Coragem solidária

Dom Paulo em missa com moradores de rua (Foto: Douglas Mansur) Ao destacar Paulo Evaristo Arns, esta edição revisita a importância de sua atuação para a conquista da democracia no […]

Dom Paulo em missa com moradores de rua (Foto: Douglas Mansur)

Ao destacar Paulo Evaristo Arns, esta edição revisita a importância de sua atuação para a conquista da democracia no Brasil. Na ocasião do aniversário de 90 anos do cardeal, a Revista do Brasil, pautada por uma linha editorial laica e republicana, tem a oportunidade de celebrar um dos momentos mais importantes da história do país, em que as atitudes de lideranças religiosas extrapolaram as paredes de igrejas e templos ao direcionar sua força, sua fé e sua coragem à luta dos trabalhadores por um país livre e justo.

Tanto que um dos momentos mais emblemáticos desse episódio foi o culto ecumênico em razão da morte do jornalista Vladimir Herzog, em outubro de 1975. Conduzido pelo cardeal Arns, apoiado pelo reverendo presbiteriano Jaime Wright e com a adesão do rabino Henry Sobel, o ato foi a primeira grande manifestação coletiva contra a barbárie praticada pelos militares, ao reunir mais de 8.000 pessoas na Sé, em São Paulo. E foi uma contundente contestação à tese do suicídio alegada pelos assassinos de Herzog.

Pena que essa parcela socialmente responsável e ativista por justiça social esteja marginalizada e sufocada pelo conservadorismo clerical hoje predominante na Igreja Católica. Se naquele período os gestos de Arns eram valorizados por alguns jornais e revistas que pregavam abertura, atualmente seriam malhados pela velha mídia. Ou, no mínimo, ignorados, dado o compromisso desses veículos com objetivos econômicos e comerciais que não coincidem com os componentes de uma democracia plena. Aquela que serve aos interesses da maioria, e não aos de uma elite arrogante e anacrônica. Que assegura, ao maior número possível de pessoas, acesso às oportunidades e direito à cidadania.