Carta ao Leitor

A maleta e os intocáveis

Wilson Dias/ABr A despeito das boas notícias, é impossível deixar de lembrar: Dantas continua livre, leve e solto A lista de notícias positivas para os brasileiros cresce dia a dia. […]

Wilson Dias/ABr

A despeito das boas notícias, é impossível deixar de lembrar: Dantas continua livre, leve e solto

A lista de notícias positivas para os brasileiros cresce dia a dia. As melhores são os crescimentos recordes do PIB e da ocupação com carteira assinada. Junto vem a descoberta de bom e abundante petróleo no litoral brasileiro. A redução da pobreza continua, ainda em pequenos passos, mas jornais internacionais exageram que o Brasil tem hoje só classe média. A inflação desacelera. A grave crise dos bancos americanos, e seus reflexos nos mercados globais, afetam pouco o país. Até os acordos salariais continuam sendo fechados com aumentos reais, motivados pela necessidade de retenção da mão-de-obra, já que, apesar da excessiva rotatividade que ainda impera, boa parte dela decorre da quantidade de demissões a pedido do trabalhador, que migra para empregos melhores. Uma pesquisa em vários países apontou que a juventude brasileira é hoje mais esperançosa. Essa euforia elevou a popularidade do presidente Lula, o que alavanca candidaturas aliadas. Entretanto, a luta pelo crescimento econômico não pode inebriar a construção de uma sociedade melhor, com uma partilha mais justa dos dividendos econômicos.

O Brasil ainda vive dificuldades e ostenta algumas vergonhas. O crescimento econômico não vem acompanhado da preservação ambiental, as cidades tornam-se infernais com engarrafamentos e poluição. É preciso travar a disputa pelo compromisso de direcionamento para a educação dos recursos financeiros do petróleo. E também com os rentistas ainda encastelados no Banco Central. Continua sem resposta a pergunta formulada em matéria da edição anterior sobre o destino de Daniel Dantas, investigado pela Polícia Federal nas operações Chacal e Satiagraha. “O Al Capone do século passado não foi preso por matar inimigos, comprar juízes, policiais e jornalistas, mas por sonegar impostos. Resta saber por quais brechas a Justiça chegará a esse Al Capone do século 21”, questionava-se. Com tantos crimes, Capone não esperava a brecha dos impostos, estratégia que tornou famoso o grupo dos policiais intocáveis, que não estavam na lista de propinas do mafioso. Aqui, o intocável ainda é Daniel Dantas.

Nota – Esta edição é identificada na capa como de outubro. Os mais atentos notarão que “pulamos” setembro. Na verdade, o fechamento do presente exemplar foi prolongado não em um mês, mas em dez dias em relação aos anteriores. O objetivo é adequar a circulação à distribuição em bancas, sem prejuízo aos sócios dos sindicatos que já recebem seus exemplares há 28 edições. Para compensar o “atraso” estratégico, a edição cresceu proporcionalmente em conteúdo.

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