viagem

A grande batalha do forró

A partir de 1º de junho serão 30 dias de festa. Ou 700 horas de forró. Quem está em Campina Grande (PB) jura que ali se faz o maior São João do mundo. Mas Caruaru (PE) desafia: ali é que é a capital nacional do forró. Nesse repente, não importa quem vence. O que importa são as armas: forró no café, no almoço e na janta e 24 horas por dia de manifestações de cultura brasileira

divulgação

Festa em Campina Grande

O maior do mundo

Na paraibana Campina Grande, estão programadas 480 atrações e aproximadamente 300 quadrilhas juninas. O título de “Maior São João do Mundo” deve-se aos 42 mil metros quadrados reservados para um público esperado de 1,5 milhão de pessoas. O São João de Campina Grande a cada ano atrai mais gente do Brasil e do mundo. A 25ª edição da festa ocorrerá entre os dias 1º de junho e 1º de julho. O projeto São João nos Bairros ajuda a descentralizar o evento e faz com que não apenas o Parque do Povo, onde é montada a estrutura principal, seja palco da folia dedicada ao principal santo do mês. Durante o mês é possível ouvir acordes da sanfona em toda Campina Grande. O forró ultrapassa os limites geográficos da cidade e invade também os distritos de Galante (para onde viaja o Trem do Forró, com um animado percurso de uma hora e meia) e São José da Mata.

A edição deste ano homenageia o sanfoneiro paraibano Sivuca, morto em dezembro do ano passado. O músico, conhecido internacionalmente, terá um espaço especial para sua obra. Sua mulher, a cantora Glorinha Gadelha, estará entre as atrações. Também confirmaram participação Elba Ramalho, Fagner, Alcimar Monteiro, Três do Nordeste, Santana, Dominguinhos, Zé Ramalho, Flávio José, Genival Lacerda, as bandas Calcinha Preta e Cavaleiros do Forró.

A cenografia do Parque do Povo é um espetáculo à parte. No “quartel general do forró”, réplicas arquitetônicas das décadas de 50 e 60 convidam o visitante para uma verdadeira viagem ao tempo do povo matuto do sertão nordestino. A padronização das barracas, em estilo rústico, ajuda na composição da imagem visual da festa. A fogueira central deverá atingir 20 metros de altura. O palco principal será projetado com características do antigo Palhoção, que deu origem ao “Maior São João do Mundo”. As apresentações de quadrilhas e grupos folclóricos serão realizadas na Pirâmide do Parque do Povo.

A réplica da Vila Nova da Rainha ajuda o visitante a conhecer um pouco mais da origem de Campina Grande. As ruas, servidas por lojas de artesanato e barracas com comidas típicas, reproduzem o cenário de nascimento da segunda cidade mais importante da Paraíba. Outra réplica que comporá a temática histórica é a do Cassino Eldorado, que entre as décadas de 30 e 50 foi palco das grandes atrações nacionais que se apresentavam no estado. O prédio do cassino ainda existe na Rua Manuel Pereira de Araújo, na Feira Central.

A temporada mexe com a cidade. A economia cresce 50% e, de acordo com a organização do evento, pelo menos 10 mil empregos são gerados. No ano passado, a Prefeitura de Campina Grande apurou que na última semana de maio 80% da capacidade dos hotéis da cidade estava reservada e 70% se confirmou. Para nenhum visitante ficar na mão, a cidade faz o cadastramento prévio de casas, pensões e apartamentos. A cada ano que passa o São João de Campina Grande ganha destaque mundial e se consolida como o maior evento do gênero. Participar dessa festa vai fazer qualquer pessoa conhecer mais da cultura do povo nordestino e ter a real noção do quanto o mês de junho é importante para a cultura e o incremento da economia da região.

