-se de conduzir o manejo e propor experiências. O local oferece ainda um planetário e sessões de teatro e música temáticas.

Não muito longe dali, foi inaugurado no ano passado o Catavento Cultural e Educacional. As instalações ocupam os 4 mil metros quadrados do antigo Palácio das Indústrias, no Parque Dom Pedro II, no centro. Por elas, é possível ouvir o som das estrelas, tocar em um meteorito, conhecer o corpo­ humano e entender como funciona um gerador­ de energia. “É o que se chama, na educação, de ação”, explica Sueli Furlan, do Departamento de Geografia da USP.

“Todos temos a impressão de que as ciências­ são extremamente complexas, mas, por meio de experimentos simples, é possível compreender muitos dos seus processos”, diz ela, que está diretamente envolvida com o projeto da Estação Ciência. Para a pesquisadora, uma característica importante desses centros difusores de ciências é que não há a intermediação da escola entre quem aprende e quem ensina.

O conhecimento vem de onde é gerado – a universidade – diretamente para o público, o que resulta, segundo ela, numa abordagem com maior qualidade e precisão e numa exploração do conhecimento com maior fidelidade às ciências. “Enquanto na escola esse conhecimento é fragmentado, nesses espaços há uma grande diversidade concentrada com interações dinâmicas, o que permite uma imersão total nos conteúdos.”

É essa a proposta da Casa da Ciência, no Rio de Janeiro – onde há também uma preo­cupação de promover a integração entre a ciência e as artes. Palestras científicas que estimulam a imaginação, exibição de filmes que instigam debates e outros recursos de audiovisual compõem o menu da instituição – combinadas com poesia e literatura. A Casa procura ainda público nas ruas, promove eventos de natureza científica em praças, bares, ruas e escolas. Uma de suas atrações mais procuradas é um roteiro turístico, educacional e científico em cidades do estado por onde passou Charles Darwin, idealizador da Teoria da Evolução das Espécies­, em 1832.

Santo André, no ABC paulista, não fica atrás. Lá foi construído, em 2007, o Sabina – Escola Parque do Conhecimento, um dos maiores centros de ciência, arte e tecnologia do Brasil, instalado numa área de 24 mil metros quadrados. O visitante chega a levar um susto, logo na entrada, com um enorme esqueleto de dinossauro, única réplica existente na América Latina do tiranossauro rex, com quase 13 metros de comprimento, capaz de se movimentar e emitir sons – o que faz a alegria da criançada. O Sabina é voltado para o aprendizado de crianças a partir de 4 anos de idade, que se esbaldam com os 23 pinguins de Magalhães, instrumentos musicais gigantes, simuladores e mais de 60 experimentos de física. O projeto procura mostrar que imaginação, criatividade e intuição não são atributos apenas ligados à arte.

O ensino da ciência já vem há algum tempo procurando se aproximar de alunos e do grande público. Essa preocupação também está presente nas feiras de ciências, atividade já incorporada praticamente por todas as escolas do país. Há até mesmo eventos internacionais do gênero, como a Feira Brasileira de Ciência e Engenharia (Febrace), que ocorre anualmente na USP.

A maior referência nesse assunto é o professor Luiz Ferraz Neto. Leo, como é chamado, físico e mestre em Ciências Experimentais pela USP, participa frequentemente como jurado de feiras de ciências e é consultor para a promoção desse tipo de evento. “Tanto as feiras quanto esses centros difusores de ciência oferecem um elemento lúdico para que as pessoas adquiram o conhecimento necessário e possam tirar suas próprias conclusões”, diz o professor.

