A face de uma nova vida

Próteses de partes do rosto esculpidas por especialistas do Instituto Brånemark, a maioria gratuitamente, representam esperança de nova vida para centenas de pacientes

José Salve Serra recebe novo rosto (foto: © Olicio Pelosi)

O rosto de José Salve Serra, de 78 anos, renasce ano após ano pelas mãos do coordenador da Reabilitação Protética Craniofacial do Instituto Brånemark, Marcelo Ferraz de Oliveira. Protesista bucomaxilofacial – um misto de artesão e cirurgião-dentista –, Oliveira dá forma à face de José, que luta contra os efeitos de um câncer de pele descoberto em 1962. O instituto, em Bauru, a 330 quilômetros da capital paulista, atende pacientes de todo o Brasil em busca de tratamentos de reabilitação facial, a maioria gratuitamente.

Orelhas, olhos, nariz e palato (céu da boca) são esculpidos pela equipe de protesistas da instituição, fundada pelo sueco Per-Ingvar Brånemark (lê-se Bronemark). “Grande parte dos nossos pacientes são oncológicos, pessoas que tiveram tumor cuja remoção cirúrgica acaba comprometendo uma área na face que precisa ser restaurada. Também há casos de má-formação congênita. E ainda em decorrência de acidentes”, descreve a coordenadora do instituto, Ingrida Ginters.

Pacientes como José Salve ganham qualidade de vida e recobram a autoestima com implantes osseointegrados de titânio e próteses faciais. Morador de Cambé (PR), José teve de retirar o olho esquerdo e o nariz e já sofreu algumas recaídas. Há quatro anos foi submetido à operação que retirou um tumor e usa prótese há três. Quando criança, ele se expunha em demasia ao sol, no trabalho na roça, sem protetor solar, como quase todos de sua geração. “Pessoas de pele branca que passam ou passaram por grande exposição ao sol, sem proteção, podem ter o problema, diz Oliveira. “A doença é cumulativa. Você toma sol durante 20, 30 anos, depois começa a aparecer.” Graças à prótese, hoje José trabalha 12 horas por dia em sua loja de conserto de eletrônicos e eletromésticos e leva a vida com naturalidade. Antes do tratamento, para ele se sentir melhor ao sair de casa, usava um tapa-olho, que também cobria o nariz, feito pela sobrinha.

Na década de 1960, Brånemark descobriu que o osso pode se integrar a componentes de titânio. Suas pesquisas revolucionaram a medicina e a odontologia. Próteses de dedos, mãos, braços, pés e pernas podem ser implantados no corpo humano graças ao método do médico e pesquisador. Todo o processo de osseointegração e criação das próteses ocorre no próprio instituto, que é coirmão de entidade similar em Gotemburgo, na Suécia, ambos coordenados pelo pesquisador de 82 anos, um declarado apaixonado pelo Brasil. Os médicos fazem os implantes de titânio e esculpem partes do rosto a partir de gesso, silicone e tintas, entre outros materiais.

Conviver com os olhares

Ingrida conta que há pacientes que passaram até 20 anos sem uma prótese. “Imagine sair na rua todo esse tempo com uma gaze ou um curativo. Você vai a um restaurante e muita gente olha, até que chega alguém e pergunta o que aconteceu com seu rosto. Algumas pessoas enfrentam, outras entram em depressão profunda e acabam não saindo mais de casa.” A gerente Maria Cláudia de Alencar Faria, da Diretoria Adjunta de Reabilitação da Fundação Oncocentro de São Paulo (Fosp), na capital paulista, ressalta que toda lesão no rosto é mais do que um problema médico: “É difícil porque, quando o problema é no rosto, a pessoa perde a identidade”.

A prótese facial devolveu a José Salve a alegria da convivência. “Vixe, nossa senhora! É outra etapa agora. Outra vida”, comemora. Ele ainda guarda o tampão antigo e mostra como vivia antes. “É chato, né?” Sua única dificuldade é jogar futebol. “Eu gostava de uma bola, mas não posso mais, por causa do sol”, brinca o atleta quase octogenário. A consulta médica parece encontro de velhos amigos. “O doutor é meu irmão, meu pai, meu amigo”, afirma. Marcelo Oliveira, por sua vez, revela que cada paciente é um “amigo” pelo resto da vida. O especialista chama a atenção para o charme do paciente. “Lá em Cambé, o senhor começou a causar, eu sei”, ri o cirurgião. José responde filosofando sobre o casamento de 55 anos e a arte da paciência para a vida a dois. Falam de futebol e riem com os “baixos salários” dos jogadores. “Eles ganham pouco, por isso anda mal a seleção”, ironiza José.

