retrato

A arte feita de terra

Rodrigo Zanotto “Já viajei, fui a São Paulo, conheci o mar. Sempre quis voltar.” A frase cheia do orgulho sorrateiro de ser caboclo, mesclada a uma certa nostalgia, é de […]

Rodrigo Zanotto

“Já viajei, fui a São Paulo, conheci o mar. Sempre quis voltar.” A frase cheia do orgulho sorrateiro de ser caboclo, mesclada a uma certa nostalgia, é de Severino Pereira dos Santos, o Mestre Severino. Junto aos irmãos, filhos e netos, ele faz perpetuar gerações de artesãos-ceramistas descendentes de Mestre Vitalino, consagrado no Brasil e além-mares por sua arte de fazer bonecos em barro.

Mestre Vitalino, nascido em Caruaru (PE), filho de pai agricultor e de mãe artesã, moldou suas primeiras figurinhas em massapê, de brincadeira, ainda criança, misturando-as junto à cerâmica utilitária produzida por ela com a terra argilosa do Rio Ipojuca para “queimar” no forno da família. Começou vendendo-as na famosa feira da cidade. Hoje tem obras expostas até mesmo no imponente museu do Louvre, em Paris.

Pois é ali no bairro do Alto do Moura, em Caruaru, no museu – a mesma choupana de taipa que lhes servira outrora de moradia – e na rua que levam o nome do pai, que Mestre Severino costuma dar seus dedos de prosa. Fala, manso e vivaz, enquanto modela um boiadeiro entre os dedos, do prazer que tem em ver os vizinhos e a prole seguindo com essa tradição, vivendo a transformar terra em arte.