Um retorno a antigamente

Enrico, da Piazza Zini: memória e massas artesanais (foto: © Mauricio Morais) Entrar desavisadamente na Piazza Zini, cantina e espaço cultural, causa o impacto de uma variação no tempo. Em […]

Enrico, da Piazza Zini: memória e massas artesanais (foto: © Mauricio Morais)

Entrar desavisadamente na Piazza Zini, cantina e espaço cultural, causa o impacto de uma variação no tempo. Em que século estamos? O aroma de massas, misturado à atmosfera de prédio antigo, prateleiras de empório, som de máquinas ao longe, pôsteres, lambretas, carros antigos… Tudo  aconchegante, cerimonioso e despojado de excessos. A imensa porta no estilo art nouveau, perto da cozinha e de um fogão a lenha enorme, aguça a curiosidade dos mais discretos.

A preservação da memória é costume vindo dos antepassados do engenheiro de alimentos Enrico Vezzani, natural de Langhirano (Parma, na Itália). Ele veio para o Brasil em 1979 e instalou a empresa Vomm, especializada em produção de máquinas. Em 1992, pôs para funcionar a indústria de alimentos Zini, na zona norte de São Paulo. Criança em Milão, Enrico acompanhava de perto o pai, que com peças recuperadas de antiquários e ferros-velhos equipava sua fábrica de macarrão. Aos 64 anos, Vezzani ainda coleciona máquinas antigas – muitas trazidas por imigrantes. Uma das preciosidades é uma Zamboni, de fazer cappelletti, dos anos 1920.

E assim a Piazza Zini (Rua Francisco Rodrigues Nunes, 131, bairro do Limão, na capital paulista) virou um museu de objetos  italianos. O velho Fiat Múltipla 1958, do pai, está em restauração e prestes a funcionar. Há nos armários documentos importantes, como uma carta de Giuseppe Garibaldi, um dos líderes da Revolução Farroupilha e da unificação da Itália. Com seus hábitos, Vezzani procura estimular outras empresas a dar atenção à preservação histórica. 

As suas fábricas são abastecidas com água de reúso. Uma antiga cisterna na Vomm armazena água da chuva. Serve à rega dos jardins e às descargas. O sentimento é ecológico e o resultado é uma boa economia. “Ambientalismo não pode se basear numa cena bucólica, romântica, esvaziada. Precisa dar resultados”, ensina o engenheiro. Nas outras áreas ligadas à alimentação e à higiene, bebedouros, torneiras e chuveiros, a água é potável e tratada. O fogão leva lenha de madeira reciclada. Tudo feito ali fica mais saboroso. O sorvete, integral, também é produzido lá mesmo na Zini. Além de saudáveis, os pratos são acessíveis. “Não se pode fazer elitismo com os alimentos”, diz Vezzani.