Durante a consulta, Oliveira percebe uma recidiva e pede ao paciente que retorne ao dermatologista, para analisar o problema. No dia seguinte, José já sai do consultório com sua nova prótese. O especialista explica que a peça dura por volta de um ano, pois perde a cor no dia a dia pela exposição ao sol, e cada vez que surge um tumor o protesista recomeça o processo. Faz um novo molde do rosto, que dá forma à prótese substituta.

Ademar Walter Cobianchi, de 63 anos, teve adenocarcinoma de glândula lacrimal (câncer no fundo do olho) há 16 anos. Depois da operação de retirada do olho direito, o problema foi erradicado e ele passou a usar prótese. Mas, até conseguir uma, o aposentado de Ribeirão Preto (SP) conviveu por 13 anos com curativos: “Sem a prótese era desagradável, você anda na rua e todo mundo fica olhando”. A vida, atualmente, segue “normal”. Após o atendimento odontológico, o cirurgião Oliveira passa a tarde preparando a nova prótese e, no dia seguinte, Ademar sai com o rosto bem cuidado.

Para o aposentado José Maria de Matos, de 61 anos, a prótese do nariz o move a viajar 650 quilômetros, de Carmo do Paranaíba­ (MG) a Bauru. Ele também sofreu com câncer de pele pela exposição ao sol sem proteção. Quando descobriu o tumor, em 2003, José Maria parou de trabalhar e de sair de casa. “A retirada do nariz complicou muito a vida social”, conta. A retomada do cotidiano veio com o tratamento. O paciente recebeu uma nova prótese do instituto, mas o molde ainda é antigo. Na próxima consulta vai “posar” para um novo.

Revolução
Per-Ingvar Brånemark revolucionou a área médica e odontológica quando, na década de 1960, descobriu a osseointegração – o que teria ocorrido por acaso, em pesquisas sobre a microcirculação sanguínea em tíbias de coelhos – ao notar que o osso do animal e o titânio da câmara de observação se integravam. Não havia rejeição. Na odontologia, o processo deu novo direcionamento à confecção de dentaduras e pode até auxiliar na criação do homem biônico, vaticina Oliveira: “Muitos membros já são passíveis de substituição”. Antigamente, o tipo de prótese disponível, no caso de pacientes desdentados com grande reabsorção óssea, era a dentadura, que hoje pode ser substituída por implantes de titânio.
Aos 82 anos, Brånemark vive e trabalha na Suécia. Em maio deste ano, recebeu o Prêmio Inventor Europeu pelo conjunto de suas pesquisas. Além dos dois centros de referência mundial, o de Bauru e o de Gotemburgo, ambos sustentados por doações da Suécia, há nove centros de osseointegração particulares, em todo o mundo, que levam a chancela do médico. No Brasil, há um em São Paulo (SP) e um em Goiânia (GO). “Cabe nos dedos das mãos quem atende essa área”, calcula a diretora do Oncocentro, Maria Cláudia de Alencar Faria. Saiba onde encontrar atendimento gratuito de reabilitação facial no site da Rede Brasil Atual.

Saiba onde encontrar atendimento gratuito de reabilitação facial: 

Serviço de Odontologia do Hospital das Clínicas da UNICAMP – Campinas

Ambulatório odonto prótese buco 

Realiza a reabilitação facial protética dos pacientes com deformações congênitas ou adquiridas. Possui um protocolo de atendimento com as especialidades : Otorrino-Cabeça e Pescoço, Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Radioterapia. Atende às segundas, terças, quartas-feiras pela manhã, e quintas-feiras o dia todo.

Agendamento de consultas 

O agendamento da primeira consulta no Serviço de Odontologia do HC UNICAMP deve ser feito nas Unidades básicas de Saúde das cidades pertencentes a Delegacia Regional de Saúde (DRS) VII, via Central de Vagas, obedecidos os critérios do Manual de Referência e Contrarreferência. Ou se o paciente estiver em tratamento em outras especialidades no hospital o mesmo pode ser agendado pessoalmente com o pedido do médico responsável.

