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Acolhedora Montevidéu

Cidade pouco conhecida pelos brasileiros surpreende pela arquitetura, história, boa comida e bons vinhos, além da simpatia dos uruguaios

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Capital uruguaia, “Suíça brasileira” no século 19

As surpresas para o viajante desavisado começam desde a chegada. Do aeroporto de Carrasco até o centro, onde está a maioria dos hotéis, passa-se por quilômetros de praias do Rio da Prata. É possível mirar o horizonte e caminhar pelas Ramblas, espécie de “avenida beira-mar” com calçadão que circunda praticamente toda a cidade e, nos dias de calor, é tomada pela população até a madrugada.

julesrimetOs uruguaios gostam de falar de política, futebol e conhecem bem o Brasil. Quando o visitante se identifica como brasileiro sempre vem um sorriso no canto da boca. Começam a falar de futebol e, óbvio, da final da Copa do Mundo de 1950, por eles eternizada no museu do Estádio Centenário como a partida do século. São três paredes com a reprodução dos gols e uma réplica do Taça Jules Rimet. Antes de começar qualquer discussão sobre futebol, é bom saber que eles se consideram tetracampeões, pois contam também a vitória em duas Olimpíadas – 1924 e 1928 –, além das Copas de 1930 e 1950.

Na passagem do século 19 para o 20, o Uruguai era considerado a “Suíça” da América, com alto grau de desenvolvimento e riqueza, principalmente por conta da exportação de carne e lã, além de ser um importante centro financeiro. Marcas do passado próspero podem ser vistas em praticamente toda a Ciudad Vieja. O antigo centro histórico guarda tesouros arquitetônicos como o Teatro Solís, o Palácio Salvo e o Mercado do Porto. Além de cafés e restaurantes muito bons.

O teatro, inaugurado em 1856, foi a primeira grande casa de espetáculos da América do Sul. A construção, iniciada em 1842, resistiu à Guerra Civil (1838 a 1851) entre blancos e colorados.

Apesar de concebido para óperas, na programação atual – que pode ser consultada antecipadamente pelo site do teatro (www.teatrosolis.org.uy) – há espetáculos de dança, peças teatrais e concertos.

Em 25 de agosto estreia O Barbeiro de Sevilha, de Rossini. O nome da casa homenageia o espanhol descobridor do Rio da Prata, Juan Díaz de Solís.

Outra construção imponente é o Palácio Salvo, no coração da Ciudad Vieja, na Praça Independência, onde ficam a antiga porta da cidade (o que restou da fortificação que protegia Montevidéu das invasões) e a estátua de Artigas, o herói nacional. O palácio é um edifício residencial inaugurado em 1928 – então considerado o mais alto da América do Sul – e tem um estilo eclético, com materiais nobres como mármores de Carrara e granitos da Alemanha. Na década de 1960, a família que o construiu vendeu-o para um condomínio de proprietários.

No centro histórico, não se pode deixar de conhecer também o Mercado del Puerto e suas lojas, cafés e restaurantes. É um bom lugar para uma parrillada (churrasco feito sobre uma grelha com brasa de lenha), com a qualidade excepcional da carne uruguaia, ou uma picada de frios. E ouvir músicas como o candombe (ritmo afro-uruguaio), o tango e as folclóricas.

O bar Roldo’s, que existe desde 1886 no mercado, com filial em Punta del Leste, oferece uma bebida típica, o medio y medio, mistura de vinho chardonnay e espumante de produção própria. Por toda a cidade é possível encontrar outras bebidas com o mesmo nome, mas só a do Roldo’s é a original – dizem, com certo exagero, que sua fórmula é tão guardada quanto a da Coca-Cola.

RENATO LUIZ FERREIRA/AEbar
Bar no Mercado Municipal

O mercado, pelo menos na parte interna, funciona das 10h às 18h. No lado de fora há restaurantes que abrem em outros horários, mas não é bom andar à noite na região do porto, onde está localizado, que fica vazia e sujeita a pequenos furtos.

Montevidéu tem boa comida e vinhos por preços bem razoáveis em cada esquina. Um prato à base de carne ou o chivito – sanduíche com filé bovino, ovo, bacon, presunto, queijo, alface e tomate, entre outras variações – custam de 200 a 300 pesos (R$ 20 a R$ 30), para duas pessoas. Há também opções de massas e peixes bastante acessíveis. Existem lugares bons e modestos em que uma paella, com muitos frutos do mar, uma garrafa de vinho uruguaio, água e café saem por 500 pesos (cerca de R$ 50).

Os vinhos, sem muita tradição e fama até há pouco tempo, hoje estão na moda. São três ou quatro bons fabricantes, que podem ser encontrados em praticamente todos os bares e restaurantes.

Destaque para os da uva tannat, espécie francesa que se adaptou muito bem ao sul da América. Há os tannat puros ou com cortes de outras uvas, como shiraz ou merlot, além de uvas tradicionais, como a cabernet sauvignon. Como é relativamente barato, dá para experimentar a cada dia uma nova garrafa – por R$ 20 a R$ 30 nos restaurantes ou em torno de R$ 15 nos supermercados. Outra possibilidade é visitar as fincas, onde são plantadas as uvas, que ficam de uma a duas horas de Montevidéu, na própria cidade ou na vizinha intendência de Canelones.

Há ainda maravilhosos doces de leite e sorvetes nos cafés, em barraquinhas ou nos supermercados. A sobremesa típica do país é o flan com dulce de leche, espécie de fatia de pudim de leite condensado com o doce em volta. Recomenda-se deixar a dieta para antes ou depois da viagem, porque ali os sabores e tentações colocarão à prova o mais estoico dos viajantes.

E, para quem gosta de jogar, os cassinos são liberados em todo o país, a qualquer hora do dia. Os uruguaios dizem que, por serem estatais, os cassinos do país são os únicos no mundo que dão prejuízo. Mas convém duvidar, e não apostar quantias que possam fazer falta ao longo da viagem. Os cassinos também são concedidos à iniciativa privada e podem ser encontrados nos luxuosos hotéis de Punta del Leste, balneário a cerca de uma hora e meia da capital, para quem tem mais platas para gastar.

Em direção contrária, também a menos de duas horas de carro, há o passeio mais cultural, para a Colonia del Sacramento. A cidade histórica foi fundada em 1680 por portugueses e está na lista dos patrimônios da humanidade. Fica no local de onde saem as barcas para Buenos Aires e em cada esquina do bairro histórico há vários estilos arquitetônicos. É possível passar um dia visitando atrações com a Calle de los Suspiros, a Casa do Vice-Rei, o Museu Municipal e a Igreja Matriz, a mais antiga do país.

SEM PASSAPORTE
À noite as ruas ficam praticamente vazias. Há opções para ouvir música e dançar em Pocitos, na parte mais nova da cidade, ou fazer compras em shoppings como o Punta Carretas, mas não é um destino para quem busca baladas ou compras. O voo de cerca de duas horas, partindo de São Paulo, fora de temporada, sai por cerca de R$ 800. Em hotéis como os da rede Íbis a diária para casal custa em torno de R$ 50, mas é interessante negociar antecipadamente pacotes em hotéis mais antigos e charmosos próximos do centro. Não é necessário passaporte, basta a carteira de identidade, em bom estado. Em praticamente todos os cantos aceitam-se pagamentos em real ou em dólar.

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