Editorial

Desarmar as bombas

ricardo stuckert/pr Lula e o presidente do Irã: a elite brasileira perdeu a medida do respeito e do entreguismo O acordo costurado por Lula entre Irã e Turquia, sobre o […]

ricardo stuckert/pr

Lula e o presidente do Irã: a elite brasileira perdeu a medida do respeito e do entreguismo

O acordo costurado por Lula entre Irã e Turquia, sobre o fornecimento de combustível nuclear, alinhou a mídia brasileira aos objetivos do Departamento de Estado norte-americano, chefiado por Hillary Clinton: na medida do possível, desqualificar e desacreditar o acordo; e, se contra os fatos faltarem argumentos, desinformar e confundir. Para sepultar o noticiário, leia-se o editorial de Mino Carta na revista Carta Capital nº 597, citando Raymundo Faoro: “A elite brasileira é entreguista”, resume. “Em país nenhum do mundo democrático um presidente disposto a buscar o caminho da paz não contaria, ao menos, com o respeito da mídia.”

Mas tão importante como a discussão da energia nuclear e seu uso bélico é o desarmamento de uma outra bomba: a farra dos fluxos de capitais e a nuvem da especulação que paira sobre o planeta. A propósito, ao passar por Madri, Lula cobrou das nações ricas o fim dos paraísos fiscais – repetindo o alerta feito no ano passado, em plena Suíça. Uma voz o acompanha, a do francês Nicolas Sarkozy, que em reunião do G-20, em Londres, afirmou que depois da crise de 2008 a “era do sigilo bancário acabou”.

O presidente do BC alemão, ao abordar os efeitos da ajuda à Grécia, apontou para o caminho da regulamentação do fluxo de capitais e para o fim das operações “a descoberto”, transações que só o sistema bancário conhece. No Brasil, somente quando a corda da crise de 2008 arrebentou descobriu-se um pouco do potencial destruidor da indústria dos “derivativos”, operações em dólar entre instituições financeiras alheias ao controle de autoridades. No Uruguai, tido como paraíso fiscal onde se abrigam U$ 3,8 bilhões estrangeiros, o governo enviou projeto de lei que facilita a quebra do sigilo. Nos Estados Unidos, o Congresso deve concluir em julho a votação dos projetos que aumentam a regulação do sistema.

Ameaçadora como a radioatividade, a combinação de paraísos fiscais (onde se hospedam lado a lado fortunas de magnatas, corporações e do crime organizado) com a libertinagem dos capitais forma um pavio curto, detonador de crises e falências, de pessoas, empresas e países. As consequências: ano sim, outro também, Estados nacionais são “obrigados” a estender a bancos e empresas uma mão que poderia permitir a reconstrução de alguns Haitis, ou proteger 1,5 bilhão de habitantes do mundo vulneráveis às artilharias da fome, da sede e da miséria.