Trabalho, diversão e história

Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco, é muito mais que sua movimentação portuária. A natureza e a história do Brasil deixaram boas marcas por lá

A Região Metropolitana do Recife tem um complexo industrial forte e uma movimentada zona portuária. Essa atmosfera de centro urbano economicamente agitado alcança Cabo de Santo Agostinho, vizinha ao sul da capital pernambucana, onde se estão a zona portuária de Suape e um dos maiores canteiros de obras do Nordeste. 

Praias com areias brancas, águas cristalinas e mornas, brisa constante e belas paisagens estão há poucos minutos da muvuca de Recife (Foto: Jesus Carlos/Imagemglobal)

Se algum desavisado deparar apenas com esse cenário, não poderá imaginar que a cidade é também rica em privilégios naturais. Praias com areias brancas, águas cristalinas e mornas, brisa constante e belas paisagens, com temperatura média de 30 graus, estão há poucos minutos da muvuca. O município, com ocupações a partir do século 16, tem também grande concentração de vestígios históricos.

Cabo de Santo Agostinho fica a 37 quilômetros de Recife. Além de acolher obras do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), tem recebido investimentos municipais e estaduais na infraestrutura turística da cidade, com vistas a reordenar o comércio informal, qualificar os profissionais que atuam nas faixas de praia e melhorar os serviços, inclusive de saneamento.

Praia de Gaibu (Foto:Jesus Carlos/Imagemglobal)

A área é repleta de reservas ecológicas, manguezais e algumas das mais belas do Brasil: Paiva, Pedra de Xaréu, Enseada dos Corais (antiga praia do Boto), Itapuama, Gaibu, Calhetas, Paraíso (antiga praia da Preguiça) e Suape, cada uma com as suas peculiaridades, de piscinas naturais formadas por arrecifes a vegetação de Mata Atlântica, passando por “paredes” de conqueiros. Itapuruna, por exemplo, é procurada pelo banho de lama. Num lugarejo formado por dois pequenos lagos, as areias compostas por caulim, um tipo de argila branca, geralmente utilizada na fabricação de porcelanas e papel, prometem propriedades medicinais.

Mas qualquer que seja a praia, em uma coisa todas concorrem: a diversidade do cardápio. “São poucas as cidades brasileiras com uma culinária tão diversificada, sobretudo quando se fala em frutos do mar”, diz Arthur Santana, dono de um restaurante que funciona há 32 anos na praia de Calhetas. “A culinária desse pedacinho do paraíso é nota dez”, garante.

O sabor do litoral pernambucano passa pela moqueca de peixe ao molho de camarão, a caranguejada, a aratuzada, com legumes e temperos verdes e secos, e a moqueca de polvo. E como digestivo, outra especialidade dos cabenses são os licores, com destaque para o de jenipapo.

E particularmente para quem está por lá no mês de dezembro, Dora Perez, dona da pousada Vale da Lua, sugere uma ouriçada. Não é um prato facilmente encontrado e poucos restaurantes oferecem. “É preparado quando acontece a festa em homenagem à Santa Luzia, também conhecida na região como Festa da Ouriçada, que anima nativos e veranistas. O prato é preparado pelos pescadores, à beira mar, com amigos e familiares”, conta Dora.

Foto:Jesus Carlos/Imagemglobal)

Passado distante

Os cabenses dizem que a chegada dos navegadores ao Brasil é anterior a 22 de abril de 1500, data oficial do descobrimento. Antes da esquadra de Cabral avistar a Bahia, o espanhol Vicente Pinzón teria pisado, em 26 de janeiro daquele ano, as areias do Cabo. Versões à parte, a cidade tem outras particularidades enriquecidas de história. E muito lugares a conhecer.

Por exemplo, o Parque Metropolitano Armando de Holanda Cavalcanti, reserva ecológica de 270 hectares, situado em um dos pontos extremos da costa brasileira, representa o ponto da suposta ruptura entre a África e a América do Sul.

Ruína do antigo farol e casa do faroleiro (Foto:Jesus Carlos/Imagemglobal)

Na Vila de Nazaré encontram-se a Igreja de Nossa Senhora de Nazaré e as ruínas do antigo Convento Carmelita. A primeira, no ponto mais alto da cidade, é resultado de várias fases de construção, entre o final do século 16 e o século 19. E o convento foi erguido pelos portugueses entre o final do século 17 e o início do 18 – ambos tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Ainda em Nazaré estão a antiga Casa do Faroleiro, as ruínas do Forte Castelo do Mar (de 1631) e do quartel militar, edificado para dar suporte ao forte, e o farol ainda em atividade.

Nas imediações da praia de Itapuama o visitante poderá conhecer a Capela de São Gonçalo do Amarante, do século 17. Da mesma época é a Igreja de São José do Paiva, pequeno santuário rodeado de coqueiros, às margens da praia do Paiva. Mais à frente estão as ruínas do Forte São Francisco Xavier, construção de 1630, no limite de Gaibu e Calhetas.

No centro da cidade o casario guarda antigos prédios e igrejas, como de Santo Antônio, construída em 1622, de Santo Amaro, de Nossa Senhora do Livramento e a antiga Capela do Rosário dos Pretos. O roteiro pode ser concluído com uma visita ao Engenho Massangana, próximo à rodovia PE-60. Ali morou, durante a infância, o abolicionista pernambucano Joaquim Nabuco, também adido diplomático e embaixador do Brasil nos Estados unidos (Washington) e na Inglaterra (Londres). O prédio do engenho foi adaptado e transformado em museu, onde se encontra parte do acervo e da memória do ilustre morador.

 

Para ficar

Para comer

  • Casa da Dora, Sítio Vale da Lua, Calhetas
  • Bar e Restaurante do Artur, Calhetas
  • Pituzada do Alfredão, Rodovia PE-60
  • Santo Gosto Comedoria, Centro