A capital do forró

Durante o mês de junho Caruaru se transforma num imenso arraial. Para honrar o título de “Capital do Forró”, a cidade promove 30 dias de festa para todo lado. E não apenas para os caruaruenses, mas para cerca de 1,5 milhão de visitantes durante a temporada. A cidade tem também um dos artesanatos mais ricos do país. Assim, entre um forrozinho e outro, é possível apreciar as obras de Mestre Vitalino nos museus e ainda levar para casa réplicas perfeitas de seus famosos bonecos de barro, direto da Feira de Caruaru.

O Parque de Eventos Luiz Gonzaga, principal foco de animação, tem mais de 40 mil metros quadrados e capacidade para receber cerca de 100 mil pessoas. Uma centena de atrações regionais e nacionais passa pelos dois palcos lá montados. E ninguém pode tocar nada que não seja xote, baião, enfim, forró. O parque tem um museu dedicado à cantora Elba Ramalho, que quase todos os anos é presença garantida na programação junina, e outro voltado à importância da cerâmica para a vida da comunidade.

De volta ao arrasta-pé, barracas e restaurantes garantem a reposição da energia para o público. As festas avançam pela madrugada e a folia do dia anterior emenda com a do dia seguinte. É preciso estar alimentado e hidratado para agüentar.

De manhã, o Alto do Moura é o palco. Na vila, a sete quilômetros do centro da cidade, nasceu e viveu Mestre Vitalino, artesão mais famoso de Caruaru. Além dos vários ateliês dos discípulos do mestre, o Alto do Moura tem muita música e um concorrido bode assado. É bom chegar cedo, porque depois das 11 horas é difícil encontrar uma casa que ainda tenha mesas livres.

Na volta ao centro, escolha uma das “drilhas” estilizadas e irreverentes que arrastam uma multidão pelas ruas da cidade. Tem Sapadrilha (mulheres vestidas de homem), Gaydrilha (homens vestido de mulher) e Trokadrilha (homens vestidos de mulher e mulheres vestidas de homem). Ou fique na sua, o importante é a diversão.

Em um evento grandioso como o São João de Caruaru, os pratos típicos da festa também viraram uma atração gigante. No centro, 3 mil espigas de milho são caprichosamente transformadas numa pamonha de 220 quilos. Na Vila das Peladas, na zona rural da cidade, uma mesa de 30 metros serve 1 tonelada de canjica. Se achou pouco, tente imaginar as 2 toneladas do pé-de-moleque que a dona Maria do Bolo promete oferecer no dia 10 de junho, na festa dos moradores da Cohab III. Tudo sempre rodeado pela trilha sonora e a coreografia da capital do forró.

Em Caruaru, as bandas de forró do momento dividem os espaços com as bandinhas de pífano e com os trios de forró pé-de-serra. E a festa literalmente pega fogo quando chegam os bacamarteiros, atiradores de espingarda boca-de-sino que se reúnem sob o comando de um chefe e se distribuem em batalhões para se apresentar durante o São João. A brincadeira é uma herança da Guerra do Paraguai.

O São João de Caruaru é conhecido pela autenticidade e pela espontaneidade do povo. Se por acaso bater uma vontade de conferir tudo de perto, é preciso correr. Os hotéis começam a fazer reservas para o período desde o final do ano.

Crescimento e tradição
Campina Grande está para João Pessoa (via BR-104) como Caruaru está para o Recife (via BR-232). São aproximadamente 130 quilômetros, uma hora e meia de viagem por via terrestre, partindo das respectivas capitais. As principais companhias aéreas oferecem mais opções de vôos diretos em junho. As duas cidades, em pleno agreste, têm altas taxas de crescimento, forte atuação industrial e estão perto de virar regiões metropolitanas. Campina Grande sai na dianteira pelo título de “Maior São João do Mundo”, no Guiness Book, mas dizem que por poucos metros quadrados. Em 2007, Caruaru é estimulada também pelas festas de seus 150 anos. Informações: www.campinagrande.pb.gov.br e www.caruaru.pe.gov.br