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Minha anfitriã é uma cobra

O Instituto Butantan tem ciência, educação e diversão para quem mora ou visita São Paulo

Paulo Pepe

Estudantes em visita ao museu do Butantan observam a periquitambóia. Abaixo a rã macaco

Quem espera um passeio cheio de emoção e perigo, como nos documentários em que corajosos apresentadores capturam e manipulam as mais venenosas serpentes do mundo, pode esquecer. No Instituto Butantan ciência e educação são as grandes atrações. Mas o passeio não tem nada de monótono. É possível ficar cara a cara com algumas das mais venenosas cobras, como a cascavel e a naja, ou com as mais perigosas, como a sucuri. Há escorpiões, aranhas e outros animais tão exóticos quanto assustadores, separados dos visitantes por paredes de vidro. O serpentário – a céu aberto, imperdível – é dividido em três fossas diferentes. Numa ficam as várias espécies de jararacas. Na segunda, jibóias e sucuris. Na terceira, onde é mais fácil avistar os animais, as cascavéis.

O Butantan tem três museus. O Microbiológico leva o visitante a uma viagem pelo mundo da ciência. Em três ambientes, mostra o funcionamento de um moderno laboratório explicando a atuação dos cientistas do instituto. Por meio de simulações computadorizadas, o visitante acompanha o desenvolvimento das doenças infecciosas no organismo humano e a ação das vacinas. O Museu Histórico conta como começaram os trabalhos científicos no instituto, a partir do que sobrou do primeiro laboratório utilizado por Vital Brazil.

Risco X Saúde

O Instituto Butantan é referência na pesquisa e produção de soros antiveneno. Desde meados do século passado são desenvolvidos os mais avançados antídotos contra o veneno das mais perigosas serpentes do Brasil. O problema está na maneira de conseguir o veneno que vai combater o próprio veneno. O processo é manual e bastante perigoso. Acidentes acontecem, embora não sejam freqüentes. O último foi no ano passado, um técnico do laboratório foi mordido por uma cascavel. Resultado: três dias de internação no Hospital Vital Brazil.

Mas o veneno das cobras também salva quem jamais foi picado. Foi no Butantan que uma das enzimas do veneno da Jararaca Dormideira (Bothrops Jararaca, serpente comum do norte do Rio Grande do Sul até o sul da Bahia) foi isolada e transformada num dos mais poderosos remédios contra a hipertensão arterial. No laboratório de biotecnologia do instituto, pela primeira vez na América Latina, cientistas conseguiram com sucesso realizar a técnica de DNA recombinante. O resultado é a produção de mais de cinqüenta milhões de doses por ano de vacina contra a Hepatite B, consumidas em todo o hemisfério sul. O Instituto produz ainda vacinas como a tríplice (contra tétano, difteria e coqueluche), antitetânica, BCG e raiva.

cobra da agua

Mas é o Museu Biológico a grande atração. São mais de 50 espécies de répteis e artrópodes, entre serpentes e aranhas venenosas. A coleção é a mais completa do país e possuiu espécimes perigosos de cascavel, jararaca e uma naja asiática, aquela que dança com o som das flautas. Há também peixes nos dois aquários do museu. Destaque para o lion fish, que virou moda entre fãs de aquarismo, mas é muito venenoso e pode causar acidentes fatais.

“A ênfase do museu é na educação”, diz o diretor do museu, o biólogo Giuseppe Puorto. Há também uma sala de áudio-visual, onde os visitantes assistem a um filme que mostra as cobras desde o habitat natural até a coleta de veneno para produzir soro nos laboratórios do instituto. Entre as “estrelas” que ficam expostas no museu, estão pitons e sucuris de quase quatro metros de comprimento, além da periquitambóia – uma espécie de jibóia, de dois metros de comprimento que é o xodó do diretor do museu. Ela chama a atenção por ser dócil, ativa e pelas cores: verde e amarelo brilhantes, que lembram um periquito.

No imenso gramado, ao lado dos viveiros onde são criados macacos que eram utilizados nas pesquisas, a garotada pode gastar, correndo e brincando, toda a energia que sobrou depois de visitar os museus e o serpentário. Além disso, passear no Butantan pode ser uma espécie de antídoto para quando as crianças voltarem para casa – ficarão tranqüilas, quase que anestesiadas, depois de um dia bastante divertido.

Serviço
Onde: Av. Vital Brazil, 1.500, Butantã, zona oeste de São Paulo
Horário: terça a domingo, das 9h às 16h30
Preços: R$ 5 e R$ 2 (estudantes) Crianças até 7 anos, pessoas com deficiência e maiores de 60 anos têm entrada gratuita. Aula monitorada, R$ 10 por aluno
Informações: (11) 3726-7222; www.butantan.gov.br; [email protected]