Cidades atendidas pela Delegacia Regional de Saúde VII – Águas de Lindoia, Americana, Amparo, Artur Nogueira, Atibaia, Bom Jesus dos Perdões, Bragança Paulista, Cabreúva, Campinas, Campo Limpo Paulista, Cosmópolis, Holambra, Hortolândia, Indaiatuba, Itatiba, Itupeva, Jaguariúna, Jarinu, Joanópolis, Jundiaí, Lindoia, Louveira, Monte Alegre do Sul, Monte Mor, Morungaba, Nazaré Paulista, Nova Odessa, Paulínia, Pedra Bela, Pedreira, Pinhalzinho, Piracaia, Santa Bárbara D’oeste, Santo Antônio da Posse, Serra Negra, Socorro, Sumaré, Tuiuti, Valinhos, Vargem, Várzea Paulista, Vinhedo 

Contato:

O Serviço de Odontologia HC/UNICAMP está localizado no 3º andar do Hospital de Clínicas, ao final da faixa amarela, e realiza atendimento aos pacientes SUS de segunda à sexta-feira, das 7h30 às 17h00.

Hospital de Clínicas (19) 3521-7553 /3521-7545, Horário: das 7:30 às 17:30 horas, e-mail: [email protected]

 

FOSP – Fundação Oncocentro de São Paulo 

Realiza a reabilitação protética de pacientes sequelados de câncer de cabeça e pescoço.

Contato:

Página na internet: www.fosp.saude.sp.gov.br – e-mail: [email protected]

Rua Oscar Freire, 2396 – Pinheiros – São Paulo – CEP 05409-012 – Telefone (11) 3797-1800/1870 

 

Fundação Amaral Carvalho – Jaú

O departamento de Prótese Bucomaxilofacial, existe na Fundação Amaral Carvalho (FAC) há mais de 10 anos. Se constitui de dois dentistas e um protético. Todos especializados em próteses. Responsável pelo setor: Dr. Cassiano Alves Ferreira Neto

O paciente realiza os exames no Hospital Amaral Carvalho (por meio de encaminhamento dos postos de saúde). Quando diagnosticado com câncer, realiza o tratamento e cirurgia na instituição. Se necessário o implante de próteses e reabilitação facial, o próprio médico encaminha o paciente para o setor de Bucomaxilofacial.

Após uma avaliação para saber se o paciente já pode receber a prótese, entra em cena o Serviço Social da FAC, que determina se o paciente tem condições de pagar pelo serviço.

A prioridade de atendimento é para pacientes carentes que fazem tratamento oncológico pelo SUS, pois há um limite de próteses que podem ser feitas pelo setor.

Este limite é determinado pelo Fundo do Amaral Carvalho. As pessoas que eventualmente não tem condições de fazer durante o ano, normalmente são engajadas para o próximo ano para fazer a prótese. Atualmente o encaminhamento é interno e ainda não estão sendo feitas próteses por convênios particulares. 

Contato:

Rua Dona Silvéria, 150 – CEP: 17210-000 – Jaú, SP

Fone: (14) 3602-1200

 

Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC) – Centrinho – USP – Bauru

No campus de Bauru da Universidade de São Paulo (USP), o Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC), também conhecido como Centrinho-USP, confecciona próteses extraorais de olhos, nariz e orelha. No Hospital, essas próteses são indicadas conforme avaliações de uma equipe multidisciplinar a pessoas com deformidades craniofaciais congênitas associadas a síndromes. Os serviços prestados pelo Centrinho-USP são 100% via Sistema Único de Saúde (SUS), sem custo direto ao paciente. 

Contato:

O agendamento de casos novos na área de anomalias craniofaciais pode ser feito diretamente na Central de Agendamento do Hospital.

Rua Sílvio Marchione, 3-20, Vila Universitária, Bauru-SP, das 8h às 18h.

Telefone (14) 3235-8132 ou ainda pelo e-mail [email protected]

 

Hospital de Câncer de Barretos

O serviço de próteses faciais é oferecido aos pacientes em tratamento no Hospital de Câncer de Barretos.

Rua Antenor Duarte Villela n°, 1331 – Barretos, 14780-000 – (17) 3321-6600