A proliferação dos centros de ciência interativos começaram a se expandir no país na década de 1990. Embora a maioria delas esteja concentrada nas regiões Sul e Sudeste, não faltam bons exemplos no Nordeste. É o caso do Espaço Ciência, em Olinda (PE). Instalado no Parque Memorial Arcoverde, numa área de 120 mil metros quadrados, já é referência no país e recebe cerca de 100 mil visitantes por ano. O público circula por um cenário repleto de experimentos e aparelhos: uma míni-hidrelétrica, um planetário, um gigantesco vulcão, aparelhos simuladores de terremoto – além dos laboratórios nas áreas de química, física, matemática, biologia e informática.

O Espaço Ciência também atua nas comunidades­ de baixa renda na região metropolitana­ de Recife, com cursos e atividades ligados à área. Em 2009, atendeu mais de 5 mil pessoas nessas condições e, graças a esse trabalho, muitos alunos prosseguiram os estudos e até conseguiram colocação­ profissional.

Do outro lado do país se destaca o Museu de Ciências e Tecnologia da PUC de Porto Alegre. Inaugurado em 1998, oferece ao público 750 equipamentos interativos que abordam de forma lúdica aspectos do cotidiano – incluindo um giroscópio humano e um elevador a vácuo. Neste ano, o museu explora um tema extremamente atual, a biodiversidade, com atividades e exposições temporárias, e já é considerado um ponto turístico “obrigatório­” a visitantes de todo o país.

Resgatar as ciências clássicas como temas de interesse não só de estudantes como do público em geral é uma missão mais do que necessária, tendo em vista as lacunas de aprendizado que o sistema educacional gerou nas últimas décadas, principalmente relacionadas a assuntos mais áridos e técnicos. Os centros difusores de ciência cumprem um papel exemplar ao criar, desde cedo, uma cultura de interesse pelo aspectos científicos mais fascinantes. “Mas é importante que o público, sejam crianças, sejam adultos, procure se aprofundar um pouco sobre os temas apresentados para que o programa não seja só um passeio à quermesse”, diz o professor Leo, hoje aos 71 anos, aposentado, com dedicação quase exclusiva para orientar alunos e professores a construir e ensinar ciências.

 
Programe-se para ter experiências ao vivo

Casa da Ciência. Rua Lauro Müller, 3, Botafogo, Rio de Janeiro (RJ), tel. (21) 2542-7494. De terça a sexta, das 9h às 20h, e sábados, domingos e feriados, das 10h às 20h. Grátis.
 www.casadaciencia.ufrj.br
Estação Ciência. Rua Guaicurus, 1.394, Lapa, São Paulo (SP), tel. (11) 3871-6750.
De terça a sexta, das 8h às 18h, e sábados, domingos e feriados, das 9h às 18h. R$ 4.
www.eciencia.usp.br
Espaço Ciência. Complexo de Salgadinho, Olinda (PE), tel. (81) 3301-6140. De segunda a sexta, das 8h às 12h e das 13h às 17h, e sábados e domingos, das 13h30 às 17h. Grátis.
www.espacociencia.pe.gov.br
Catavento. Palácio das Indústrias, Parque Dom Pedro II, São Paulo (SP), tel. (11) 3315-0051. De terça a domingo, das 9h às 17h. R$ 3 (meia) e R$ 6. www.cataventocultural.org.br
Sabina. Rua Juquiá, altura do nº 135, Bairro Paraíso, Santo André (SP), tel. (11) 4422-2000. De terça a sexta, das 8h30 às 17h30. Sábados, domingos e feriados, das 9h às 17h30. Grátis para alunos e professores das escolas municipais de Santo André, para menores de 5 anos e pessoas com deficiência. Demais visitantes: R$ 5 (meia) e R$ 10. http://bit.ly/sabina_santoandre
Museu de Ciências e Tecnologia da PUC/RS. Av. Ipiranga, 6.681, prédio 40, Partenon, Porto Alegre (RS), tel. (51) 3320-3521. De terça a domingo, das 9h às 17h. R$ 2 a R$ 16, conforme a atração. ww.pucrs.br/mct

Fontes: Espaços citados. Recomenda-se conferir preços e horários antes de se programar.