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O Brasil na Copa de 2006: caídos sem show

O título acima, com 13 letras, é para lembrar que a sorte nem sempre acompanha quem despreza o talento, a arte e a eficiência do trabalho em equipe

Alex Grimm/REUTERS
Alex Grimm/REUTERS

A goleada brasileira foi um prêmio ao futebol-espetáculo dos brasileiros. A defesa esteve impecavelmente protegida por Emerson e Zé Roberto. Kaká, Robinho e Ronaldinho Gaúcho deram um banho de habilidade e juventude; se movimentavam tanto que não davam chance para a marcação adversária.

Cicinho, pela direita, e Gilberto, pela esquerda, apoiaram o ataque como há muito tempo não se via na seleção. E Adriano foi implacável nas finalizações. O Brasil deu show na Alemanha e alcançou um resultado histórico: pela primeira vez, faturou um título em cima da Argentina em solo europeu.

A final de Copa descrita no parágrafo não é delírio: realmente aconteceu. Em 29 de junho de 2005, o Brasil venceu a Argentina por 4 a 1 – com gols de Adriano (2), Ronaldinho e Kaká –, conquistou a Copa das Confederações e o favoritismo absoluto para chegar ao hexa, na mesma Alemanha. Na ocasião, o time não tinha Cafu, Roberto Carlos e Ronaldo.

“A conquista da Copa das Confederações e a goleada sobre a desfalcada Argentina nessa competição foram uma ilusão. O mundo achou que o Brasil tinha uma seleção maravilhosa, que ganharia fácil o Mundial”, escreveu Tostão, em sua coluna veiculada em vários jornais do país, no dia em que o Brasil perdeu da França e deu adeus ao mundial mais cedo do que todos esperavam.

“Parreira é o responsável pela escalação do time e pelo esquema tático, mas não é o único culpado. Ele cometeu vários erros, principalmente o de não dar condições para que as estrelas do time jogassem como nos seus clubes”, escreveu o craque.

A eliminação da seleção poderia valer um “bem feito!” aos jogadores, torcedores e à imprensa babona, sobretudo a que monopolizou as transmissões e reportagens nos bastidores da seleção, que exageraram na festa sem nenhum espírito crítico.

Um oba-oba que durou do primeiro dia da temporada de diversões em Weggis, na Suíça, até as 16h de 1º de julho – quando a seleção dos burocratas apáticos começou a sucumbir, sem volta, ao talento francês.

Pena que, do lado de cá, o festival de falhas causou tristeza em muita gente inocente. E fúria, também, naquela fatia dos torcedores que sabia que, com um pouquinho mais de trabalho sério – para o bem do futebol – o resultado poderia ser sido outro.

Como toda regra tem sua exceção, veja nestas páginas uma seleção de frases que compõem, um retrato fiel do ambiente antes, durante e depois da derrota.

As frases que contam um pouco do que foi a copa de 2006

Antes
Tranqüilidade inquietante
“Perguntei ao Tostão, que esteve na Suíça, se as perspectivas da seleção eram boas. São boas demais, respondeu o Tostão. O problema é a falta de problemas… Precisa-se de uma crise, com urgência, na seleção, qualquer coisa maior do que uma bolha… Na entrevista de ontem, Parreira disse que tem dormido bem. Só o fato de estar dormindo bem já deveria tirar o sono do Parreira.”
Luís Fernando Verissimo, 2/6/2006, uma semana antes da abertura da Copa

Bom demais
“Depois do treino de ontem Ronaldinho e Rogério Ceni ficaram vendo quem acertava o travessão de fora da área mais vezes. Quase não erraram. Tudo está bom demais!”
Idem

Durante
O que é show
“Em Copa do Mundo, show de bola é ganhar!”
Carlos Alberto Parreira, técnico da seleção brasileira, em 21/6/2006, rebatendo as críticas de que o futebol do Brasil não era convincente, após as vitórias sobre Croácia e Austrália

Maus presságios
“Para mim, o melhor brasileiro do primeiro tempo foi Lúcio, o que é mau sinal. Se continuarmos assim, serão os últimos 45 minutos da seleção na Alemanha.”
José Roberto Torero, cronista, em 1º/7/2006, no intervalo do jogo Brasil x França, com o placar ainda em 0 x 0

Depois
Despreparado
“É um momento muito difícil, duro, quando a seleção é eliminada nas quartas-de-final, para o qual eu não me preparei e ninguém da delegação estava preparado.”
Carlos Alberto Parreira, em 2/7/2006

De Einstein para Parreira
“Insanidade é fazer sempre a mesma coisa várias e várias vezes esperando obter um resultado diferente.”
Lembrado por Juca Kfouri, 3/7/2006

Bota feio nisso
“Quis o destino – ah, o destino prega muitas peças – que nesta Copa de 2006, sob a batuta dos mesmos Parreira e Zagallo, o Brasil perdesse jogando feio… e bota feio nisso… É por isso que, aqui do meu cantinho, modestamente, prefiro jogar bonito. A gente perde, como perdeu em 82, mas fica aquele orgulhosinho interior de ter apresentado um futebol decente, que agradou a platéia e até hoje é lembrado. E de quem perde jogando feio como agora? Que lembrança teremos?”
Fernando Calazans, 3/7/2006, em O Globo

Era Dunga
“Da derrota para a França, ficará para a história do futebol a atuação de Zinedine Zidane, seu jogo bonito, clássico, eficiente, elegante. Ficarão seus dois lençóis memoráveis, não como exibicionismo, mas como solução de jogada… Ficará a arte de jogar bem… Ah, que bela lição deu a França de Zidane à Era Dunga dos técnicos, jogadores, torcedores e dos jornalistas.”
Idem