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Cenas de uma bela dupla

Em O Signo da Cidade, Carlos Alberto Riccelli e Bruna Lombardi celebram um encontro que deu certo na arte como na vida

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Em 1978 a TV Tupi exibia a telenovela Aritana. Bruna Lombardi, em seu segundo trabalho na televisão, era a veterinária Estela. Carlos Alberto Riccelli, mais experiente, vivia o personagem-título. Os dois se conheceram e se apaixonaram durante as gravações, no Xingu. “Foi uma experiência extraordinariamente marcante conviver com os índios. É um dos lugares mais lindos do mundo, onde tudo contribui para uma relação”, lembra Bruna. De lá para cá já são 30 anos de união na vida e na profissão, que este ano culminou com o lançamento do filme O Signo da Cidade, dirigido por Riccelli, escrito e estrelado por Bruna e com participação do filho do casal, Kim. A história gira em torno da astróloga Teca (Bruna Lombardi), que em seu programa de rádio noturno lida com seus próprios problemas e dos amigos e ouvintes.

“Um está sempre aberto para o que o outro fala, o que é essencial entre um diretor e seu roteirista. Claro, nos conhecemos profundamente. Um olhar basta. Mas separamos completamente o lado pessoal, familiar, do profissional, apesar de que trabalho e vida são a mesma coisa (risos)”, avalia Riccelli. Com relação à vida pessoal, Bruna Lombardi é direta: “Não buscamos muita exposição e aparecemos apenas na hora do lançamento de um trabalho. Nossa idéia é ter sempre uma vida bem particular, privada, quieta, simples e discreta”.

Engenheiro de formação, Carlos Alberto Riccelli iniciou a carreira num grupo amador de teatro e estudou na Escola de Arte Dramática da USP. Atuou em 10 filmes e 13 trabalhos na televisão, entre novelas e minisséries. Estreou no cinema, em 1970, numa adaptação de A Moreninha, clássico de Joaquim Manuel de Macedo, dirigida por Glauco Mirko Laurelli. A partir daí, alternou atuações em adaptações literárias e personagens mais populares. Como a minissérie Riacho Doce (1990), baseada no romance de José Lins do Rego, ou os filmes Eles Não Usam Black-Tie (1981), baseado na peça de Gianfrancesco Guarnieri, Ele, O Boto (1987), inspirado na lenda amazônica, e o caminhoneiro de Jorge, um Brasileiro (1988), adaptação do livro de Oswaldo França Júnior.

“Sempre fui fascinado pela literatura e pelo Brasil. Eu me encanto com a nossa diversidade e com a possibilidade de ser outro. Então sou um cara de classe média que fez muitos tipos populares, e sempre faço questão de viver com eles. Quando interpretei o Jorge, viajei muito, fui um caminhoneiro de fato”, avalia Riccelli, que faz 62 anos em junho.

O contato com a literatura brasileira também marca a carreira de Bruna Lombardi. Aos 55 anos, ela já participou de seis filmes no cinema e apareceu em 13 produções da televisão, como nas minisséries Grande Sertão: Veredas (1985), adaptação do clássico de Guimarães Rosa, e Memórias de um Gigolô (1986), baseada no romance de Marcos Rey. “Para mim, mergulhar no universo do Guimarães Rosa, que eu já tinha lido, foi uma experiência enriquecedora, tanto que escrevi um livro a respeito, Diário do Grande Sertão, relatando essa viagem interior e exterior que me modificou física e espiritualmente”, conta Bruna, autora de outros dois romances e três livros de poesia.

Na televisão, Riccelli destaca seu papel na novela Vale Tudo (1988), na pele do inescrupuloso César Ribeiro. “O tema, o elenco, a música foram perfeitos para a época. Eu nem digo que hoje a gente esteja melhor, mas naquele momento eu, como espectador, que geralmente não gosto muito de novela, fiz com imenso prazer porque via nela essa crítica tão feroz”, garante. Não foi a situação do país que levou o casal para Los Angeles no início da década de 1990. “Foi apenas uma vontade de morar noutro lugar. O mundo é grande e as possibilidades são imensas”, esclarece Riccelli. “Fui basicamente para estudar roteiro. Essa era a minha intenção: buscar aprendizado, crescimento e expansão. Tinha ido para Los Angeles antes e achei que a cidade era muito interessante. Teve um tempo que ficamos mais distantes do Brasil, porque queríamos mergulhar bem nessa experiência”, acrescenta Bruna.

“Foi difícil, chegamos lá absolutamente desconhecidos e com poucos amigos. É como começar uma vida nova. Durante muito tempo fizemos o Gente de Expressão (programa de entrevistas na TV Bandeirantes que durou cerca de dez anos), produção independente minha e da Bruna, num momento em que existiam muito poucos projetos desse tipo no Brasil”, lembra Riccelli, que dirigia as captações das imagens do programa nos Estados Unidos.

Seu envolvimento com produção cinematográfica aconteceu quase por acaso. Convidado para atuar em A Melhor Vingança (The Best Revange, 1996), de James Becket, resolveu assumir o posto de co-produtor quando faltaram recursos. A estréia como diretor foi em 2005, com SOS – Stress, Orgasm and Salvation, já com roteiro de Bruna Lombardi. “Dirigir foi natural para mim, porque adoro ficar no set vendo meus colegas trabalhar. No primeiro filme eu não sabia se conseguiria, e de repente estava lá com uma equipe enorme e precisava ser o maestro daquela grande orquestra”, conta Riccelli. “Ele é ótimo diretor, mantém um set muito envolvido, com pessoas amorosas e calmas, não tenciona nem estressa”, finaliza Bruna.